Bullying nas escolas – mais à vista é impossível
As aulas de Educação para a Cidadania trabalham a questão do bullying e dos direitos humanos. Mas, na prática, vêem-se resultados?
Na época do imediatismo, as relações humanas tornaram-se também fugazes. Dotadas de pouco sentimento a interação entre alunos, transformam-se facilmente em agressão verbal ou física. A violência gratuita parece uma daquelas ofertas que constantemente aparecem na internet e que se podem ganhar facilmente, bastando para isso clicar no botão. Chegámos a uma época na qual para levar uma boa tareia não é preciso fazer nada, basta estar no lugar certo à hora certa que, tal como no telemóvel, a oferta gratuita da valente tareia aparece. Para a ganharmos basta apenas ficar indefeso.
Artigo 30.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos “Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados” – basicamente, refere que ninguém nos pode infligir mal algum. Os direitos humanos jamais são direitos por capricho, são direitos porque ainda existe humanidade. Se estes direitos são praticados? Talvez sim, talvez não.
Entramos no contexto escolar onde a continuidade dos valores humanos deveria progredir após o seu início no berço. Berço é aquele espaço que enreda a nossa personalidade vinda de um temperamento com a epigenética à mistura. Jamais há certos ou errados na família na qual cada um cresce, mas a mistura que resulta do que são os valores, crenças, vivências de cada um e o temperamento inseridos numa sociedade repleta de imediatismo pode ser explosiva. Será esta a origem do bullying? Haverá um apontar de dedo de culpa? Culpa é algo jurídico, responsabilidade é humano e o bullying surge da desresponsabilização de atos. Surge do simples desrespeito pela vida humana. Tudo o que nos entra pelos meios sociais adentro mostra realidades que parecem pertencer a filmes que nos colam ao ecrã, tal não é a inqualificável característica das atrocidades cometidas em atos de bullying escolar. A agressão física e psicológica no bullying misturam-se, pois mesmo num contexto de agressão apenas física a parte psicológica é profundamente afetada, deixando marcas que podem matar o ser interno. Mas o que é interno não se vê... E se mata aquilo que é externo? Se chegarmos a agressões que podem tirar uma vida por bullying? A desresponsabilização máxima do ato num atentado à vida humana é indigno para todos. Imaginem a criança ou jovem que é batida num ato de pura violência gratuita, pontapeado por múltiplos colegas na escola enquanto se encontra caído no chão. Isto é apenas um exemplo chocante mas que ocorre e não é só uma vez.
O bullying é falado, discutido, supostamente tratado, mas o facto é que o seu crescimento é exponencial. Agressão de crianças para crianças, de jovens para jovens, de adultos para adultos... que sociedade é esta que estamos a construir, ou será que devo dizer destruir?
Se a maioria das situações são denunciadas? Não. Os motivos que levarão à não denúncia por parte de quem tem o dever de o fazer podem ser múltiplos. Desde “não percebi o que aconteceu”, “não fui informado e por isso não dei meios”, “isso são coisas de miúdos”. Pois... coisas de miúdos. Mas violência gratuita é coisa de miúdos e, já agora, de graúdos? Mas violência alguma é algo aceitável? O fechar de olhos também é bullying e este vem dos adultos que em meio escolar são responsáveis pela integridade física e psicológica dos menores que têm a cargo. Assim como na família jamais devem ser ignoradas as situações de violência escolar, a ajuda da família é crucial. Não interessa os olhos com que os outros nos vêem mas sim se a nossa consciência se deita tranquila na almofada, pelo que se a família é exemplar, ou se o ranking escolar é o melhor, não tem interesse, se o que estiver dentro for completamente o inverso. De exemplaridade estamos cheios, os erros devem ser assumidos sem medo e com frontalidade. São exemplos que como adultos damos às nossas crianças.
A denúncia deve e tem que existir sem medo de represálias, porque estas também existem. Existem entre alunos e existem de forma dissimulada entre adultos e crianças e jovens. A sociedade cresce no medo neste momento e por isso muitas vezes aquieta-se. Até quando?
As aulas de Educação para a Cidadania trabalham a questão do bullying e dos direitos humanos. Mas, na prática, vêem-se resultados?
Artigo 30.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos – jamais alguém me inflige mal! Isto deveria ser entregue às crianças desde o nascimento, pois se não se respeitarem e zelarem pelo que são jamais vão respeitar e zelar pelo próximo.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico