Cafôfo, independente, quer ser presidente do PS-Madeira
Antigo autarca do Funchal ainda não é militante e precisa de pelo menos seis meses de filiação para poder ser candidato à liderança. Próximo congresso está previsto para Janeiro, mas pode ser adiado para dar tempo a Cafôfo.
Há desconforto no silêncio de Emanuel Câmara. O presidente do PS-Madeira que em 2017 desafiou (e ganhou, no ano seguinte) a liderança do partido a Carlos Pereira, agitando como principal bandeira a candidatura do independente Paulo Cafôfo à presidência do governo regional do arquipélago, não comenta a intenção, já manifestada pelo mesmo Cafôfo, de candidatar-se, agora, à chefia dos socialistas madeirenses.
“Não comento”, responde ao PÚBLICO, depois de esta semana, ter contornado a pergunta dos jornalistas que o aguardavam à entrada para a comissão regional do PS-Madeira. O que pensa da intenção de Paulo Cafôfo? Câmara, que o foi buscar à presidência da autarquia do Funchal, não diz o que pensa.
“Os meus palcos são outros”, atirou, referindo-se à presidência da autarquia do Porto Moniz (que lidera desde as autárquicas de 2013), cujo mandato, suspenso durante a campanha eleitoral para as legislativas regionais de 22 de Setembro, foi retomado logo depois das eleições.
Também Carlos Pereira, o anterior líder do partido, derrotado nas internas do ano passado pelo projecto Emanuel Câmara/Paulo Cafôfo, prefere não se alongar em comentários. Pereira, que foi cabeça de lista dos socialistas madeirenses nas legislativas de Outubro, considerou, aos microfones da RDP, “natural” a ambição do antigo autarca do Funchal, mas sublinha que é necessário respeitar os estatutos.
É que a vontade de Paulo Cafôfo em candidatar-se à liderança do PS-Madeira esbarra, para já, no calendário estatutário do partido. Para ser candidato, necessita de ter pelo menos seis meses de militância, e o próximo congresso, se as datas forem cumpridas, será já em Janeiro.
“Há uma decisão que eu tomei, é pessoal, que é a de me filiar no PS, dando continuidade à liderança deste projecto (o projecto não acabou no dia 22 de Setembro), e há também essa minha disponibilidade para liderar o PS”, resumiu aos jornalistas, sem adiantar como ou quando pretende formalizar essa candidatura.
O agora deputado no parlamento madeirense, ainda não se filiou – “esse momento ainda não aconteceu” –, mas já fala como militante. “Estou no partido para unir, não para dividir”, disse quando, ainda antes de tomar posse na assembleia madeirense, anunciou a intenção de avançar para a liderança do PS.
Cafôfo quer capitalizar os mais 50 mil votos que os socialistas tiveram em Setembro. Mais do triplo do que conseguiram há quatro anos, quando concorreram coligados com PTP, PAN e MPT, e coloca nas mãos dos órgãos do partido, primeiro, e nos militantes, depois, a concretização dessa vontade.
O presidente da Comissão Regional do partido, Bernardo Trindade, não vê problemas em adiar a data do próximo congresso. Os estatutos, garante ao PÚBLICO, têm essa flexibilidade. Mas, ressalva, só perante uma proposta concreta é que os conselheiros podem se pronunciar. “Essa proposta, [ainda] não existe”, sublinha o presidente da Comissão Regional do partido, órgão responsável pela marcação de congressos.
Mas há, no partido, quem questione a legitimidade de um independente querer saltar directamente para a liderança do partido, e levante dúvidas sobre a forma como as estruturas do PS-Madeira estão a facilitar esse caminho.
“Ninguém é mais importante do que os partidos. São o garante da democracia”, aponta Carlos Jardim, antigo administrador de uma empresa municipal (Frente Mar Funchal), nomeado precisamente por Cafôfo, quando este chegou à autarquia em 2013.
Próximo da anterior liderança socialista, Carlos Jardim admite ao PÚBLICO estar a “considerar” uma candidatura à presidência do PS-Madeira. “É um grande desafio. Enorme. Mas não posso ficar alheio à vontade dos militantes que tenho sentido”, justifica, considerando que a Madeira está numa “encruzilhada política e social”.
Nas regionais de Setembro, o PS alcançou um dos melhores resultados de sempre no arquipélago. Elegeu 19 deputados, mas não conseguiu evitar nova vitória do PSD, embora sem maioria. Os sociais-democratas conseguiram 21 deputados num parlamento de 47, e juntamente com o CDS (três deputados), formaram um governo de coligação, suportado por uma maioria parlamentar.