A Audiencia Nacional, o tribunal espanhol que investiga os crimes mais graves de corrupção, tem a marca de joalharia Tous debaixo de olho. O organismo está a investigar por que vende a empresa peças de ouro e prata com material não metálico no seu interior, tendo chamado os administradores da marca catalã, que se apresentaram na quarta-feira numa audiência, bem como responsáveis do laboratório Applus+ Laboratories, que certifica a qualidade do trabalho da Tous.

Entretanto, a associação de joalheiros espanhola já veio a público defender a marca e a prática, dizendo que a lei espanhola permite o fabrico de objectos de metais preciosos com interior que não seja metálico e que a tecnologia usada é “comum, normal e usual no sector”. Mas a Guardia Civil não concorda e diz que a Tous está a violar a lei ao comercializar as ditas peças.

Segundo o El País, o tribunal acusa a empresa centenária — a Tous celebra este ano o 100.º aniversário — de fraude e publicidade enganosa. As peças — a mais popular é a imagem de marca da Tous, um ursinho — têm peso e uma aparência sólida, mas o seu interior não é de ouro ou prata, mas de um material não metálico. A denúncia é da Consujoya, uma associação de consumidores de jóias. A Guardia Civil argumenta que a empresa produz assim as peças para reduzir custos. No entanto, vende-as como sendo totalmente de metal precioso, em ouro de 18 e 24 quilates e em prata de lei.

O director-geral da Tous, José María Bosch, ouvido em tribunal, reconhece que as peças de prata na forma do urso são preenchidas com um material semelhante ao metacrilato, um composto orgânico, mas garante que é uma técnica permitida por lei. Versão corroborada pela Associação Espanhola de Joalheiros e Relojoeiros que diz que esta é uma prática comum — a técnica chama-se electroforming e permite dar corpo e volume à peça. A organização diz ainda que a mesma é permitida por lei.

Contudo, a Guardia Civil diz que sim, que esta técnica pode ser usada para preencher peças úteis, como jarras, castiçais ou outras, mas não peças de joalharia, sobretudo quando são vendidas como “prata de lei”. 

Quanto ao laboratório que certifica as peças da marca catalã, as autoridades consideram que o mesmo deveria ter detectado a presença de material não metálico e, por isso, não certificar. As autoridades acreditam que a empresa e o laboratório estão em conluio.

No final da audiência, relata o El País, a Tous emitiu um comunicado onde dizia que estava satisfeita com o resultado da mesma. A marca de Barcelona tem mais de 700 lojas espalhadas pelo mundo. Por cá são cerca de três dezenas em nome próprio, além de as peças da Tous serem encontradas em joalharias.