Imóveis públicos estão no radar dos investidores privados
Responsável da Sotheby’s em Portugal sugere parcerias entre o Estado e os privados que sejam “benéficas para ambas as partes”. Miguel Poisson defende que “o boom imobiliário foi uma benesse” para o país e para Lisboa.
Agora que muitos edifícios privados foram reabilitados no centro histórico de Lisboa, as atenções dos investidores imobiliários estão a virar-se para os imóveis do Estado e da câmara municipal, muitos ainda sem destino definido, e para os arredores da cidade.
O director-geral da Sotheby’s Portugal, uma agência imobiliária especializada no segmento de luxo, acredita que, se se disponibilizar ao mercado esse património público, “há margem para se encontrarem soluções benéficas tanto para o sector público como para o sector privado”.
“Apesar de hoje termos uma cidade muito mais bonita, muito mais recuperada – e não tenho dúvidas de que o boom imobiliário foi uma benesse para o nosso país e para a capital, veio tornar a cidade muito mais segura, muito mais limpa, muito mais bonita, muito mais atraente – existe ainda uma quantidade enorme de imóveis devolutos”, afirma Miguel Poisson. “Imóveis que pertencem à câmara e ao Estado e que podiam ser utilizados para colmatar o défice que existe no mercado, tanto de venda como de arrendamento.”
O responsável daquela agência dá o exemplo do Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL), no topo do Parque Eduardo VII, cujo encerramento já foi decretado pelo Governo. A existência de uma prisão no centro de Lisboa “é absolutamente absurda”, sustenta Poisson, para quem “faria mais sentido ter ali residências de estudantes ou dar a oportunidade a investidores que, em acordos com a câmara municipal, pudessem encontrar soluções benéficas para ambas as partes”.
“Essa prisão poderia ser localizada numa zona mais de subúrbio da cidade e não numa zona tão prime”, diz. Os investidores poderiam, exemplifica, “desenvolver os seus negócios” com “uma certa percentagem para arrendamento a estudantes ou para jovens a custos controlados”.
O encerramento do EPL foi decretado pelo Governo no Orçamento do Estado para este ano e deve estar concluído até meados de 2020. O edifício central, que é classificado, não pode por isso ser demolido e a câmara de Lisboa já garantiu que quer lá instalar uma residência para estudantes. A intenção do Governo é criar nos terrenos circundantes o novo Campus da Justiça, transferindo os serviços que estão no Parque das Nações, mas o Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana do Campus de Campolide, aprovado pela câmara de Lisboa em 2014, deixa aberta a porta a que possam ser vendidos a privados e que ali surjam casas e hotéis.
Neste momento, a grande aposta imobiliária na capital é a frente ribeirinha de Beato e Marvila, confirma Miguel Poisson. “Vão ser construídos alguns milhares de apartamentos naquela zona, muitos escritórios, vai haver ali uma centralidade muito própria”, diz o responsável da Sotheby’s, sublinhando a proximidade ao Tejo como “ponto muito importante” para a “valorização elevada no futuro”.
“Portugal está no radar dos investidores”, diz Poisson, ainda que neste momento o crescimento do sector imobiliário se faça mais lentamente. “Notamos que há cada vez mais estrangeiros a vir para cá residir com as famílias. É um fenómeno que começou nos últimos dois anos e que se nota claramente que está a crescer.”
Esse é um dos factores que justifica que o número de construções novas de luxo tenha crescido em anos mais recentes, até porque os imóveis para reabilitar já escasseiam.
Por outro lado, com Lisboa a ficar com menos espaço para obra nova, os arredores também são olhados com interesse pelo sector. “Nos subúrbios de Lisboa, subúrbios do Porto, poderá haver investidores que, desde que esses sítios tenham boas ligações de transporte ao centro, queiram investir para arrendamento. Conseguem comprar a um preço bastante mais baixo e arrendar com uma rentabilidade maior. Conseguem-se melhores rentabilidades de arrendamento em locais periféricos do que no centro das cidades. A renda é mais baixa, mas proporcionalmente não é tão mais baixa”, comenta. “O que é importante é a variável do tempo, isto é, eu não poder demorar mais do que 30 ou 40 minutos para chegar ao meu local de trabalho. Uma coisa é perder esse tempo em filas compactas, outra é poder viver a 100km da capital, mas com um comboio de alta velocidade que faça chegar as pessoas. Há aqui também a possibilidade de serem desenvolvidos muitos bairros em zonas periféricas, mas que só serão viáveis efectivamente quando houver uma rede de transportes.”