Encontrar o terreno comum
Saltando de tema em tema pela espuma dos dias, o CDS perdeu profundidade e não ergueu bandeiras suas, não fidelizou sectores, nem ganhou a amplitude necessária para que mais portugueses nele se revissem.
O CDS é composto por democratas-cristãos, liberais e conservadores. Durante muitos anos, sob a mundividência de Paulo Portas, aqueles que compõem estas três correntes conviveram sem grande dificuldade e permitiram que o líder fosse equilibrando as forças para delas retirar o que melhor lhe parecia servir o país e ir atualizando o discurso. Daí despontaram os melhores resultados do CDS na história recente.
Mas essa gestão de sensibilidades requer mestria. Nestes quatro últimos anos, essa harmonia foi-se deteriorando.
Muito embora tivesse sido uma oposição forte ao Governo, a incoerência nas posições do CDS foi-se registando. Às segundas mais conservador, à terça mais liberal, noutros dias mais democrata-cristão, por vezes confessional, algumas vezes socialista, para depois ser novamente liberal ou conservador consoante o tema ou o momento.
E é esse ziguezague de posicionamento que explica em grande parte este resultado escanzelado. O posicionamento é tudo. Pode levar – e creio que foi o que aconteceu – que, tentando ser uma coisa e outra, acabou por ser coisa nenhuma, deixando descontentes liberais, conservadores e democratas-cristãos.
O discurso tem de ser o resultado destas três correntes em vez de ser cada uma delas. Saltando de tema em tema pela espuma dos dias, o CDS perdeu profundidade e não ergueu bandeiras suas, não fidelizou sectores, nem ganhou a amplitude necessária para que mais portugueses nele se revissem.
Talvez embriagado pelos resultados nas autárquicas em Lisboa, criou expectativas que, quando não foram correspondidas, nomeadamente nas Europeias, rapidamente introduziram uma dinâmica de perda. Ao contrário do que aconteceu com o PSD, o CDS veio das autárquicas partindo de um patamar elevado. Sempre que essas expectativas eram defraudadas desaparecia-lhe chão. E as expectativas foram frustradas também pela amplitude de pensamento que, afinal, não existia num partido que dizia querer ser grande.
O caso das passadeiras de Arroios foi o mais paradigmático de todos. O CDS entrou em loop sobre um tema que nem devia ser tema, especialmente, numa sociedade contemporânea, que se quer tolerante e humanista. E quando o fez perdeu foco noutros assuntos realmente importantes. De repente, ganhou laivos de homofobia e chegou a emitir um comunicado dirigista dizendo que propostas do tipo não se iriam repetir. Foi a pedra de toque para se perceber que a liberdade individual afinal se limitava à economia. Que a visão ampla era afinal miopia, que a tolerância era frágil e que as soluções que importam ao Estado (como a questão dos professores) ficam reféns do tempo que se dedicam a dogmas.
É por isso tão importante que sobre matérias-chave deste tipo (se lhe quiserem chamar “fracturantes”, pois que chamem) o CDS se defina para encontrar uma resposta que contente a liberais, conservadores e democratas cristãos.
Insistir em evitar estes temas (e outros que o progresso tecnológico aí traz) é recusar ver o mundo como ele é e será. Acredito que há “common ground” entre as três grandes correntes do centro-direita que compõem o CDS. Se não o encontrar, o CDS nunca representará muitos mais que estes 200 mil portugueses que nele votaram nestas legislativas e ficará condenado a um nicho a que tantos chamam táxi.
Se o encontrar, poderá alargá-lo a outras forças políticas do centro-direita.