Derrota de Salvini nas regionais dá novo fôlego ao Governo de centro-esquerda

O candidato da Liga perdeu na região de Emilia-Romagna por quase oito pontos de diferença. Em caso de vitória, a pressão para a queda do Governo seria imensa.

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O líder da Liga esperava um resultado mais equilibrado Reuters/FLAVIO LO SCALZO

A direita de Matteo Salvini não conseguiu pôr fim a décadas de governação de esquerda na região de Emilia-Romagna, no Norte de Itália, numas eleições que deixaram o frágil Governo do país a respirar de alívio.

Salvini fez uma campanha agressiva na região italiana nas últimas semanas, na tentativa de garantir uma vitória inédita para a sua Liga nas eleições regionais de domingo. Pelo simbolismo, uma vitória em Emilia-Romagna poderia levar à queda da frágil coligação de centro-esquerda que apoia o Governo central, que inclui o Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas.

“A maioria sai das eleições regionais mais forte”, disse o líder do Partido Democrático, Nicola Zingaretti, acrescentando que Salvini “falhou na sua tentativa de correr com o Governo”.

Com 99% dos votos contados, o governador do Partido Democrático, Stefano Bonaccini, venceu com 51,4% contra 43,7% do candidato da Liga.

As sondagens apontavam para uma eleição renhida, e o resultado final de quase oito pontos de diferença é uma pesada derrota para Matteo Salvini, que prometeu entregar ao Governo uma “ordem de despejo” se o seu candidato ganhasse.

O Governo não tinha qualquer obrigação de se demitir se Salvini vencesse as regionais em Emilia-Romagna, mas depois de oito vitórias consecutivas da Liga em eleições regionais, a tensão em Roma seria enorme.

“Não me sinto derrotado. Podemos vencer e podemos perder, mas se perder fico feliz na mesma e trabalharei o dobro”, disse Salvini na noite de domingo, quando ainda se esperava um resultado mais equilibrado.

Ainda assim, a Liga obteve uma grande vitória numa outra eleição no domingo, na região empobrecida da Calabria, no Sul do país.

"Vitória clara e linda"

Mas o prémio principal das eleições de domingo era mesmo a região de Emilia-Romagna, uma das mais ricas de Itália e casa da Ferrari, e que é um bastião da esquerda há várias gerações.

“Emilia-Romagna enviou um sinal. Salvini sabe falar dos problemas, mas não sabe como resolvê-los e o povo falou”, disse Zingaretti.

O antigo primeiro-ministro Matteo Renzi, que agora lidera um pequeno partido centrista (o Italia Viva) na coligação do Governo central, elogiou a “clara e linda” vitória de Bonaccini.

E a vitória foi ainda mais significativa pelo facto de a afluência às urnas ter crescido muito em relação a 2014 – mais 30 pontos, para 68%.

O Partido Democrático escapou ao desastre político, mas o Movimento 5 Estrelas, seu parceiro no Governo, teve apenas 3,5% dos votos em Emilia-Romagna e 7% na Calabria.

O partido anti-sistema foi o mais votado nas eleições gerais de 2018, com 33%, mas tem sofrido uma perda de apoiantes nos últimos meses que levou à saída de vários responsáveis, incluindo o seu líder, Luigi Di Maio.

O líder interino, Vito Crimi, disse esta segunda-feira que o 5 Estrelas tem de manter-se unido para continuar a apoiar o Governo central.

Os analistas políticos previram que os resultados de domingo enfraqueceriam a posição do Movimento 5 Estrelas na coligação, e dariam ao Partido Democrático mais poder para aplicar as suas propostas.

“O Governo vai continuar a batalhar para mostrar resultados. O Movimento 5 Estrelas vai estar dividido internamente, pelo menos até ao congresso, em Março”, disse à Reuters o analista Wolfango Piccoli.

As “sardinhas"

Salvini abandonou o Governo de coligação com o 5 Estrelas em Agosto do ano passado, esperando provocar eleições antecipadas numa altura em que as sondagens apontavam para a sua vitória.

Em vez disso, o 5 Estrelas juntou-se ao Partido Democrático e juntos atiraram Salvini para a oposição. Depois disso, Salvini concentrou os seus esforços em obter vitórias numa série de eleições regionais – numa nova tentativa de enfraquecer o Governo ao ponto de provocar a sua queda.

A vitória de Bonaccini, no domingo, foi ajudada por um movimento popular que surgiu durante a campanha, que ficou conhecido como as “sardinhas” por causa das praças cheias de gente nas suas manifestações anti-Salvini.

O movimento das “sardinhas” estava destinado a desaparecer se Salvini tivesse ganho, mas agora os analistas esperam que ganhe consistência na área do centro-esquerda.

A campanha anti-imigração e anti-europeia de Salvini foram bem recebidas, bem como a sua promessa de cortar impostos. Mas o governador Bonaccini tinha uma das mais altas taxas de aprovação no país, e a sua estratégia de se focar apenas nos problemas da sua região foi fundamental para a vitória.