Mortalidade materna: afinal morreram mais mulheres entre 2016 e 2018, revela a DGS

Em 2018 e 2017 morreram 26 mulheres na sequência de complicações na gravidez, parto e puerpério (até 42 dias após o parto). Mas em 2016 o número subiu de 7 para 12 mortes. A DGS avança duas grandes causas: gravidez com mulheres com mais de 35 anos e casos de mulheres com doença prévia.

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João Silva

Em 2018 e 2017 morreram 26 mulheres na sequência de complicações na gravidez, parto e puerpério (até 42 dias após o parto). Os números foram divulgados esta quinta-feira pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), depois de uma avaliação aos casos de mortes maternas, que segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) tinham quase duplicado de 2017 para 2018.

Com esta avaliação, a DGS reviu em baixa os números do ano passado, mas aumentaram as mortes maternas registadas no ano anterior e quase duplicaram em 2016. De acordo com a directora-geral da Saúde, foram identificados dois padrões associados à mortalidade materna: mulheres acima dos 35 anos e mulheres mais jovens com doenças graves já existentes.

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Em conferência de imprensa, Graça Freitas disse que, após o cruzamento da base de dados da mortalidade com a do internamento e morbilidade, foi possível apurar que em 2018 registaram-se 15 mortes maternas, em 2017 foram 11 e em 2016 doze. O Instituto Nacional de Estatística tinha o registo de 17 mortes maternas no ano passado, sendo que Graça Freitas explicou que dois casos estavam mal registados quando foram comunicados ao INE. Em relação a 2017, o número inicial era de nove mortes maternas e em 2016 o número era de sete.

A responsável referiu que à medida que estão analisar os dados para trás “há sempre um aumento em relação aos casos que tinham sido notificados”. “A vigilância epidemiológica está a ser muito melhorada. Já o tínhamos feito para a mortalidade geral e infantil e agora estamos a fazer para a mortalidade materna”, disse.

Detectados dois padrões

O trabalho de avaliações dos casos de mortes maternas ocorridas em 2017 e 2018 – no total dos dois anos são 26 – levou uma equipa de médicos a ir a hospital a hospital onde estas mortes ocorreram. “Encontraram-se dois padrões muito importantes. O primeiro, já era conhecido, são mulheres que engravidaram depois dos 35 anos. Estudos mostram que a partir daí há um risco aumentado. É um estado biofisiológico, mas que desencadeia uma série de factores a nível orgânico e fisiológico que podem levar à descompensação de algumas doenças e problemas de base.”

Graça Freitas explicou que estas mulheres “habitualmente levam a gravidez até ao termo e bastantes destes óbitos ocorrem já no puerpério”. De acordo com a directora-geral da Saúde, “no total dos dois anos, 40% das mortes maternas foram em mulheres com mais de 35 anos”.

O outro padrão, que a responsável disse constituir uma “novidade epidemiológica”, está relacionado com “mulheres relativamente jovens ou mesmo jovens portadoras de doenças graves”. “Em anos passados podiam não ter chegado à idade fértil. Engravidaram e morreram enquanto estavam grávidas, algumas delas nem sabiam que estavam grávidas. São mortes precoces na gravidez”, explicou.

Graça Freitas adiantou que, “do conjunto das 26 mortes, a maior parte ocorreu antes do parto”.

Quanto a doenças associadas à mortalidade materna, Graça Freitas disse que se encontrou “directamente relacionadas com a gravidez doenças hemorrágicas, tromboembólicas, hipertensivas, mas depois, nas que já tinham patologia de base, encontrou-se doença oncológica, doença pulmonar obstrutiva grave, por exemplo”. “Estas foram doenças que se encontraram com bastante frequência”, salientou.

Alguns destes casos de mortes maternas deram origem a processos judiciais, que estão em segredo de justiça.

Estudos vão continuar

Graça Freitas não adiantou quantas destas mortes ocorrem em hospitais privados e quantas em públicos. “Sendo que a maior parte das mulheres é seguida no público, e é para onde o INEM as conduz, a maior parte das mortes ocorreu no público, independentemente de onde foi seguida a gravidez. Cinco destas mulheres tiveram ou morte no domicilio ou fora do hospital, mas foram levadas ao hospital. São situações que às vezes acontecem abruptamente.”

Apesar dos dados do INE mostrarem o registo de seis mortes maternas em Dezembro de 2018, Graça Freitas afirmou que da análise dos 26 casos registados nos dois últimos anos não foi possível encontrar nenhum padrão em relação ao mês, nem qualquer indicação de que tenha havido falhas nos cuidados prestados às grávidas. Nem que não terão sido encaminhadas para consultas de risco.

Graça Freitas anunciou que as autoridades de saúde vão continuar a fazer estudos estatísticos e será criada uma “comissão de acompanhamento e um sistema de alerta que permita que quando aparece uma morte materna no SICO [Sistema de Informação de Certificado de Óbito] se possam fazer perguntas básicas e os médicos preencher um inquérito feito logo na altura”. Inquérito que já existe, mas que será agora reforçado um apelo para que seja totalmente preenchido de forma a recolher o máximo de informação. 

Esta comissão de acompanhamento também permitirá ver se há necessidade de “afinar cuidados”. “Mulheres mais graves requerem mais complexidade de cuidados”, defendeu.

Melhorar a comunicação

Outra coisa que se pretende perceber é se a comunicação entre prestadores de cuidados de saúde e estas mulheres está a fluir. “O primeiro grande apelo que vamos fazer, além da literacia, é aos médicos que seguem estas mulheres habitualmente. Estas mulheres têm de ser informadas do risco que correm se engravidarem. Esta informação tem de ser percebida. De que há um risco aumentado de mortalidade”, afirmou.

Estas mulheres, defendeu a directora-geral da Saúde, “têm de ser encaminhadas para consultas pré-concepcionais, incluindo de planeamento familiar”. “Se engravidarem, devem ser de imediato referenciadas para consultas de alto risco em meio hospitalar e de preferência com equipas multidisciplinares. São mulheres com doenças complexas”, disse. O parto também deve ocorrem em serviços que respondam ao grau de gravidade da situação.

Da informação recolhida, foi possível perceber que muitas mulheres estavam a ter vigilância e que em muitas o médico alertou para o risco de uma gravidez. Mas alguns processos clínicos são omissos quanto ao facto de esta informação ter sido explicada à grávida.

Graça Freitas afirmou que este “é um fenómeno em todos os países desenvolvidos” e que Portugal não é o único país a fazer esta reavaliação dos dados. Apesar da subnotificação, que se percebeu e que está relacionada com casos de mortes em fases precoces da gravidez, a directora-geral da Saúde disse que “estamos perto da média dos países da OCDE, com uns anos melhor, outros pior”.

Quanto a dados deste ano, a responsável disse que estão na fase de validação dos dados, mas que deverão ser da mesma ordem de grandeza dos anos anteriores. “Vai ser um número parecido com o dos anos anteriores. Tudo aparenta que haverá estabilidade.”

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