Corpo do ditador Francisco Franco vai ser exumado até dia 25

Governo espanhol quer o corpo fora do Vale dos Caídos antes do arranque da campanha eleitoral. Operação visa “fechar com dignidade o que não era digno 40 anos depois”.

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Sebastião Peixoto

O corpo de Francisco Franco, o único ditador da Europa ainda celebrado com um monumento, vai deixar o Vale dos Caídos até ao dia 25 de Outubro, anunciou o Governo espanhol. A exumação vai “fechar com dignidade o que não era digno 40 anos depois”, disse a vice-presidente do executivo, Carmen Calvo.

Foi há 16 meses que Governo socialista presidido por Pedro Sánchez deu início ao processo que não é apenas uma exumação. Trata-se de retirar simbologia ao monumento do Vale dos Caídos (que inclui uma basílica), erguido por Franco entre 1940 e 1958 a pouco mais de 40 quilómetros de Madrid em memória dos nacionalistas mortos na Guerra Civil de 1936-39.

Um monumento que transpira ideologia feito para “recordar aos vencidos que foram vencidos”, como disse ao PÚBLICO em 2018, quando a exumação começou a ser considerada, o historiador Ángel Llorente.

A partir de sábado, o monumento está encerrado para se proceder à operação. A data exacta em que o corpo do ditador vai ser retirado não foi divulgada, mas fontes do Governo citadas pelo jornal La Vanguardia falaram nos dias 19 a 22. Sánchez, que é agora primeiro-ministro em exercício – as eleições de Abril não deram uma maioria governativa e Espanha vai novamente a votos a 10 de Novembro , quer o processo concluído antes do arranque da campanha eleitoral.

A exumação, diz o El País, não necessita de qualquer perícia, mas pode implicar algumas dificuldades. É necessário retirar a lápide de 1500 quilos debaixo da qual há um caixão de zinco. Dentro deste, há o caixão de madeira. A dificuldade, segundo os especialistas ouvidos por este jornal, pode residir no estado do caixão de madeira, uma vez que passaram 44 anos desde a sepultura e por ser um terreno por onde passa um curso de água.

O plano é sepultar o corpo imediatamente, no cemitério Mingorrubio, em El Pardo, perto de Madrid, onde está sepultada a mulher do ditador, Carmen Polo.

Calvo disse que a família de Franco vai ser avisada com 48 horas de antecedência, para “poder assistir, se considerar oportuno”. Porém, diz o Vanguardia, os telemóveis dos Franco e de todos os que assistirem vão ser retirados para que imagens ou vídeos do momento não sejam preservados para a história.

A vice-presidente do governo disse que a operação vai ser feita “com absoluto respeito” pelo corpo e pela família, na presença da ministra da Justiça, Dolores Delgado, e dos meios de comunicação, que vão poder recolher imagens para “propiciar o direito à informação”, mas apenas já no espaço público da basílica. Mas Calvo notou sempre, ao anunciar a exumação, que Francisco Franco foi um ditador – “o artífice de um passado muito negro”, chamou-lhe.

Calvo sublinhou que esta foi uma decisão chancelada por três poderes: o parlamento, o governo e o Supremo Tribunal, que no final de Setembro determinou a retirada do corpo, depois de vários recursos da família do ditador. Nesta sexta-feira, os Franco interpuseram mais um, junto do Tribunal Constitucional. “Foi uma lei aprovada pelo parlamento e executada pelo Governo depois de uma resolução da mais alta instância da Justiça”, disse.

A oposição do prior do Vale dos Caídos, Santiago Cantera, à exumação não vai afectar a operação, segundo Carmen Calvo, explicando que o Governo “não teme qualquer acto dos religiosos do Vale” pois “a Igreja Católica nunca se opôs”.

No Vale dos Caídos estão sepultados 34 mil mortos da Guerra Civil, nacionalistas e republicanos.

“Queremos que o Vale dos Caídos seja apenas um lugar de paz e concórdia e o ditador não pode estar sepultado no mesmo lugar que as suas vítimas”, disse Calvo.

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