Há mais clientes fiéis e a fazer viagens mais longas nos transportes do Grande Porto
A pressão na procura por via da redução de tarifas está a obrigar o metro, por exemplo, a mexer na oferta. Receita por passageiro caiu, mas a receita global aumentou 5% no que levamos de 2019.
O sistema de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto (AMP) chegou a Outubro com três em cada quatro viagens a serem feitas por utilizadores regulares. O peso dos utentes com passe, que já se cifrava nos 67%, antes da entrada em vigor do Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART) cresceu 35%, chegando, em Outubro, aos 75%. A criação de duas tarifas simples, de 30 euros, para deslocações até três zonas, e de 40 euros, válida para toda a AMP, teve também o condão de aumentar a distância média percorrida por cada cliente, um dado verificável numa análise mais fina aos dados do metro que, entre os mais de 66 milhões de “clientes” já transportados este ano nota um acréscimo da extensão média dos percursos, que passou de 5100 para 5300 metros .
A Metro do Porto é uma das empresas que mais têm ganho clientes à custa do PART, a nível nacional. Até à semana passada, seguia com 66,5 milhões de validações, ou seja, mais 7,5 milhões, e mais 13,2% que no mesmo período de 2018. Depois de ter registado o melhor mês de sempre em Outubro passado, com 7,2 milhões de cartões validados, a empresa espera chegar ao final deste ano com mais de 70 milhões de validações. No reverso deste desempenho, a incapacidade de dar, nos próximos dois anos, resposta a este incremento da procura com disponibilização de mais veículos (há 18 para encomendar, mas ainda terão de ser fabricados), a empresa vai tentar aumentar a oferta de lugares por quilómetro percorrido com várias intervenções pontuais.
Linhas longas crescem mais
Segundo informação fornecida ao PÚBLICO pela Metro do Porto, as linhas do metropolitano com maiores taxas de crescimento, em termos de clientes, são a F-Laranja (que serve Gondomar), a B-Vermelha (Póvoa de Varzim) e a A-Azul (Matosinhos), ou seja, linhas longas, usadas principalmente para os movimentos pendulares casa-trabalho/escola. As três estão com aumentos de procura acumulados, neste ano face ao mesmo período do anterior, de 25,1%, 21,8% e 21,7%, seguindo-se-lhes a Linha Verde (Maia), com 13,3%. O troço comum (Trindade-Senhora da Hora), a Linha D-Amarela e a Linha E-Violeta, que serve o aeroporto, estão com crescimentos de procura na ordem dos 11-12%, explicando que o total da rede, acumulando todos os meses já decorridos, esteja a ganhar 13,2%.
Tanto no caso do metro, como nas linhas mais procuradas da STCP, o aumento da procura, nas horas de ponta, não precisa de ser comprovado por qualquer folha de Excel. Sentem-na os utentes que, nesses momentos, têm dificuldades em encontrar um lugar sentado e, quantas vezes, mesmo de pé. Aliás, neste campo, a Metro regista um aumento de quase 18,3% na taxa de ocupação dos seus veículos, que passou de 21,18% para 25,05%. O valor pode parecer baixo, mas é preciso não esquecer que se trata de uma média que inclui todas as horas do dia e não distingue dias úteis de fins-de-semana. Olhando para troços específicos da rede, em períodos de maior procura, vemos por exemplo que, entre as 8h e as 9h, o troço São Bento-Aliados, na Linha Amarela, tem uma taxa média de ocupação mensal de 98,48%, e que todos os troços entre as principais estações desta linha estão pressionados.
Obras na Linha Amarela (D)
Fonte da empresa assume que o esquema de bancos encostados já testado precisamente na Linha D não resultou tão bem quanto era esperado. Cabem mais pessoas nos veículos assim reconfigurados, mas faltam pontos de apoio, principalmente para pessoas mais baixas e idosos. A Metro está a trabalhar com a Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, para o desenvolvimento de uma nova solução que vai ser testada em dois veículos no início do ano e, correndo bem, esta será alargada à frota deste tipo de material circulante, usado nos trajectos mais curtos, em várias linhas.
Outra solução, para responder ainda à pressão sobre a Linha D, Amarela, na qual viaja quase um terço da clientela, passa pela reformulação do término norte, junto ao Hospital de São João, no qual o serviço teve de ser adaptado, no arranque da operação, em 2007, para responder à pressão pública, das unidades de saúde da zona, que temiam riscos para a mobilidade de peões. A obra, cujo concurso será lançado no início do ano, visa permitir que, no percurso entre as duas últimas estações passe a ser possível, ao contrário do que hoje acontece, a utilização das duas vias e dos dois cais de paragem e, com isso, aumentar a frequência de viagens. Uma forma de elevar a capacidade de transporte, em toda a linha Amarela.
Receitas totais aumentam
Há duas semanas, o responsável pela comunicação da Metro, Jorge Morgado, participou em Madrid num encontro internacional de sistemas de metropolitano, dando conta do impacto do PART a outros níveis, na empresa pública sediada no Porto que chegou a esta fase do ano com com um aumento de 5% nas receitas globais. Com mais gente dentro das viaturas, o custo do passageiro/km, uma métrica usada no sector, baixou de 0,10 euros para 0,098, mas, com a descida no preço dos passes, também a receita de cada passageiro/km caiu de 0,13 euros para 0,11.
A taxa de cobertura das receitas sobre as despesas de operação, que não inclui o passivo, caiu de 131% para 111%, o que não só continua a ser positivo como mantém este sistema entre um grupo restrito no mundo, onde este rácio está acima dos cem por cento, ou seja, em que há mais receitas do que custos. Neste aspecto específico, o Porto está menos bem que Hong Kong (186%) ou Tóquio (170%), mas está acima de Singapura (100%), Londres (91%), Washington (68%), Berlim (60%), Chicago (57%), Vancouver (52%), Barcelona (44%), Munique (42%) ou Bruxelas (35%), segundo os exemplos apresentados em Madrid.
Notícia corrigida às 16h de 11/12 com alteração dos custos e receitas de passageiros por quilómetro.