Morreu o médico e investigador João Monjardino
Tinha 83 anos e era uma referência na área da virologia.
O médico e investigador João Monjardino morreu aos 83 anos, noticia-se no site da Universidade do Porto. O óbito ocorreu a 31 de Outubro em Londres, cidade onde estava radicado há várias décadas. João Monjardino era um investigador de referência na área da virologia e foi um dos fundadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade de Portugal.
Nascido em Lisboa a 27 de Dezembro de 1936, João Monjardino licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa. Quando era estudante, envolveu-se nos movimentos de contestação estudantil entre 1957 e 1961, durante a ditadura, o que o levou à prisão e obrigou-o a exilar-se em Londres, conta a Universidade do Porto. Seria então em Londres que terminaria o seu percurso académico, nomeadamente com um mestrado em bioquímica e um doutoramento em virologia na Universidade de Londres. Também viria a desenvolver em Londres a sua carreira de investigador.
Depois do 25 de Abril de 1974, participou nas mudanças que aconteceram no país, concretamente ao nível da investigação em medicina e integrou a comissão instaladora do ICBAS e foi “uma figura central do projecto” que levou à sua criação em 1975, refere a Universidade do Porto.
Além de ter sido uma referência na área da virologia, João Monjardino teve um papel importante em trabalhos científicos sobre a biologia molecular dos vírus causadores das hepatites humanas. Publicou mais de 120 artigos em revistas internacionais, deu aulas no Imperial College de Londres e foi orador em reuniões internacionais.
Também foi consultor científico da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), hoje Fundação para a Ciência e Tecnologia. Nesta última acabou por ser também consultor. Em 2002, a Universidade do Porto atribui-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Foi fundador e presidente da Fundação Francisco Pulido Valente, criada pela família em homenagem ao seu avô, o médico e professor Francisco Pulido Valente.
Contribuiu “para uma bioquímica médica mais forte em Portugal, foi sempre inspirador e provocador”, disse Alexandre Quintanilha, deputado e professor emérito da Universidade do Porto, em declarações no site da Universidade do Porto. Já o químico Jorge Calado reagiu: “Estou desolado! Era um homem grande em todos os sentidos! Embora os nossos contactos tenham sido fugazes, bastaram para eu desenvolver uma grande admiração por ele e sentir uma proximidade emocional que me era muito querida”, lê-se no site da Fundação Pulido Valente. “É verdadeiramente uma notícia muito triste. Vi sempre o João como um grande amigo, desde pequenino, e ao longo da vida sempre vi reforçada essa imagem boa de franco sorriso e raciocínio preciso”, afirmou por sua vez o físico João Caraça.
“Na altura da criação do ICBAS a minha ligação ao doutor Monjardino foi através do doutor Corino [de Andrade] e do professor Nuno Grande e aprendi a apreciar as características excepcionais tanto pessoais como profissionais”, destacou também o patologista Manuel Sobrinho Simões, entre outros testemunhos.