Câmara de Lisboa duplica verba do Orçamento Participativo e só aceita ideias “verdes”
Barcelona e Roma vão proibir circulação de carros poluentes nos próximos meses, Calcutá planta uma árvore por cada bebé, Varsóvia terá um milhão de árvores novas até 2023.
As verbas para o Orçamento Participativo de Lisboa (OP) vão duplicar na próxima edição e as propostas dos cidadãos terão de ser exclusivamente “verdes”. Para assinalar o ano em que Lisboa é a Capital Verde Europeia, a câmara quer que, em 2020, o OP premeie apenas projectos com impacto ambiental na cidade.
A novidade foi revelada por Fernando Medina em Copenhaga, na Dinamarca, durante o Fórum Mundial de Autarcas C40, que terminou na sexta-feira. No fim de um painel em que discutiu com autarcas de Calcutá, Auckland e Varsóvia sobre “refúgios verdes”, perguntaram ao presidente da câmara lisboeta quanto orçamento destinava anualmente para o ambiente. Medina respondeu que não sabia responder, pois considera que construir ciclovias ou praças nos bairros da cidade é tão ambientalmente impactante como mandar plantar árvores.
E acrescentou que a próxima edição do OP contará com uma fatia de 5 milhões de euros do orçamento municipal, que está já acima dos mil milhões. Trata-se de uma duplicação do valor alocado ao OP nos últimos anos, 2,5 milhões de euros.
Grande parte desse dinheiro já era usado em projectos ‘verdes’ – pelo menos se olharmos para a palavra num sentido lato. Em todas as edições do OP, a construção de ciclovias e a melhoria de espaços públicos foram sempre propostas muito votadas pelos lisboetas. E, até hoje, os projectos mais acarinhados pelos munícipes foram a criação do Jardim do Caracol da Penha e a reabilitação do Jardim Botânico da Politécnica.
No ano passado, a câmara criou um “selo verde” para tentar sensibilizar os cidadãos a apresentarem ideias focadas na “sustentabilidade ambiental, optimização de recursos energéticos, diminuição da utilização de plástico”.
Uma árvore por bebé
Durante a sessão no fórum, Medina congratulou-se pela construção dos corredores verdes idealizados por Gonçalo Ribeiro Telles, que descreveu como muito populares entre os lisboetas e úteis “para combater as ondas de calor” na cidade. “Já não temos mais corredores para construir”, brincou.
Também disse estar “orgulhoso” do caminho percorrido por Lisboa para ter sido eleita Capital Verde Europeia no próximo ano. “Obviamente que não somos a mais verde das capitais, comparando com as capitais do norte”, reconheceu.
A escutá-lo estava a presidente da câmara de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, que explicou a sua ambição de plantar um milhão de árvores na capital polaca até 2023. Firhad Hakim, autarca de Calcutá, na Índia, assegurou que já mandou construir 2400 parques desde que assumiu o cargo, há sete anos. Disse também que existe um projecto naquela cidade que dá uma árvore a cada pai de cada vez que nasce um bebé. “Têm de a plantar e tratar dela como tratam da criança”, riu-se. Só não explicou se há castigos para quem não cumpra.
Durante dois dias, em Copenhaga, inúmeros autarcas gabaram-se de ter planos de plantação maciça de árvores. O presidente da câmara de Tel Aviv, em Israel, disse mesmo que uma árvore é plantada naquela cidade a cada hora que passa.
Nas cidades europeias o foco parece estar mais na limitação dos carros poluentes. “A partir de 1 de Novembro vamos banir os veículos a diesel do centro de Roma”, declarou Virginia Raggi, sublinhando que a proibição abrange uma área de 48 mil metros quadrados. Já Ada Colau, autarca de Barcelona, afirmou que uma interdição do mesmo tipo está prevista para Janeiro do próximo ano – e abrangendo a cidade inteira.
O PÚBLICO viajou a convite da Câmara Municipal de Lisboa