“Morte à América”, gritam manifestantes ao invadir embaixada dos EUA em Bagdad
As forças de segurança norte-americanas usaram gás pimenta para tentar dispersar protesto, motivado por bombardeamento dos EUA que matou 24 elementos de milícia xiita, que Washington diz ser apoiada pelo Irão.
A embaixada norte-americana em Bagdad foi invadida na manhã desta terça-feira e centenas de centenas de pessoas mantêm-se nas suas imediações a mostrar o seu descontentamento com o ataque dos Estados Unidos contra uma milícia iraquiana que dizem ser apoiada pelo Irão.
Os manifestantes gritam “morte à América”, atiraram pedras, atearam fogos no interior da embaixada que tem sempre um alto nível de segurança, fizeram graffiti nas paredes, estragaram câmaras de vigilância, relata o New York Times. O complexo situa-se na Zona Verde, uma área no centro da capital iraquiana fortemente vigiada e rodeada de muros, mas uma multidão conseguiu aproximar-se da embaixada.
Esta terça-feira realizaram-se em Bagdad os funerais de vários dos mortos durante os bombardeamentos do fim-de-semana, que visaram a milícia Kataib Hezbollah, que os EUA acusam de ter feito um ataque com mísseis a uma base militar iraquiana Kirkuk dois dias antes, no qual morreram um trabalhador contratado americano e vários militares iraquianos e norte-americanos.
Palavras fortes
Mas a força desta retaliação fez com o próprio Governo iraquiano, que depende do apoio dos EUA - e também do Irão, num equilíbrio difícil de manter - fizesse um protesto veementemente, considerando-o “inaceitável e perigoso”. O Conselho de Segurança Nacional do Iraqe chegou a dizer na segunda-feira que os bombardeamentos norte-americanos eram uma violação da soberania iraquiana, e que se via forçado a “reconsiderar” a sua relação com a coligação internacional liderada pelos EUA que combate o Estado Islâmico, cujas forças estão estacionadas no Iraque.
Neste contexto, as cerimónias cerimónias fúnebres desta terça-feira transformaram-se em protestos e centenas de pessoas marcharam na direcção da Zona Verde, onde estão localizadas várias embaixadas e edifícios governamentais.
De início, as forças de segurança iraquianas permitiram a entrada da multidão na Zona Verde, que se dirigiu para a embaixada norte-americana. Aí, entoaram cânticos contra os EUA e contra o Presidente Donald Trump, e algumas pessoas atiraram pedras contra o complexo. A situação acabou por degenerar em mais violência quando alguns dos manifestantes conseguiram penetrar através de um dos muros que rodeia a embaixada.
Uma das torres de vigilância da embaixada foi incendiada. As forças de segurança norte-americanas usaram gás pimenta para tentar dispersar os manifestantes em frente à embaixada. Dois membros de uma milícia iraquiana ficaram feridos depois de serem atingidos por granadas, diz a Reuters.
O embaixador norte-americano e os trabalhadores que se encontravam no interior do edifício foram retirados por segurança, confirmou a agência Reuters junto de dois oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraquiano.
Trump acusa Irão
Donald Trump acusou o Irão de estar a “orquestrar” o protesto junto da embaixada e disse esperar que “o Iraque use as suas forças para proteger” o local. “O Irão assassinou um trabalhador americano, ferindo vários, nós respondemos com força e iremos fazê-lo sempre”, disse Trump, através do Twitter.
O primeiro-ministro, Adel Abdul Mahdi, disse aos manifestantes para não se aproximarem dos complexos das embaixadas e avisou que qualquer tentativa de invasão será contida pelas forças de segurança.
O Iraque vive um período de forte contestação social, com protestos anti-governamentais que duram há meses e durante os quais morreram centenas de pessoas. Inicialmente foram motivados pelas más condições de vida da generalidade da população, a má qualidade dos serviços públicos e pela ausência de segurança, juntamente com a corrupção dos políticos. Mas a influência do Irão e dos EUA no país são também factores de descontentamento. Chegaram a ser atacados consulados iranianos no Iraque, incidentes reprimidos violentamente.