Coesão social: o reconhecimento da migração enquanto benefício comum
Hoje assinala-se o Dia Internacional dos Migrantes, um dia para relembrá-los e reiterar a necessidade de respeitar os direitos e a dignidade de todos. É o dia escolhido pelas Nações Unidas para reconhecer os estimados 272 milhões de migrantes enquanto membros de direito das nossas sociedades atuais.
Com demasiada frequência, ao falarmos em migrantes, damos por nós a falar de momentos de dificuldade extrema, apanhados numa narrativa de crise. Os que se encontram detidos na Líbia, os que são traficados nas traseiras de um camião, os que fogem da falência dos Estados, dos conflitos e tragédias, em busca de uma vida nova.
Hoje assinala-se o Dia Internacional dos Migrantes, um dia para relembrá-los e reiterar a necessidade de respeitar os direitos e a dignidade de todos. É o dia escolhido pelas Nações Unidas para reconhecer os estimados 272 milhões de migrantes enquanto membros de direito das nossas sociedades atuais.
Mas é também o dia de reconhecer a calorosa generosidade das comunidades que acolhem os recém-chegados que pouco mais trazem do que os seus nomes. Na Colômbia, na Alemanha e por todo o mundo, encontramos exemplos de comunidades que partilharam as suas vidas e os seus lares com os menos afortunados. Muitas das comunidades onde chegam estes migrantes são já de si frágeis, possuem recursos limitados e esforçam-se para prosperar.
Este ano, no Dia Internacional dos Migrantes, a OIM optou por se focar na coesão social, no reconhecimento não apenas dos migrantes mas também das comunidades em que podem prosperar e, de facto, prosperam. As nossas sociedades não são estáticas, as nossas redes de comunidades fragmentam-se constantemente e reconstroem-se perante a mudança, seja por recessão económica, pelo envelhecimento da população ou pelas diferentes e tensas visões políticas do mundo.
Muitas vezes, quando falamos de migração, debatemos se é boa ou má, se é cara e não compensa e quais os contributos reais dos migrantes para as nossas vidas. Mas ver a migração como um exercício de contabilidade é reduzi-la a uma fração do seu todo. Trata-se de uma parte integrante das nossas sociedades, um desafio constante, que as enriquece de várias formas intangíveis.
Com demasiada frequência, esquecemos que os migrantes já são uma parte silenciosa das nossas vidas, os seus contributos fazem parte das nossas interações diárias. Alguns são académicos que estudam para adquirir novas competências. Outros são trabalhadores que procuram melhorar os seus conhecimentos para obter melhores salários ou mais oportunidades. Outros são familiares que se reuniram com os seus entes queridos, para cuidar deles e começar novos capítulos nas suas próprias vidas.
Muitos migrantes cruzaram uma fronteira próxima em busca de oportunidades em países não muito diferentes dos seus. De facto, cada vez mais, vemos trabalhadores a atravessar rotineiramente fronteiras, vivendo num país, trabalhando noutro. Outros atravessam continentes ou oceanos, dando passos gigantes, enfrentando enormes riscos, para se integrarem noutras sociedades, com diferentes idiomas, práticas religiosas, alimentos e normas culturais. Arriscam muito para ter sucesso entre nós.
Os migrantes precisam mudar para lidar com os desafios de adaptação a um novo ambiente social e cultural e respeitar os valores, como por exemplo a igualdade de género, das comunidades nas quais ingressaram. O respeito mútuo por crenças diversas é a pedra angular de uma coesão social que funciona para o benefício de todos.
As comunidades que prosperam são aquelas que adotam a mudança e a ela se ajustam. Os migrantes são um elemento integrante e bem-vindo dessa mudança. Os migrantes podem tornar-se, muitas vezes surpreendentemente, exemplos de resiliência quando os tempos são difíceis, quando uma comunidade experiencia choques inesperados, incluindo mudanças ambientais e desastres, desemprego e turbulência política.
Mas as comunidades não se podem adaptar sozinhas. Necessitam do apoio de governos e organizações como a OIM, para garantir a prestação adequada de serviços públicos, orientação e apoio com a língua, investimento em capital humano e fortalecimento mais amplo das infraestruturas da comunidade.
O clima político de hoje é desafiador: frequentemente os migrantes são um bode expiatório fácil para todos os problemas da sociedade, em vez de serem parte da solução. Assim, neste dia, precisamos lembrar constantemente a comunidade internacional da realidade, tanto histórica como contemporânea, de que quando a migração é bem administrada, as sociedades fechadas podem tornar-se mais abertas e as tensões políticas atenuam-se.
Seja a viver, a trabalhar, a amar ou a construir, devemos fazê-lo juntos.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico