Nunca o BIP/ZIP foi tão importante para “derrubar os muros” dos bairros lisboetas

Estão apresentados 11 dos 44 projectos da edição de 2019 do BIP/ZIP. Vai na nona edição o programa que junta associações, organizações não-governamentais e juntas de freguesia em projectos que querem melhorar a comunidade. Vão ser investidos 2,2 milhões de euros.

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Para a secretária de Estado da Igualdade e Cidadania, é preciso “desocultar realidades e tornar visíveis problemas" que geralmente são "segregados” Francisco Romão Pereira

A extrema-direita bateu à porta do Parlamento e conseguiu mesmo entrar. E é por isso que, mais do que nunca, é importante “derrubar os muros” que se vão erguendo nos bairros lisboetas, “desocultar realidades e tornar visíveis problemas que geralmente gostamos de ter segregados”. Porque o discurso mais radical resulta “do desconhecimento, do preconceito”. As palavras são da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade na apresentação dos projectos vencedores da edição de 2019 do programa BIP/ZIP, que decorreu num local da cidade onde esses desafios estão bem presentes: o Bairro Alfredo Bensaúde, na freguesia dos Olivais.

Tomando como exemplo o programa desenhado pela autarquia, que há nove anos põe a população a pensar a sua cidade, Rosa Monteiro defende que é preciso “continuar a agitar as bandeiras da igualdade e da cidadania” e mostrar como é que estas se traduzem na melhoria de vida das pessoas, das comunidades, das organizações ou da sociedade. 

Esta terça-feira, foram apresentados os 11 projectos vencedores da edição de 2019, que incidirão sobre a zona oriental da cidade. Este ano, foram aprovados 44 projectos de 92 candidaturas, cuja execução vai envolver um financiamento total de 2,2 milhões de euros (1,7 milhões proveniente da autarquia e 523 mil euros angariado pelas próprias parcerias). Nos próximos dias, serão assinados os protocolos referentes aos projectos da zona norte, centro histórico e zona ocidental de Lisboa. 

Os projectos vencedores apontam, em grande parte, à comunidade, depois mais especificamente às crianças e jovens. E assentam em temáticas como a inclusão, a dinamização comunitária e a cidadania. Mas para a vereadora da Habitação e Desenvolvimento Local, Paula Marques, há um ponto a destacar nas propostas vencedoras: em 44, há 11 com “marca verde”, ou seja, projectos com temática ambiental que passam pela sensibilização, pela melhoria das acessibilidades ou pela gestão de resíduos.

Exemplo disso é o projecto “BioEscolas”, promovido pela Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio). Será a continuação e “disseminação” de um projecto que a associação já tem com a junta de freguesia dos Olivais para a introdução de alimentos biológicos nas cantinas escolares, explicou Jaime Ferreira, presidente da Agrobio. 

A ideia é chegar agora às escolas para promover a compostagem e o reaproveitamento dos desperdícios e devolver à terra o que não teve aproveitamento. Essa matéria orgânica poderá servir depois para as hortas escolares ou para os terrenos de agricultores da zona. 

Outros dos projectos vencedores, “Oriente Circular”, vai ensinar mulheres a andar de bicicleta. As aulas ficarão a cargo da Bicicultura e da Bicycle Mayor de Lisboa Ana Pereira, que organizará também passeios pela zona oriental da cidade, adequados ao nível de experiência que as diferentes participantes terão. “Às vezes uma pessoa pensa em ir do ponto A ao ponto B por onde está habituada a andar de carro, que são as vias principais cheias de trânsito, onde os carros andam muito depressa”, diz Ana Pereira. E isso pode ser desmotivador. Por isso, vão estudar rotas alternativas na zona oriental da cidade onde seja possível andar de bicicleta em segurança.

Este projecto é da Associação Mulheres sem Fronteiras que tem ainda outro em curso. O “Bensaúde vai à escola" tem por base um projecto da anterior edição do BIP/ZIP e quer capacitar as jovens do bairro Alfredo Bensaúde. “Muitas saíram da escola com o quarto ano. [Esta] é uma forma de elas voltarem e ter uma perspectiva de integração, de que no futuro podem ter uma profissão. Algumas comunidades ainda não valorizam a importância da escola para as crianças, especialmente para as meninas”, explica Alexandra Luís, presidente da associação. 

“Façam chegar a vossa voz aos poderes”

Nesta edição do BIP/ZIP, quer-se também uma utilização das redes sociais “saudável”. O projecto “Redes Sociais Saudáveis” tem como promotores os mesmos que deram aos nossos ouvidos a Rádio Zip Marvila. “Vai ser um projecto implementado na comunidade, mais especificamente nos jovens que são os grandes utilizadores das redes sociais até à família”, explica Bruno Batista, da Associação de Inter-Ajuda de Jovens “Eco-estilistas”. Como? Com workshops nas escolas para se debaterem as vantagens e desvantagens das redes sociais e promover “uma série de cursos profissionais, desde imagem, vídeo e desafiá-los a mudar a comunidade”. 

Para pôr estes projectos em prática em 53 territórios de intervenção prioritária — em toda a cidade são 67 —, estarão envolvidas 135 entidades, entre associações, ONG e juntas de freguesias, que terão como missão desenvolver 295 actividades.

Em nove edições, diz a autarquia, o programa BIP/ZIP chegou a 143 mil habitantes. Foram realizados 354 projectos e 2213 actividades, envolvendo 625 entidades em 67 territórios. Foram investidos 14,1 milhões de euros. Alguns dos projectos mais conhecidos que saíram do BIP/ZIP são a Avó Veio Trabalhar, a Cozinha Comunitária da Mouraria ou a Livraria Solidária.

“A energia Bip/ZIP é esta vontade de pensar, discutir e propor pela cidade. Nós sabemos que os processos participativos demoram bastante tempo, mas sabemos que é a única forma de construir cidadania”, disse Paula Marques, que, tal como a secretária de Estado, pede que se agitem as “bandeiras da cidadania”: “Os resultados eleitorais devem-nos fazer pensar sobre algumas surpresas que tivemos no Parlamento. As posições do poder público não podem ser não tomar parte. Para nós, na CML e no pelouro da Habitação e Desenvolvimento Local, é muito claro: tudo aquilo que tenha a ver com discursos xenófobos ou homofóbicos, nós rejeitamos. Façam chegar a vossa voz aos poderes, à gestão da cidade e, já agora, do país”. 

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