Confrontos em Barcelona ganham força no segundo dia de protestos

Esta terça-feira registaram-se pelo menos 74 feridos e 25 detidos na Catalunha. Manifestações continuam contra a condenação de líderes independentistas e está marcada uma greve geral na sexta-feira.

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Os protestos em Barcelona,Os protestos em Barcelona LUSA/ENRIC FONTCUBERTA,LUSA/ENRIC FONTCUBERTA
Pelo menos três pessoas foram detidas, entre elas um menor de idade
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Pelo menos três pessoas foram detidas, entre elas um menor de idade Reuters/ALBERT GEA
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Os protestos na Catalunha contra a condenação de 12 líderes do movimento pela independência da região têm vindo a ganhar força no segundo dia de manifestações, que fica marcado por episódios de violência e um clima de alta tensão. Barcelona assume um cenário de verdadeiro campo de batalha, entre estradas bloqueadas, contentores do lixo a arder e objectos (como garrafas, paus e petardos) arremessados às forças policiais. Pelo menos 25 pessoas foram detidas durante as manifestações desta terça-feira em toda a Catalunha.

Durante a tarde desta terça-feira, os manifestantes tentaram furar o cordão policial que cercava a delegação do Governo catalão, envolvendo-se em violentos confrontos com as autoridades, segundo a agência de notícias espanhola Efe. Nas ruas estiveram cerca de 40 mil pessoas, de acordo com a polícia municipal (Guardia Urbana) citada pela Europa Press, depois de terem sido convocadas duas manifestações paralelas pelos Comités da Defesa da República (CRD) e pelas organizações independentistas Asamblea Nacional Catalana e Òmnium Cultural.

Em Girona, cerca de nove mil pessoas juntaram-se em frente à subdelegação do Governo e tentaram furar o perímetro de segurança, levando as autoridades a intensificarem a resposta policial. Pelas 23h30 (hora de Lisboa), a polícia já tinha desmobilizado do local. Em Lleida, os protestos reuniram mais de seis mil pessoas e espera-se que as manifestações prossigam durante as próximas horas. Os protestos continuam também em Barcelona, com os manifestantes reunidos no Passeig de Gràcia, onde tentam bloquear as estradas com contentores e objectos a arder. Embora os bombeiros tentem apagar os fogos postos pelos manifestantes, estes têm-se vindo a multiplicar.

Durante esta terça-feira, até às 23h30 (22h30 de Lisboa), o Sistema de Emergências Médicas espanhol (SEM) contabilizou 74 feridos durante os protestos (19 em Girona, 37 em Barcelona, ​​oito em Tarragona, dois em Sabadell e oito em Lleida), nenhum deles em estado grave, de acordo com o El País. Até às 00h30 (hora local) já tinham sido detidas 25 pessoas em toda a Catalunha, de acordo com um balanço dos Mossos d’Esquadra (a polícia catalã).

Depois de o Governo espanhol ter denunciado a acção de “grupos violentos coordenados”, a autarca de Barcelona, Ada Colau, recorreu ao Twitter para reagir aos protestos: “Somos uma cidade de paz e diálogo. Não queremos detenções injustas nem cargas [policiais] contra gente pacífica. Também não queremos incêndios como os desta noite em Barcelona: são inaceitáveis e põem em risco a segurança dos vizinhos”, disse.

Já Meritxell Budó, porta-voz da Generalitat, afirmou, momentos antes, à televisão espanhola que “a Generalitat é muito clara que o movimento independentista é um movimento cívico e pacífico”. “É certo que há um grupo de pessoas organizadas que mancham e danificam a imagem do independentismo”, acrescentou.

Mais de 100 feridos em dois dias

Desde a manhã de segunda-feira, os protestos já fizeram pelo menos 171 feridos, entre eles 40 polícias espanhóis e Mossos d’Esquadra (a polícia catalã). Entre os feridos com mais gravidade estão um homem que ficou sem um olho e outro que perdeu 40% da massa testicular.

O grupo de defesa dos direitos humanos Irídia informou, ao início do dia, que pelo menos seis dos 131 feridos civis que tinham sido contabilizados até então foram atingidos por balas de borracha ou outros projécteis não-letais durante as intervenções da polícia.

O manifestante que foi atingido na vista, e que acabou por perder um dos olhos já no hospital, estava no protesto nas imediações do aeroporto de El Prat, em Barcelona. O outro ferido grave, que perdeu 40% da massa testicular, foi um dos alvos da carga policial no Terminal 1 do mesmo aeroporto, segundo os media espanhóis.

Os protestos já levaram ao cancelamento de 155 voos, cortes de estradas e de linhas de caminho-de-ferro. Uma grande parte dos feridos civis (115) resultaram da investida policial no Terminal 1 do El Prat.

O Departamento do Interior do governo catalão já anunciou que vai abrir um inquérito à actuação dos Mossos d’Esquadra no protesto no aeroporto de Barcelona, onde uma carrinha da polícia foi vista a arrancar quando um manifestante subia pela parte da frente do veículo.

Para esta terça-feira eram esperadas novas manifestações, depois de os protestos de segunda-feira terem “alcançado os objectivos propostos”, segundo a organização independentista Tsunami Democràtic. 

Esta terça-feira, o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, anunciou a abertura de uma investigação à Tsunami Democràtic, para se saber quem está por trás do grupo.

“É claro que há investigações, temos uns serviços secretos eficazes e acabaremos por saber quem está por trás destes movimentos do Tsunami Democràtic”, disse o ministro, repetindo a promessa do chefe do Governo, Pedro Sanchez, de que não haverá indultos para os condenados.

Para além da convocação de protestos que devem arrastar-se por toda a semana, os sindicatos catalães marcaram uma greve geral para a próxima sexta-feira, 18 de Outubro, sob o lema “Pelos direitos e liberdade”, que terá como acção central uma manifestação a partir da tarde.

Na segunda-feira, o Supremo Tribunal espanhol condenou 12 figuras do movimento independentista a penas de prisão, nenhum deles por rebelião – a acusação mais grave que enfrentavam. Para além dos nove condenados por sedição, três outros foram condenados por desobediência e escaparam a penas de prisão.

A pena mais pesada foi aplicada a Oriol Junqueras, o ex-vice-presidente do governo catalão, condenado a 13 anos de prisão. Esta terça-feira, numa entrevista à agência Reuters a partir da cadeia, Junqueras disse que considera “inevitável” a realização de um novo referendo sobre a independência da Catalunha.

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