Alimentarmo-nos é uma das acções que espelha os nossos processos pessoais de escolha, os nossos mecanismos mentais de selecção. Um processo natural, quase automatizado e, muitas vezes, pouco premeditado. Escolher o que queremos para nos alimentar é uma possibilidade de exercitar a nossa criatividade, resiliência e liberdade.
Como são preenchidas as prateleiras da despensa, o frigorífico e a mesa? Escolhemos o que temos ou temos o que escolhemos? Quais os critérios de selecção do pedido, após a leitura da carta de um restaurante ou café? Como decidimos o que cozinhar ou o que encomendamos para chegar pronto a casa? Seguimos uma receita ou criamos o receituário com os ingredientes que temos disponíveis?
Podemos estar condicionados pela situação económica, pelo tempo para planear, comprar ou cozinhar (ou pela falta dele). Podemos não ser os responsáveis por gerir a cozinha, ter algum problema de saúde ou não estar habituados a certos alimentos e gostar imenso apenas de um número limitado. Podemos, e temos certamente, muitas limitações externas. Além disso, apetites fortes (ou falta deles), desejos alimentares, sensação de fome, insatisfação, reticências em provar e em desconstruir preconceitos alimentares são alguns dos condicionamentos internos que podem aprisionar a nossa alimentação.
Exercitar a liberdade pessoal e fazê-la crescer, mesmo com todas as influências (externas e internas) é, precisamente, entrar no processo de felicidade. Trabalhar de forma resiliente o nosso processo de selecção alimentar, de modo criativo, reinventando espaços pessoais de escolha e procurando o sentido de cada decisão, é caminharmos pelo sabor da liberdade. Saborear a liberdade que é comer o que escolhemos, de entre aquilo que temos à disposição. Ser resiliente, mantendo propósitos e decisões alimentares com sentido. E reinventar criativamente as combinações e os menus, as porções e as selecções na carta, deixando nutrir a liberdade pessoal.
A alimentação abre-nos espaços. Um espaço em que podemos pôr em prática os processos criativos e flexíveis, quer sejam mais ou menos naturais, ou treinados. E um espaço de exercitação da própria liberdade em relação ao que, aparentemente, a possa condicionar. Superando o desafio, protegemo-la e fazemo-la nutrir a nossa felicidade.