Anúncio da retirada da coligação do Iraque era um rascunho e gerou confusão

“Respeitamos a vossa decisão soberana que ordena a nossa partida”, diz uma carta enviada às autoridades militares iraquianas. Fica por apurar, na confusão criada pela carta, se havia de facto a intenção de retirar - ou se a divulgação do comunicado fez travar a decisão.

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LUSA/ALI HAIDER

A carta da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos que está no Iraque em missão de combate ao Daesh a anunciar a saída das tropas do país é genuína, mas é apenas um rascunho que não devia ter sido divulgada, disse um alto militar dos EUA citado pela AFP.

Endereçada à cúpula militar iraquiana, assume claramente a retirada, de acordo com a decisão tomada pelo parlamento de Bagdad e respondendo ao pedido do primeiro-ministro iraquiano. “Respeitamos a vossa decisão soberana que ordena a nossa partida”. 

"Em deferência pela soberania da República do Iraque, e como pedido pelo Parlamento do Iraque e o primeiro-ministro, a CJTF-OIR [Força Conjunta Combinada] vai reposicionar forças durante os próximos dias e semanas, para preparar a sua movimentação seguinte”, diz a carta que em baixo tem o nome do brigadeiro dos Marines William H. Seely, que comanda esta força no Iraque. Não tem, porém, assinatura.

A carta, dirigida ao Ministério da Defesa iraquiano, explica os passos a dar: “Durante esse período, haverá um aumento de helicópteros a passar sobre e à volta da Zona Internacional de Bagdad [a Zona Verde, onde estão as embaixadas e os edifícios do Governo]”. A Reuters relata que na noite desta segunda-feira se ouviram vários helicópteros a sobrevoar a cidade. E o Guardian acrescentou que tudo indicava que os militares da base americana na Zona Verde estavam a ser levados para outras bases no Iraque.

De acordo com a correspondente do Washington Post em Beirute, Liz Sly, a autenticidade do documento foi confirmada pelos militares americanos. 

O que não estava claro, prosseguia a jornalista, era se esta ia ser uma retirada total ou parcial. “Porém, a menção à decisão do parlamento do Iraque fá-la parecer bastante definitiva”, escreveu Sly.

Pouco depois, a Sky News ouviu um comandante americano que confirmou que estavam a reduzir o número de tropas em Bagdad, por “razões de segurança”. “Mas não vamos sair do Iraque, acrescentou.

Questionado em Washington, o secretário da Defesa dos EUA, Mark Esper, admitiu não saber de que carta se trata. Mas disse que esse memorando sobre as tropas americanas estarem “em movimento” não era correcto. “Não há qualquer decisão de saída do Iraque”, garantiu, citado pela AFP. 

“Não sei que carta é essa... Estamos a tentar perceber de onde surgiu, o que é. Mas ainda não foi tomada uma decisão sobre o Iraque”, disse Esper.

À CNN, um responsável americano em Bagdad disse que o memorando apenas dizia respeito ao reposicionamento de tropas no país. 

Fica por apurar, na confusão criada pela carta divulgada por uma televisão iraquiana ligada a uma milícia xiita, a Asaib Ahl al-Haq, se havia de facto a intenção de retirar - ou se a divulgação do comunicado fez travar a decisão.

Decisão do parlamento

A partida das tropas estrangeiras foi decidida na noite de domingo pelo parlamento de Bagdad, na sequência do assassínio do general iraniano Qassem Soleimani, morto por um drone por ordem do Presidente dos EUA, Donald Trump, em solo iraquiano.

A missão internacional Inherent Resolve contra o Daesh, liderada pelos EUA desde 2014, é afectada pela moção parlamentar, e anunciou a suspensão das operações contra o grupo terrorista, para se concentrar na protecção das bases norte-americanas e de outros países no Iraque.

Nesta missão há 30 militares portugueses.

A NATO anunciou também a suspensão das suas operações de treino no Iraque. Esta segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, no final de uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, disse que a Aliança está preparada para retomar a sua missão, assim que a situação de segurança no terreno o permita e se o Governo iraquiano concordar.

Reino Unido reduz diplomatas em Bagdad e Teerão

O Reino Unido anunciou entretanto a redução ao mínimo necessário do pessoal nas suas embaixadas no Iraque e Irão. Segundo a Sky News, trata-se de uma medida de precaução e não uma resposta a uma ameaça imediata.

“A segurança dos nossos funcionários é de importância maior e mantemos em revisão permanente a nossa postura de segurança “, disse um porta-voz do Governo de Londres.

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