Merkel visita Auschwitz pela primeira vez e oferece milhões de euros para que não seja esquecido
É a primeira vez que a chanceler alemã vai ao campo de morte que o regime nazi instalou na Polónia ocupada. “Este local obriga-nos a manter a memória viva”, afirmou, dizendo sentir uma “profunda vergonha pelos crimes bárbaros cometidos pelos alemães” ali.
Angela Merkel visitou pela primeira vez o Memorial de Auschwitz-Birkenau esta sexta-feira, ao fim de 14 anos como chanceler alemã, com uma doação de 60 milhões de euros para ajudar a conservar o local onde os nazis construíram o seu maior campo de morte.
Vestida de negro, expressou “uma profunda vergonha pelos crimes bárbaros cometidos pelos alemães” ali, naquele campo no Sul da Polónia onde o regime nazi aperfeiçoou o seu complexo para matar judeus e outros indesejáveis.
Merkel prometeu continuar a combater o racismo e o anti-semitismo, em tendência crescente na Alemanha e na Europa, e garantiu que Auschwitz será sempre parte da História alemã. “Este local obriga-nos a manter a memória viva. Devemos lembrar-nos dos crimes que foram cometidos e nomeá-los claramente”, afirmou a chanceler, numa cerimónia em que esteve presente o primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki.
Antes, visitou o crematório onde os corpos eram queimados, antes de passar pelos portões de ferro do campo, onde está a inscrição “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”) e visitar as casernas de tijolo onde ficavam os prisioneiros.
A chanceler nunca fugiu a admitir a responsabilidade da Alemanha pelas atrocidades cometidas na II Guerra Mundial, mas esta visita assegurará que ela segue as pisadas de dois outros chanceleres, visitando o campo de morte nazi antes de completar o seu último mandato.
“Auschwitz é um museu mas é também o maior cemitério do mundo. A memória é a chave para construir o presente e o futuro”, disse à Reuters o director do museu, Piotr Cywinski, antes da visita de Merkel, que se realizou por convite da Fundação Auschwitz.
Metade da doação entregue por Merkel vem do Governo federal alemão, e outra metade dos governos regionais da Alemanha. Este dinheiro garantirá à Alemanha a posição de maior doador da Fundação Auschwitz, que financia os esforços de conservação do campo no que era então a Polónia ocupada pelos nazis, onde foram mortas mais de um milhão de pessoas, sobretudo judeus.
Este dinheiro garantirá a conservação de 30 casernas no campo de Birkenau, além de uma velha cozinha e uma latrina.
O Governo polaco é um dos maiores financiadores do museu de Auschwitz – pagou 20% do total do seu orçamento em 2018. Mais de três milhões dos 3,2 milhões de judeus polacos foram mortos no Holocausto – cerca de metade de toda a população judaica assassinada durante a Segunda Guerra Mundial.
“Muitos dos edifícios não foram construídos para durar”, disse Cywinski. A Fundação Auschwitz precisa de entre 18 milhões e 20 milhões de zlotys (4,2 e 4,6 milhões de euros) anualmente para trabalhos de conservação do património. Entre outros trabalhos, é necessário evitar a deterioração de relíquias das vítimas, como cabelo, sapatos e óculos.
Há dois anos, Cywinski fez um apelo a eventuais doadores. Só a Alemanha respondeu até agora. Anteriormente, a Polónia e os Estados Unidos foram grandes financiadores.