Identificadas moléculas na pele de anfíbios que podem combater doenças humanas
A rã-verde, a salamandra-de-fogo e a rã-ibérica, todas presentes em Portugal, estiveram na mira dos investigadores.
Um estudo liderado por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) identificou duas moléculas na pele de anfíbios que podem vir a “contribuir para a prevenção” da leishmaniose, diabetes e doenças neurodegenerativas.
“Até agora, apesar de o projecto ser muito inicial, conseguimos identificar duas moléculas que podem vir a ter potencial antioxidante, o que pode contribuir para a prevenção de algumas doenças”, afirmou, em declarações à agência Lusa, Alexandra Plácido, investigadora do Laboratório Associado para a Química Verde da FCUP, o REQUIMTE.
De acordo com a investigadora, esta descoberta surge no âmbito do VIDA-FROG, um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo em cerca de 266 mil euros, que tem como objectivo “valorizar a biodiversidade portuguesa” e “descobrir novos fármacos”.
“O objectivo final deste projecto é a descoberta de novos fármacos, quer sejam antimicrobianos ou antioxidantes, que têm a vantagem de ter um baixo custo de fabrico e que podem ajudar a resolver alguns problemas, quer seja em termos de doenças negligenciadas como é o caso da leishmaniose, quer da diabetes ou na prevenção de doenças neurodegenerativas”, frisou Alexandra Plácido.
Desde Abril de 2019, os investigadores têm, por isso, vindo a centrar-se no potencial de três espécies de anfíbios que habitam em Portugal: a rã-verde (Pelophylax perezi), a salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) e a rã-ibérica (Rana iberica).
“Temos feito expedições na serra de Valongo, no Parque Natural da Peneda-Gerês e nas ilhas de São Miguel e de Santa Maria, no arquipélago dos Açores”, referiu Alexandra Plácido, adiantando que essas viagens visam “recolher material biológico”.
Através de “técnicas não invasivas”, e “sem infringir sofrimento nos animais”, os investigadores aplicam “uma voltagem baixa” aos anfíbios com o intuito de provocar neles uma contracção muscular, isto é, simular aquilo que sentem “perante um predador”. “A contracção muscular faz com que o animal liberte as secreções que tem nas glândulas cutâneas. Portanto, no campo, colectámos essas secreções e deixamos o animal no seu habitat, sendo que, depois, o trabalho é maioritariamente laboratorial”, explicou.
Foi deste trabalho laboratorial, assente no isolamento e caracterização das amostras recolhidas nas expedições, que os investigadores conseguiram identificar estas duas moléculas com potencial terapêutico.
Alexandra Plácido revelou ainda que os investigadores estão agora a dar início aos ensaios biológicos com células do sistema nervoso central, para “estudar mais a fundo a questão e perceber de que forma é que as moléculas poderão proteger contra algumas doenças”.
Neste projecto, que tem a duração de três anos, estão também envolvidos investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e das universidades de Brasília e de São Paulo, no Brasil.