México
No México, um exército de crianças combate um cartel de droga
Quem caminha pelas ruas de cimento e terra batida da aldeia mexicana de Ayahualtempa, no distrito de Guerrero, não pode ignorar a presença das crianças armadas que as patrulham. Não é um cenário comum, mesmo num país como o México, que registou, em 2019, um número recorde de homicídios: 34 582.
Ayahualtempa vive sob o cerco do cartel de droga Los Andillos, que exige a todos os agricultores que plantem, nos seus terrenos, a flor do ópio (a base da produção de heroína) para os extorquir. Como forma de resistência, a aldeia criou uma milícia, a CRAC-PF, que tenta — nem sempre de forma eficaz — proteger os habitantes. As autoridades mexicanas não conseguiram, até à data, colocar termo ao conflito, por isso os locais decidiram adoptar medidas drásticas.
Até à data, nenhum dos menores disparou a sua arma por motivos de segurança ou auto-defesa, indica a Reuters. Há mesmo quem suspeite que tudo não passe de uma encenação para os média. A notícia fez manchete em quase todos os meios de comunicação mexicanos — o que serviu os interesses dos habitantes de Ayahualtempa, que há anos tentavam chamar a atenção do Governo para o problema.
O quotidiano da aldeia é marcado por episódios de violência extrema. Em Janeiro, dez músicos de Ayahualtempa foram assassinados simplesmente por avançarem sobre território não guardado pela CRAC-PF. Há cerca de um ano, o pai de Abuner Martinez, de 16 anos, foi sequestrado, torturado e decapitado pelo cartel Los Andillos. Abuner, à semelhança de outras crianças da aldeia, tem medo de frequentar a escola, que fica fora de área protegida pela milícia local. "A partir dessa altura, fiquei com medo", diz à Reuters, empunhando uma caçadeira num dos postos de vigia da aldeia.