Nascidos antes da década de 1980 não terão dificuldade em ver aqui alguma inspiração nos filmes de ficção científica quando ainda se acreditava que o ano de 1999 traria uma estação espacial na Lua. Mas o que a Tesla de Elon Musk acaba de desvendar é a sua visão para uma condução emocional tanto na estrada como fora dela.
O Cybertruck, com nome digno de um qualquer Transformer, “é desenhado para ter a utilidade de uma pick-up [a Tesla chama-lhe de “truck”, que poderia ser traduzido por camião, mas a filosofia aproxima-se mais das carrinhas de caixa aberta] e a performance de um desportivo”, ao mesmo tempo que apresenta todas as funcionalidades de que uma família precisa — com 588,5cm de comprimento, 202,7cm de largura e 190,5m de altura, o veículo tem capacidade para seis ocupantes — sem que seja minimamente familiar.
Mas o que o torna realmente impressionante é o rol de números avançados de desempenho: sendo 100% eléctrico (naturalmente!), dispara dos 0 aos 100 km/h em 2,9 segundos e promete três níveis de autonomia (desde 400 até uns quase inacreditáveis 800 quilómetros). Isto, ao mesmo tempo que revela aptidões off-road muito recomendáveis, com bons ângulos de ataque, e de saída (35º e 28º, respectivamente).
Falha ou golpe de marketing?
A apresentação do automóvel que parece querer romper com tudo o que já foi feito até aqui não decorreu na perfeição. Ou, pelo menos, foi isso que Elon Musk e cia. pretenderam dar a entender. Com o atributo “robusto” no topo das suas mais-valias, a equipa da Tesla decidiu fazer um teste in loco — cujo resultado não é de leitura linear.
De acordo com a Reuters, Musk pediu ao director de design, Franz von Holzhausen, que martelasse o carro para comprovar a solidez do veículo construído com a mesma liga de aço usada no Starship, desenvolvido pela empresa aeroespacial SpaceX do mesmo empresário. E, quando Holzhausen o fez na chapa, nem um arranhão se viu. Já quando tentou o mesmo número (de circo, arriscaríamos) nos vidros, estes estilhaçaram, sem que, porém, o martelo tivesse aberto um buraco nos mesmos.
“Oh, meu Deus, bem, talvez isso tenha sido demasiada força”, disse Musk, citado pela agência, ao mesmo tempo que pediu a Holzhausen que repetisse a artimanha noutra janela, para um resultado idêntico. “Não passou [no teste], então esse é o lado positivo”, disse Musk, acrescentando: “Há espaço para melhorar”.
No entanto, o patrão da Tesla é sobejamente conhecido pelos seus truques de comunicação, e o certo é que poucas apresentações de automóveis novos, mesmo os que são tão disruptivos quanto este Cybertruck, são tão comentadas. Além do mais, o vidro blindado é projectado para não deixar que um projéctil (ou outro tipo de objecto) o penetre, no entanto, é normal que apresente um aspecto estilhaçado quando atingido: tal e qual o que aconteceu com o Cybertruck.
Claro que não há bela sem senão. E se o objectivo era ser falado, Musk conseguiu. Já os accionistas parecem não ter entendido a piada: as acções da Tesla estavam a cair em Wall Street, às 14h42 (hora local, 19h42 em Lisboa), 6,11%.