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O mistério que cada imagem encerra, desmontado pelos fotógrafos da Magnum

O pé do Leshan Giant Buddha, construido no século VIII numa encosta, na província de Sichuan, China. “Esta fotografia é a capa do meu último livro, 'As Cores da China', e foi tirada em 1980. Hoje é proibido sentar no pé do Buda.” © Bruno Barbey / Magnum Photos
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O pé do Leshan Giant Buddha, construido no século VIII numa encosta, na província de Sichuan, China. “Esta fotografia é a capa do meu último livro, 'As Cores da China', e foi tirada em 1980. Hoje é proibido sentar no pé do Buda.” © Bruno Barbey / Magnum Photos

Por vezes, diante da objectiva de um fotógrafo, permanece visível apenas a ponta do icebergue. Nem sempre (ou quase nunca) é possível abraçar toda uma realidade específica numa só imagem. É sobre esta impossibilidade e sobre o mistério que encerra cada imagem que a presente edição da Magnum Square Print Sale, realizada em parceria com a Aperture Foundation, se debruça. Hidden, ou "Escondido", em tradução livre, é o tema do mercado online que abriu portas virtuais a 28 de Outubro e encerra a 1 de Novembro. Durante cinco dias, mais de cem fotografias de cem proeminentes fotógrafos mundiais, impressas em qualidade de museu, estarão à venda online por um preço que a Agência Magnum considera simbólico. Ernest Cole, Mary-Ellen Mark, Robert Capa, Steve McCurry, Cristina de Middel, Todd Hido, entre muitos outros, são alguns dos artistas representados nesta edição. 

“Hand on Train”, Staten Island, Nova Iorque, 1971. “A fotografia foi originalmente parte de uma série a que dei início em 1970, sobre sonhos infantis. Partes do corpo desmembradas, particularmente as mãos, fazem parte dos terrores nocturnos de muitas crianças. Um dia, entrei no comboio de Staten Island e pedi a um rapaz para colocar a mão através das costas de um banco de aspecto antigo. A luz invulgar, assustadora, e a vista quase fúnebre à janela foram a combinação perfeita para despertar ansiedade.”
“Hand on Train”, Staten Island, Nova Iorque, 1971. “A fotografia foi originalmente parte de uma série a que dei início em 1970, sobre sonhos infantis. Partes do corpo desmembradas, particularmente as mãos, fazem parte dos terrores nocturnos de muitas crianças. Um dia, entrei no comboio de Staten Island e pedi a um rapaz para colocar a mão através das costas de um banco de aspecto antigo. A luz invulgar, assustadora, e a vista quase fúnebre à janela foram a combinação perfeita para despertar ansiedade.” © Arthur Tress courtesy Aperture Foundation
Sem título (Diver). 2019. "Situada entre o real e o surreal, a representação directa e o significado interpretado, o terrestre e o etéreo, a imagem ilumina os potenciais poéticos e transformadores mais amplos da fotografia, tanto quanto aponta para a especificidade da minha experiência subjectiva."
Sem título (Diver). 2019. "Situada entre o real e o surreal, a representação directa e o significado interpretado, o terrestre e o etéreo, a imagem ilumina os potenciais poéticos e transformadores mais amplos da fotografia, tanto quanto aponta para a especificidade da minha experiência subjectiva." © Mark McKnight courtesy Aperture Foundation
Mineiros durante um exame médico, África do Sul, 1965. “De acordo com a lenda, Ernest Cole escondia a câmara na lancheira para poder captar imagens. Nunca ninguém percebeu como conseguiu enganar a segurança da mina. O ex-Presidente da África do Sul, e secretário-geral da União Nacional de Mineiros, Kgalema Mothanthle, sugeriu que Cole tenha procurado emprego na mina para ter um acesso tão incrível.”
Mineiros durante um exame médico, África do Sul, 1965. “De acordo com a lenda, Ernest Cole escondia a câmara na lancheira para poder captar imagens. Nunca ninguém percebeu como conseguiu enganar a segurança da mina. O ex-Presidente da África do Sul, e secretário-geral da União Nacional de Mineiros, Kgalema Mothanthle, sugeriu que Cole tenha procurado emprego na mina para ter um acesso tão incrível.” © Ernest Cole / Magnum Photos
Retrato de família com gato durante a Guerra do Golfo. Ramat Gan, Israel. 1991. “Em 1991, o Iraque atacou Israel com mísseis Scud ao longo de seis semanas. Israel, pela primeira vez, não retaliou, cedendo à pressão dos Estados Unidos, que liderava a ofensiva contra o Iraque. Porque os mísseis eram capazes de conter, no seu interior, armas químicas ou biológicas, os israelitas colocaram máscaras de gás e receberam instruções para se fecharem em suas casas. Estranhamente, não havia solução para homens com barba, como eu, nem para os animais de estimação, que não conseguiram usar máscaras.”
Retrato de família com gato durante a Guerra do Golfo. Ramat Gan, Israel. 1991. “Em 1991, o Iraque atacou Israel com mísseis Scud ao longo de seis semanas. Israel, pela primeira vez, não retaliou, cedendo à pressão dos Estados Unidos, que liderava a ofensiva contra o Iraque. Porque os mísseis eram capazes de conter, no seu interior, armas químicas ou biológicas, os israelitas colocaram máscaras de gás e receberam instruções para se fecharem em suas casas. Estranhamente, não havia solução para homens com barba, como eu, nem para os animais de estimação, que não conseguiram usar máscaras.” © Micha Bar-Am / Magnum Photos
Rapaz faz “back-flip” num campo de futebol. “Em Gafsa, uma região de mineração de fosfato no Sudoeste da Tunísia, uma empresa estatal chamada CPG extrai fosfato das encostas. As aldeias de Al-Rudayyif, Al-Mitlawi e Umm Al Arais são ricas em recursos, mas marginalizadas pelo governo. Permanecem pobres e poluídas, direccionadas para a riqueza. No entanto, as cidades costeiras prosperam.”
Rapaz faz “back-flip” num campo de futebol. “Em Gafsa, uma região de mineração de fosfato no Sudoeste da Tunísia, uma empresa estatal chamada CPG extrai fosfato das encostas. As aldeias de Al-Rudayyif, Al-Mitlawi e Umm Al Arais são ricas em recursos, mas marginalizadas pelo governo. Permanecem pobres e poluídas, direccionadas para a riqueza. No entanto, as cidades costeiras prosperam.” © Zied Ben Romdhane / Magnum Photos
Passageiros na estação de comboios Churchgate, Bombaim, Índia. 1995. “Estava a fotografar em Bombaim para um projecto, em 1996. Ouvi falar de vários comboios a chegar à cidade a abarrotar, de uma multidão que se dispersa. Às 8 horas, fiquei pasmado com os milhares de pessoas que saíram do comboio e desapareceram em apenas três ou quatro minutos. Um pouco mais tarde, novo comboio traria nova remessa de passageiros. Queria captar os corpos humanos a fundirem-se uns nos outros."
Passageiros na estação de comboios Churchgate, Bombaim, Índia. 1995. “Estava a fotografar em Bombaim para um projecto, em 1996. Ouvi falar de vários comboios a chegar à cidade a abarrotar, de uma multidão que se dispersa. Às 8 horas, fiquei pasmado com os milhares de pessoas que saíram do comboio e desapareceram em apenas três ou quatro minutos. Um pouco mais tarde, novo comboio traria nova remessa de passageiros. Queria captar os corpos humanos a fundirem-se uns nos outros." © Raghu Rai / Magnum Photos
“Aquacade“, Florida, EUA, 1953. “Fui em trabalho para a revista LIFE; tinha de fotografar um campeonato de ballet subaquático. Durante três dias, fotografei raparigas a girar debaixo de água."
“Aquacade“, Florida, EUA, 1953. “Fui em trabalho para a revista LIFE; tinha de fotografar um campeonato de ballet subaquático. Durante três dias, fotografei raparigas a girar debaixo de água." © Philippe Halsman /Magnum Photos
Christina. Akumal, México, 2000. “Uma imagem que nos parece tão vibrante e clara contém vidas que desconhecemos.” — David Alan Harvey
Christina. Akumal, México, 2000. “Uma imagem que nos parece tão vibrante e clara contém vidas que desconhecemos.” — David Alan Harvey © David Alan Harvey / Magnum Photos
“Kiss”, 2017. “'Kiss’ foi fotografada para a 'New Yorker', para acompanhar um artigo chamado 'Cat Person', de Kirsten Roupenian. Quando li o artigo, soube que a fotografia teria de ser real; teria de fotografar um casal real, com profundidade no toque, com as camadas e complexidades que só os verdadeiros casais têm. A história era sobre atracção e repulsa, aquilo que achamos que sabemos sobre uma pessoa mas que não sabemos até nos aproximarmos o suficiente.”
“Kiss”, 2017. “'Kiss’ foi fotografada para a 'New Yorker', para acompanhar um artigo chamado 'Cat Person', de Kirsten Roupenian. Quando li o artigo, soube que a fotografia teria de ser real; teria de fotografar um casal real, com profundidade no toque, com as camadas e complexidades que só os verdadeiros casais têm. A história era sobre atracção e repulsa, aquilo que achamos que sabemos sobre uma pessoa mas que não sabemos até nos aproximarmos o suficiente.” © Elinor Carucci courtesy Aperture Foundation
Changsha, província de Hunan, China. Julho, 2013. “Em 2013, voltei à China para completar as imagens que precisava para o meu livro “Party”. Procurava símbolos do comunismo que pudesse colocar em contexto com o neoliberalismo que se sente na República Vermelha.”
Changsha, província de Hunan, China. Julho, 2013. “Em 2013, voltei à China para completar as imagens que precisava para o meu livro “Party”. Procurava símbolos do comunismo que pudesse colocar em contexto com o neoliberalismo que se sente na República Vermelha.” © Cristina de Middel / Magnum Photos
Festa de Carnaval. Zürs, Áustria, Fevereiro, 1950. “Nenhum dos hotéis tinha quartos disponíveis, mas um deles tinha uma noite de gala. Só se podia entrar de máscara. Enrolei as minhas calças, virei a minha camisola ao contrário, pus a gravata na cabeça e fui para Zürserhof.” — Robert Capa, “The Winter Alps” (Janeiro de 1951).
Festa de Carnaval. Zürs, Áustria, Fevereiro, 1950. “Nenhum dos hotéis tinha quartos disponíveis, mas um deles tinha uma noite de gala. Só se podia entrar de máscara. Enrolei as minhas calças, virei a minha camisola ao contrário, pus a gravata na cabeça e fui para Zürserhof.” — Robert Capa, “The Winter Alps” (Janeiro de 1951). © Robert Capa / International Center of Photography/Magnum Photos
Metro de Nova Iorque, EUA, 1980. “Um dia vi este jovem rapaz no metro para Coney Island: absorvia tanta luz solar que parecia radiante. O seu tom de pele brilhante parecia condizer com as correntes que tinha em torno do pescoço. A cara dele está na sombra, o que me remete para 'escondido'. O encontro foi momentâneo, mas ele deu-se à câmara e desapareceu nas entranhas de Brooklyn. Quarenta anos depois, soube que este homem, que tinha 20 anos na atura, se tinha tornado num treinador conhecido.”
Metro de Nova Iorque, EUA, 1980. “Um dia vi este jovem rapaz no metro para Coney Island: absorvia tanta luz solar que parecia radiante. O seu tom de pele brilhante parecia condizer com as correntes que tinha em torno do pescoço. A cara dele está na sombra, o que me remete para 'escondido'. O encontro foi momentâneo, mas ele deu-se à câmara e desapareceu nas entranhas de Brooklyn. Quarenta anos depois, soube que este homem, que tinha 20 anos na atura, se tinha tornado num treinador conhecido.” © Bruce Davidson / Magnum Photos