Lisboa Capital Verde Europeia
A Lisboa Capital Verde Europeia interpela a liberdade individual de todos e de cada um à clarificação da responsabilidade da condição de pessoa livre, de saber evoluir e colaborar.
Parabéns Lisboa pela designação como Capital Verde Europeia. Esta inspiradora lufada de ar vanguardista mobilizou a comunidade para a década de 20 numa cerimónia elevada com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, que a todos nos interpela e desafia a estar à altura de uma transformação que sendo económica e tecnológica é principalmente cultural e social. E que constitui um exemplo perene da política lusa na mobilização dos cidadãos para um caminhar no mundo alinhados com o que é necessário para dignificar a humanidade, o ambiente, a comunidade, a pessoa, apelando ao melhor de todos e de cada um. Mostrando que é possível, e que não é fantasia como pretendem os negacionistas da emergência climática como Trump, Bolsonaro e outros. O enfrentar das alterações climáticas é reconhecidamente uma emergência da humanidade e uma fonte de risco, incluindo para a estabilidade financeira. Devido a isto surgiu à escala global uma mobilização das sociedades no intuito de acelerar uma trajetória de evolução sustentável, de que são exemplos emblemáticos o Acordo de Paris e a transição para um desenvolvimento com baixas emissões de gases com efeito de estufa e resiliente às alterações climáticas de que o European Green Deal é um passo de liderança mundial da UE. Esta transição é tarefa de toda a sociedade, cabendo ao sistema financeiro, em especial ao bancário, o que pode ser descrito como um papel de charneira. Isto é porque como salientou a ONU, o capital alocado hoje modelará os ecossistemas e os padrões de produção e consumo de amanhã. Na síntese feliz da Comissão Europeia, Green Finance consiste na ligação entre o financiamento e as necessidades específicas da economia europeia e mundial, em benefício do planeta e da nossa sociedade. Neste sentido procura-se fomentar a integração das considerações ambientais e sociais na tomada de decisões de financiamento, em prol de um maior investimento em atividades sustentáveis e de longo prazo. Outro setor vital é o dos transportes, revestindo por isso elevado simbolismo a decisão do Governo de estabelecer que a partir de 1 de Fevereiro os ministros só circularão na área metropolitana com viaturas eléctricas.
Por tudo isto Lisboa Capital Verde Europeia é uma oportunidade de mobilização da sociedade portuguesa em torno da transição para uma economia mais verde, sustentável e inclusiva baseada na articulação das partes interessadas, em especial na promoção da sustentabilidade ambiental, económica e social, cujas particularidades importa compreender em particular no que respeita aos riscos inerentes ao clima e seu impacto na reputação e na criação de valor. Assim, mobilizando a comunidade para uma cidadania responsável e norteando a criação de valor pela subida na cadeia de valor e para o longo prazo. No que é instrumental a articulação das opções pró-crescimento sustentável com a transparência, a integridade do sistema fiscal, a luta contra os fluxos financeiros ilícitos, em especial a corrupção, o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, bem assim com o reforço da cooperação europeia, incluindo com os países de África da CPLP a que estamos indivisivelmente ligados por especiais responsabilidades histórico-morais.
Outra vertente fundamental nesta transição é a da sociabilidade. Lembremos que o Homem não é uma unidade de produção como ensinam os mais lúcidos. É um ser social que só se realiza em sociedade na colaboração com os outros. Por isso a sociabilidade e a colaboração são requisitos sine qua non do ser e estar em comunidade, sendo imperativo que evoluam pelo escopo da solidariedade. Nisto cumpre à sociedade e às instituições o aventurar do novo através da força aglutinadora do equilíbrio em prol da viabilização da mudança climática que desejamos. Algo tanto mais necessário devido às fontes de dinamismo social negativo por efeito das quais a condição de consumidor prevalece cada vez mais sobre a condição de cidadão, o poder/res pública dá tantas vezes sinal de estar capturado por interesses e processos que não são os que dão prioridade ao bem comum da comunidade. E assim favorecem o alastramento dos perigos colocados ao Estado de Direito democrático baseado nas liberdades cívicas pelos populismos, radicalismos, redes sociais, taxas de juros negativas, escândalos empresariais envolvendo entidades e personalidades de referência, remunerações alvitantes, ou os colocados pelo uso indevido da inteligência artificial e da sociedade digital.
Neste contexto Lisboa Capital Verde Europeia interpela a liberdade individual de todos e de cada um à clarificação da responsabilidade da condição de pessoa livre, de saber evoluir, colaborar, e de estar à altura deste tempo que é o nosso, tanto quanto é o dos vindouros. E de como comunidade persistirmos na aspiração de enfrentar a emergência climática, com base na valorização da diferença e da construção de equílibrios, para assim se promover uma colaboração que viabiliza a sociabilidade centrada na ética e na dignidade Humana, na disponibilidade para fazer pontes e valorizar a interação do Homem-Ambiente-Cultura, como nos legaram os melhores de nós. Esta trajetória não pode ser nem partidária nem de geração, mas de todos. Para ser assim cabe ás políticas públicas, e em especial ao veio sistemas bancário e fiscal português/Fundos Europeus de Transição um papel decisivo na dinamização da coesão económica e justiça social, pois dela dependerá o êxito na resolução do que antecipo seja o seu maior desafio: ser capaz de satisfazer as reivindicações das marchas das sextas-feiras sem engrossar a marcha dos coletes amarelos.
O autor escreve segundo novo acordo ortográfico