Mutilação genital feminina ameaça quatro milhões de jovens

No Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde dizem que há milhões de raparigas em risco.

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Olivier Asselin/Unicef

Quatro milhões de meninas estão em risco de sofrer mutilação genital, uma prática com graves “consequências físicas, psicológicas e sociais de longo prazo”, alertam as Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). O número de crianças em risco pode ultrapassar os 60 milhões até 2030.

No Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, que se assinala esta quinta-feira, 6 de Fevereiro, o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), a Unicef, a ONU Mulheres e OMS denunciaram que 200 milhões de mulheres ainda sofrem com o trauma do procedimento. As organizações reforçaram “o compromisso da comunidade internacional para os objectivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030” de pôr fim a estes “actos de violência” contra mulheres e raparigas.

Segundo a Unicef, o apoio das populações à mutilação genital feminina (MGF) “tem vindo a diminuir”. “As raparigas adolescentes entre os 15 e os 19 anos, em países onde a mutilação genital feminina é predominante, são menos favoráveis à continuação desta prática do que mulheres entre os 45 e os 49 anos.” No entanto, o crescimento da população jovem nesses países pode fazer com que “cerca de 68 milhões” de raparigas estejam em risco até 2030 – um “aumento significativo”.

As quatro organizações juntam-se num apelo ao “papel fundamental” das gerações mais novas como parceiros na “elaboração e implementação de planos de acção nacionais”. Os jovens devem também contribuir para que as várias populações reconheçam a mutilação genital “como uma forma de violência contra mulheres e raparigas”, liderando “campanhas comunitárias que desafiem normas e mitos, e que tenham homens e rapazes como aliados”.

A erradicação da mutilação genital feminina não pode ser feita sem “uma forte liderança e compromisso políticos”. Por isso, as instituições das Nações Unidas vão apresentar a campanha Geração Igualdade, uma acção para “estimular” mais investimento e mais resultados para a igualdade de género.

Custos e danos para a saúde

A Organização Mundial da Saúde alertou também para os custos da MGF na saúde física e mental das mulheres e meninas, mas também dos recursos económicos dos países. “A MGF não é apenas um abuso catastrófico dos direitos humanos que prejudica significativamente a saúde física e mental de milhões de meninas e mulheres. É também um esgotamento dos recursos económicos vitais de um país”, afirmou.

A OMS revelou que os custos totais do tratamento dos impactos da mutilação genital feminina na saúde ascenderiam a 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) por ano, a nível mundial. Individualmente, esta prática custa em média cerca de 10% do total das suas despesas anuais com a saúde e, em alguns países, a percentagem atinge os 30%.

Se esta prática fosse abandonada agora, a poupança associada em custos de saúde seria superior a 60% até 2050, diz a OMS, com base em dados de 27 países de alta prevalência da prática.

Além dos custos económicos, a mutilação genital feminina representa vários riscos para as mulheres e meninas sujeitas a este procedimento, seja imediatamente após o corte — como infecções, hemorragias ou traumas psicológicos — ou a nível crónico, através de problemas que podem ocorrer ao longo da vida.

As mulheres sujeitas à mutilação genital têm mais probabilidades de risco de vida durante o parto, além de poderem vir a sofrer de distúrbios ao nível da saúde mental. Devido a este procedimento, estas mulheres e meninas ficam em risco de ter dores ou problemas quando menstruam, urinam ou têm relações sexuais.