Daesh ataca cidade nigeriana e mata 20 soldados e destrói 750 casas

Milhares de pessoas ficaram desalojadas. Os sobreviventes tiveram de fugir para o mato para escapar às balas dos militantes jihadistas.

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O Daesh da Província da África Ocidental é uma cisão do Boko Haram REUTERS/STRINGER

Disfarçados de militares nigerianos, militantes do Daesh da Província da África Ocidental entraram na cidade de Monguno, no Nordeste da Nigéria, e mataram 20 soldados e destruíram pelo menos 750 casas, deixando mais de mil pessoas desalojadas. Foi o mais recente ataque do grupo jihadista e junta-se a muitos outros. 

Muitas pessoas que viviam na cidade não tiveram outra opção que não fugir como puderam em direcção à mata enquanto ouviam disparos, contou um dos residentes, Gumati Sadu, à Reuters. Uma parte da população de Monguno já tinha abandonado as suas casas, por causa de ataques dos últimos anos, e os Médicos Sem Fronteiras, diz a agência de notícias britânicas, já alertaram para as condições em que muitos deles vivem: carecem de abrigos, água potável, saneamento e comida. 

De acordo com a Amaq, a agência de notícias do Daesh, os jihadistas detonaram um carro armadilhado aquando do ataque, matando de imediato oito soldados e destruindo três veículos blindados das forças armadas nigerianas. E, antes de abandonarem a zona urbana, adquiriram armas, munições e um veículo. O ataque junta-se a muitos outros, sendo o mais recente um contra a base militar de Jakana, nas proximidades da cidade de Maiduguri, e que vitimou quatro soldados no início deste ano. 

Em meados de Dezembro, o Daesh atacou a aldeia de Mamuri e matou 14 milicianos anti-terroristas e um polícia, depois destes terem ficado sem munições após horas de combate. Os militantes jihadistas capturaram dois veículos de todo o terreno, algo que se torna comum a cada ataque bem-sucedido, engrossando o material ao dispor das suas fileiras. Mas a investida mais mortífera dos jihadistas nos últimos anos aconteceu, também em meados de Dezembro, contra uma base militar em Inates, perto da fronteira com o Mali. O ataque matou 73 soldados nigerianos e deixou outros 12 feridos. 

E, no Natal, os seus militantes assassinaram 11 reféns cristãos. “As onze execuções são as mais numerosas até ao momento. Além disso, o Daesh da África Ocidental gravou as execuções, fez referência à religião dos reféns, divulgou o vídeo um dia depois do Natal e deixou claro que as suas mortes foram vigança pela morte de [líder do Daesh] Al-Baghdadi pelos Estados Unidos”, continuou Campbell. E o Boko Haram atacou, na véspera de Natal, a aldeia de Chibok matando sete pessoas e raptando uma adolescente. 

O Daesh da Província da África Ocidental é uma cisão do grupo jihadista Boko Haram, um dos mais fortes no continente africano, em 2016. Reclamou responsabilidade pelo rapto e assassínio de quatro trabalhadores humanitários e tem em sua posse um número desconhecido de reféns, disse John Campbell, analista do Council on Foreign Relations. O rapto pessoas, principalmente de mulheres, é uma prática que adquiriram quando estavam no Boko Haram. O caso mais conhecido de rapto pelo Boko Haram é o das 104 adolescentes na cidade de Dapchi, em 2014, entretanto libertadas.

Os jihadistas do Daesh e do Boko Haram usam as reféns como escravas sexuais para os seus combatentes ou tráfico humano, para financiarem as suas operações, e até como bombas humanas. “A propaganda sobre escravas sexuais serve como incentivo para novos recrutas e combatentes estrangeiros, com a promessa de mulheres e escravas sexuais a ser um ‘factor de atracção'”, explicou a investigadora Nikita Malik no relatório sobre escravas sexuais e tráfico humano do Boko Haram da Henry Jackson Society, citada pela Reuters. E, continuou, os jihadistas do Boko Haram engravidam as mulheres reféns para produzir “a próxima geração de combatentes”. 

Há muito que as forças militares e de segurança nigerianas combatem jihadistas, mas agora são dois grupos diferentes com ligações entre si. Há uma década que o Boko Haram opera em território nigeriano organizando atentados bombistas contra povoações, com os alvos a serem muitas vezes escolas, e bases militares. As suas acções já mataram mais de 35 mil pessoas e obrigaram à deslocação de mais de dois milhões de pessoas. 

O Boko Haram dispõe de bases de treino nas proximidades do Lago Chade, fronteira natural entre a Nigéria, Níger, Chade e Camarões, e lança muitos dos ataques a partir daí, espalhando o terror nestes países. O G5 do Sahel - composto pelo Níger, Burkina Faso, Mali, Mauritânia e Chade - tentam, entre outras coisas, combater a ameaça das organizações jihadistas que operam na África Ocidental. 

O Chade enviou uma missão militar de 1200 soldados para combater os jihadistas na vizinha Nigéria e, no início de Janeiro, retiraram. “As nossas tropas que foram ajudar a Nigéria durante meses estão a regressar a casa. Terminaram a sua missão”, disse à AFP o porta-voz do Exército do Chade, coronel Azem Bermandoa. 

Mas as necessidades militares da Nigéria podem exigir mais militares do Chade e, nesse, caso, o país “pode concordar numa nova missão e destacar outro contingente para o terreno”, disse o chefe do Estado-Maior General do Chade, o general Tahir Erda Tahiro, à mesma agência. 

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