Circo
Um trapézio sem trapezista “é somente uma barra e duas cordas”
"O artista sobe ao palco. A plateia estremece. O coração dispara, as mãos transpiram, há borboletas na barriga." É sempre assim que começa um espectáculo de circo. Não foram diferentes aqueles que decorreram no Encontro Universitário de Circo de Madrid, visitado pela fotógrafa Rita Carmo Martins em Abril de 2019. O conjunto de dípticos fotográficos de Cartografia de Circo são fruto de mais de um ano de planeamento e foram pensados ao detalhe. "Decidi que só iria fotografar em formato quadrado e a preto e branco", refere a fotógrafa, natural de Vila do Conde, em entrevista ao P3. "Em certa parte, para fugir da rotina e trabalhar a fotografia de uma forma diferente da que costumo", justifica, remetendo para os projectos Viagem nas mãos, Erasmus Scrabble e Paletas de Flores que publicou no P3, em 2015 e 2017.
Do lado esquerdo da imagem, um objecto inane; do lado direito, o mesmo objecto a ser "manipulado, moldado, transformado" por um artista de circo. "Os dípticos representam um pouco o antes e o depois, o treino e o espectáculo, o inanimado e o animado", explica. "Um trapézio sem trapezista é somente uma barra e duas cordas. Queria mostrar que aquilo a que o espectador assiste envolve trabalho, tempo e amor (porque o circo não se faz de outro modo). Que é o artista o responsável por dar significado aos objectos quotidianos, típicos e/ou banais, e embalar a plateia nessa viagem pela imaginação."
A ligação de Rita, farmacêutica de profissão, com as artes circenses já tem mais de dez anos. "Intensificou-se nos últimos cinco", salienta. Representa a companhia de circo Coração nas Mãos, fez parte do corpo docente do Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC) e é "uma das responsáveis pela organização dos cabarets de circo do Porto". E acredita que a área do circo está "novamente a crescer muito no nosso país". "Existem cada vez mais festivais, escolas, espectáculos, oportunidades de mostrar o circo contemporâneo às pessoas. É muito importante educar e criar públicos para circo." Para que a arte circense não esmoreça. "Todos nós, em criança, fomos um bocadinho artistas de circo. Além disso, quem é que não gosta de passar um bom momento em família, em que pode sonhar, brincar e esquecer os problemas durante alguns minutos? O circo é esse lugar, é essa partilha."