O primeiro objecto interestelar que detectámos tem a forma de um charuto

O Oumuamua, como se chama, deve ser vermelho escuro, extremamente alongado e terá uma composição rochosa ou com elevado conteúdo de metais. Este objecto terá vindo dos lados de Vega, uma estrela muito brilhante.

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Ilustração do objecto interestelar Oumuamua ESO/M. Kornmesser

Um ténue ponto de luz a deslocar-se no céu no último mês de Outubro tornou-se o primeiro objecto interestelar detectado pelos cientistas. E não tardou muito até que fosse publicado, esta segunda-feira, um artigo científico que descrevesse este objecto vindo de fora do nosso sistema solar. Chama-se Oumuamua (nome havaiano para “mensageiro”), a sua cor deve ser vermelha escura e será extremamente alongado – o que lhe dará a forma de um charuto.

Já a sua composição deve ser rochosa ou com elevado conteúdo em metais, refere a revista Nature, na qual foi publicado um artigo online esta segunda-feira. Ainda segundo as observações do Very Large Telescope, telescópio que o Observatório Europeu do Sul (ESO) tem no Chile, e de outros telescópios espalhados pelo mundo, este objecto viajava no espaço há milhões de anos antes de fazer uma visita ao nosso sistema solar.

“Tivemos que actuar muito rapidamente. O Oumuama já tinha passado o ponto da sua órbita mais próximo do Sol [em Setembro de 2017] e dirigia-se para o espaço interestelar”, diz Olivier Hainaut, membro da equipa do ESO, num comunicado de imprensa, que descreve a rapidez dos cientistas nesta missão.

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Imagem composta por observações do VLT e outros telescópios ESO/K. Meech

Recuemos então no tempo: a 19 de Outubro um telescópio no Havai detectou o tal ponto ténue de luz a deslocar-se no céu. E o que parecia ser um pequeno asteróide típico a descolar-se rapidamente era, afinal, algo bem diferente. E interessante.

Aquele telescópio no Havai, bem como outros, continuaram a seguir aquele objecto e permitiram perceber que vinha de fora do nosso sistema solar, devido a cálculos mais rigorosos da sua órbita. Originalmente, havia sido classificado como um cometa, mas depois foi reclassificado como um asteróide interestelar com o nome 1I/2017 U1, ou Oumuamua. “Designado como 1I/2017 U1, este objecto é claramente de fora do nosso sistema solar, e é o primeiro objecto interestelar detectado”, lê-se no artigo científico.

Quando foi descoberto, o Oumuamua continuava a viajar rapidamente e a afastar-se da Terra e do Sol. Como tal, o estudo da sua órbita, cor ou brilho também teve de ser rápido. E como é ele? Estima-se que tenha pelo menos 400 metros de comprimento e varia de brilho de um factor dez, à medida que gira em torno do seu eixo a cada 7,3 horas. “Esta variação em brilho invulgarmente elevada revela-nos que o objecto é extremamente alongado: é cerca de dez vezes mais comprido do que largo, como uma forma complexa”, explica no comunicado Karen Meech, do Instituto para a Astronomia, no Havai (Estados Unidos), e primeira autora do estudo.

Vindo de Vega

Além de se ter percebido que será denso e possivelmente rochoso ou com conteúdo metálico elevado, não terá quantidades significativas de água ou gelo. A sua cor vermelha escura dever-se-á ao facto de ter sido bombardeado por raios cósmicos durante milhões de anos. “Descobrimos que apresenta uma cor vermelha escura, semelhante aos objectos no sistema solar externo, e confirmámos que é completamente inerte, sem o mais pequeno traço de poeira em seu redor”, descreve ainda Karen Meech.

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O primeiro objecto interestelar detectado ESO/M. Kornmesser

Os cientistas sugerem que este nosso visitante interestelar terá vindo dos lados da constelação da Lira, na direcção aproximada da estrela Vega, uma das mais brilhantes do nosso céu nocturno. Contudo, salienta-se ainda: “Mesmo viajando à tremenda velocidade de cerca de 95 mil quilómetros por hora, demorou tanto tempo a chegar ao nosso sistema solar que Vega já não se encontra na posição que ocupava quando o asteróide partiu de lá, há cerca de 300 mil anos. O Oumuamua deve ter vagueado pela Via Láctea, sem ligação a nenhum sistema estelar, durante centenas de milhões de anos até ao seu encontro casual com o nosso sistema solar.”

Até ao Oumuamua, pensa-se que nenhum dos 750 mil asteróides ou cometas conhecidos tinha uma origem de fora do nosso sistema solar. Esta descoberta sugere assim que outros objectos possam estar a passar aqui pelo sistema solar, mas como são ténues e difíceis de detectar nunca foi possível observá-los até agora. O aperfeiçoamento dos telescópios está a tornar possível detectar estes objectos.

Os cientistas vão continuar a estudar o Oumuamua, como frisa Olivier Hainaut: “Continuamos a observar este objecto único. E esperamos determinar como mais exactidão de onde é que veio e para onde é que vai na sua próxima volta à nossa galáxia. E agora que descobrimos a primeira rocha interestelar, estamos prontos para as seguintes!” E agora ficamos a aguardar os próximos visitantes vindos de outras estrelas. 

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