Em estado de negação
Precisamos de uma visão de futuro. Precisamos de empresários, não de meros patrões. Precisamos da terra e do mar.
As últimas eleições para a Assembleia da República, ocorridas a 6 de Outubro, foram um forte sinal de alerta, para não dizer de pânico democrático. É preciso entender.
A abstenção ficou-se pelos 44,5%, os votos brancos pelos 2,5% e os nulos pelos 1,7%, ou seja, cerca de metade da população não votou, tendo as percentagens destes números, relativamente às eleições de 2015, aumentado respectivamente (+2,5%, +0,5% e +0,1%).
Estranhamente o número de eleitores, anunciados, aumentou. Gostaria de saber como. Não é possível um número de eleitores corresponder ao número da população.
Que dizer? Em primeiro lugar, poucos se movem por programas, sejam eles sustentados e consistentes ou, o que sucede na maioria dos casos, programas abstractos, inconsistentes e mesmo irrealistas. A vacuidade, os rancores internos e a gritaria política irritam e em nada contribuem para dignificar instituições e forças políticas.
Onde estão o PS, PSD, BE e CDU, face aos resultados eleitorais? Em negação. As pessoas já não se revêm senão em causas e na reivindicação de direitos, na revolta contra a carga fiscal que as esmaga, sem qualquer retorno público. Tudo estaria certo se as causas fossem adequadas e os direitos (justos na maioria) sustentáveis.
Só que um país para redistribuir tem de produzir e, para em primeiro lugar apoiar causas sociais, como a dos idosos, das crianças (incluindo crianças portadoras de deficiência, que nem ensino público digno desse nome têm), das minorias, do ambiente, que nem das suas ribeiras trata, limpando-as, são alguns exemplos. Mas que causas pode ter um país que não as pode sustentar dignamente? Pois esta é a questão.
Portugal é um país estranho. Explorar petróleo na costa causa indignação (não me consta que a Noruega, que o faz, tenha problemas ambientais, bem ao contrário).
Explorar lítio? Credo. Como se não existissem formas de obstruir danos ambientais. Todavia, o lítio é a fonte que alimenta alguns carros elétricos, os telemóveis por onde se marcam tantas manifestações em defesa do Ambiente, etc, etc, etc. Temos uma imensa costa marítima. E o que fazemos dela? Vão à Galiza – bem mais pequena – aprender e, já agora, as indústrias ligadas ao mar podem ser múltiplas, da pesqueira à cosmética, só para citar dois exemplos. Agora o alvo é o olival intensivo. Também não é possível, gritam alguns. Ora, a oliveira é das árvores que menos água consome, se não a que menos consome.
Queremos viver de quê, afinal? De um turismo que pode ser efémero (é deixar acalmar certas latitudes...). Queremos ser um país só de serviços? Ora os serviços humanos vão ser cada vez menos precisos com os avanços tecnológicos, como já se está a verificar.
Precisamos de uma visão de futuro. Precisamos de empresários, não de meros patrões. Precisamos da terra e do mar.
Não precisamos de fundamentalismos que não deixarão de nos empobrecer e de trazer à nossa sociedade os populismos e extremismos que se começam a instalar. É melhor ir tendo consciência. O pior é ignorar, em estado de negação.