Novo visitante interestelar é avermelhado e tem uma cauda curta
Equipa de cientistas da Polónia e da Holanda fez o primeiro retrato do cometa 2I/Borisov, o segundo objecto interestelar que detectámos até agora.
É ligeiramente avermelhado, tem uma cabeleira longa e uma cauda curta. Estas são algumas das características do cometa 2I/Borisov, o segundo objecto interestelar que conseguimos detectar. Publicado esta segunda-feira na revista Nature Astronomy, este é o primeiro retrato oficial do cometa e mostra que a sua cor e morfologia são semelhantes às de outros cometas do nosso sistema solar.
A 30 de Agosto deste ano, o astrónomo amador Gennady Borisov detectou um objecto com a aparência de um cometa no seu próprio observatório. Num telescópio também fabricado por si, viu que esse objecto tinha uma cabeleira (uma nuvem de poeira e gás chamada “coma”).
Como astrónomos amadores e profissionais continuaram a observar esse objecto – na altura, designado C/2019 Q4 (Borisov) –, o Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional (IAU, na sigla em inglês) conseguiu calcular uma órbita preliminar, que sugeria que esse corpo teria vindo de fora do nosso sistema solar. A confirmação chegou a 24 de Setembro e a IAU rebaptizou-o como 2I/Borisov.
Este é assim o segundo objecto interestelar que conseguimos observar até ao momento. Em 2017, já se tinha observado o Oumuamua (nome havaiano para “mensageiro”), um asteróide interestelar com uma tonalidade vermelha escura e extremamente alongado, o que lhe daria a forma de um charuto.
Ao longo desse tempo, uma equipa de cientistas da Polónia e da Holanda analisava as características do 2I/Borisov. Logo depois da detecção do Oumuamua, esse grupo criou um programa de computador, o Triturador Interestelar, que faz uma análise exaustiva de dados online que indicassem o aparecimento de novos cometas e asteróides que se parecessem com objectos interestelares. A 8 de Setembro, o programa emitiu então um “alerta vermelho” de um possível objecto vindo do espaço interestelar.
Dias depois, a equipa observou o cometa através do Telescópio Gemini Norte, localizado em Mauna Kea (no Havai), e do Telescópio William Herschel, em La Palma (em Espanha). Esta análise mais pormenorizada à órbita do 2I/Borisov permitiu assim confirmar a sua origem extra-solar e descobrir algumas das suas características.
“O 2I/Borisov é um cometa com uma órbita altamente hiperbólica, o que significa que veio do espaço interestelar”, diz ao PÚBLICO Piotr Guzik, da Universidade Jaguelónica (em Cracóvia, Polónia) e um dos líderes deste trabalho. Além da sua tonalidade avermelhada, cauda curta e uma longa cabeleira, estima-se que o seu núcleo sólido tenha dois quilómetros de diâmetro.
De acordo com a equipa, estas características tornam o 2I/Borisov muito semelhante aos cometas nativos do nosso sistema solar. “Morfologicamente, parece um cometa típico do nosso sistema solar e a sua cor também é compatível com a que observamos nos cometas do nosso sistema”, descreve Piotr Guzik. O cientista refere ainda que o 2I/Borisov é maior e mais brilhante do que o Oumuamua.
Quanto à origem do cometa, uma outra equipa de cientistas da Academia Polaca de Ciências sugere que terá vindo de um sistema estelar binário a 13 anos-luz de nós conhecido como Kruger 60. Até agora, este artigo sobre a proveniência do 2I/Borisov foi divulgado no site arxiv.org (repositório onde físicos e matemáticos submetem informalmente os seus resultados ao escrutínio dos seus pares).
Próximo em Dezembro
“O 2I/Borisov é um pedaço de matéria vinda de outro sistema solar que fez uma visita ao nosso sistema solar. Ao investigarmos este objecto, estudamos o material que, há algum tempo, andou possivelmente a girar à volta de outra estrela”, frisa Piotr Guzik sobre a importância da descoberta do cometa. O 2I/Borisov e o Oumuamua confirmam ainda algo que os astrónomos já especulavam no passado: outros sistemas solares estariam a ejectar cometas e asteróides e esses corpos poderiam estar a passar, ocasionalmente, pelo nosso sistema solar.
Mas o 2I/Borisov ainda terá o seu grande encontro com a Terra. A sua maior aproximação será a 28 de Dezembro, quando ficar a 290 milhões de quilómetros de nós. “Nesse encontro, o cometa poderá ser observado sobretudo por telescópios profissionais, mas mesmo assim parecerá muito ténue. Poderá ser detectado por astrofotógrafos amadores, mas não será visível mesmo em telescópios amadores grandes”, indica Piotr Guzik.
Na aproximação à Terra, os cientistas esperam descobrir mais pormenores sobre este cometa. Neste momento, está a aproximar-se do Sol, ficando a 7 de Dezembro a apenas cerca de 300 milhões de quilómetros da nossa estrela, ao que Waclaw Waniak, também da Universidade Jaguelónica e autor do trabalho, salienta: “O cometa ainda está a sobressair entre o brilho do Sol e a aumentar o seu próprio brilho. Irá estar observável por muitos meses, o que nos faz acreditar que o melhor ainda está para vir.”