Portugal precisa de “perfeição” para sobreviver no Europeu
Catorze anos depois, selecção portuguesa de andebol volta a participar no torneio continental e logo num grupo exigente, com França, Noruega e Bósnia.
O andebol português viveu uma década de grande fulgor na viragem do século. Entre 1994 e 2006, Portugal participou em três Mundiais e quatro Europeus e foi organizador de um de cada (Euro 94 e Mundial 2003), marcando uma posição regular na elite da modalidade, uma posição que perdeu nos 14 anos seguintes, por motivos que vão da falta de investimento na formação a conflitos institucionais. Este ano marca o regresso da selecção portuguesa às grandes competições de andebol, com a participação no Euro 2020, que se inicia nesta quinta-feira e que tem organização partilhada por Áustria, Noruega e Suécia. Mas este regresso não podia ser mais difícil. Logo a abrir, a equipa de Paulo Pereira enfrentar no Grupo D da fase preliminar, em Trondheim, a França (17h15, SPTV1) e, dois dias depois, joga com a estreante Bósnia, fechando esta fase contra uma das equipas da casa, a Noruega.
A hierarquia das equipas do agrupamento sugere que França (bicampeã olímpica, tricampeão europeia e pentacampeã mundial) e Noruega (actual vice-campeã mundial) sejam os principais candidatos ao apuramento – só passam os dois primeiros de cada grupo – enquanto portugueses e bósnios correm por fora. Mas a forma recente da selecção portuguesa, mais a forma como alcançou o apuramento para o Euro (vitória sobre a França em Guimarães por 33-27), fazem acreditar que a qualificação será possível. “Só a perfeição poderá colocar Portugal na próxima ronda”, diz Paulo Pereira, em entrevista à agência Lusa. “Tendo a Noruega e a França é algo imponente, mas é possível. É necessário fazermos outra vez um jogo perfeito, como fizemos contra a França em Abril”, reforça.
"Não é impossível"
A ver este Euro 2020 de fora, depois de ter participado na campanha de apuramento, o experiente Hugo Figueira, que foi um dos guarda-redes da selecção nacional no Euro 2006, considera este regresso português aos grandes palcos é um bom sinal. “Primeiro, temos de estar contentes por estar presentes. Segundo, o andebol português evoluiu bastante e está com uma grande energia positiva. Os clubes estão a investir e isso nota-se”, diz ao PÚBLICO o guardião de 40 anos que, na sua longa carreira de várias décadas já passou, entre outros, por FC Porto, Sporting, Benfica e ABC, e que representa actualmente o HB Esch, do Luxemburgo.
“Vai ser duro, mas não é impossível. É importante acreditar e estar confiante. Se ganhámos uma vez à França, podemos ganhar a segunda. Sem dúvida, que é um grande obstáculo. Quanto à Noruega, foi finalista vencida no Mundial, joga perante o seu público. Não será fácil. Mas Portugal tem as suas armas e sabe o que tem de fazer para causar uma surpresa”, observa ainda Figueira, para quem a ausência de Gilberto Duarte, que se lesionou enquanto jogava pela sua equipa, o Montpellier, será um duro golpe: “É um atleta completo muito forte e sem dúvida que cresceu muito por ter saído de Portugal. Mas o Paulo Pereira tem soluções que vão estar à altura.”
Sétimo lugar foi o melhor
Esta será a sexta participação portuguesa num Europeu de andebol. Depois de uma estreia em 1994, como país organizador, com cinco derrotas em cinco jogos, seguiu-se, em 2000, a melhor classificação de sempre, um sétimo lugar graças a vitórias sobre Eslovénia, Islândia e Noruega. Dois anos depois, a selecção portuguesa classificou-se em nono lugar (triunfos sobre Israel e Ucrânia), seguindo duas participações sem qualquer vitória em 2004 (empate e duas derrotas) e 2006 (três derrotas).
Do lado francês, reconhece-se capacidade à selecção portuguesa para ser uma surpresa no Europeu. Palavra a Nikola Karabatic, um dos históricos dos “bleus”, com mais de mil golos marcados em três centenas de jogos pela selecção francesa. “Foi a última equipa que nos ganhou num jogo oficial e ganharam-nos bem. Se bem me lembro, estivemos a perder por oito. Evoluíram muito. Já não é uma equipa que joga bem e, depois, falha. Tem clubes a jogar bem na Europa e muitos jovens a brilhar”, diz o experiente central de origem jugoslava.
Neste inédito Europeu com 24 equipas, a França é uma das favoritas, procurando reconquistar um título que lhes foge desde 2014. Também a Espanha, campeã europeia em título, surge como um dos candidatos, tal como as nações nórdicas, sobretudo a Dinamarca, campeã mundial, e a Noruega (vice-campeã). E como este é um ano de Jogos Olímpicos, vencer o Europeu terá como prémio suplementar a qualificação para Tóquio 2020 – o segundo lugar só dará qualificação no caso de um dos finalistas for a já qualificada Dinamarca.