Já só há três países sem extrema-direita na UE. Ontem, Portugal deixou de ser um deles
Depois deste domingo, apenas Irlanda, Luxemburgo e Malta não têm representantes da extrema-direita.
Com a eleição de André Ventura, pelo partido Chega, para o novo Parlamento nas eleições legislativas de domingo, Portugal passa a fazer parte dos países da União Europeia (UE) com representantes da extrema-direita na Assembleia da República. Agora, os únicos países europeus sem deputados desses partidos são a Irlanda, o Luxemburgo e Malta, que vão ter eleições para os respectivos parlamentos em 2020, 2021 e 2022.
O Chega estreou-se no Parlamento com a eleição do seu líder, André Ventura, que conquistou o voto de 66.442 eleitores “descontentes com o sistema” e só em Lisboa, distrito pelo qual foi eleito, o recém-deputado conquistou 22.053 votos.
A necessidade de uma justiça mais punitiva e a castração química de pedófilos ou a instauração de pena de prisão perpétua são duas das propostas que André Ventura, ex-vereador da Câmara de Loures, defende.
Os partidos que sob denominação comum de extrema-direita que têm tido um crescimento acentuado nos últimos anos são heterogéneos e incluem populistas, nacionalistas, ultraconservadores e até neonazis. A subida destes partidos está associada a vários factores que vão desde a crise económica a migrações e à descrença nos políticos tradicionais, bem como à desconfiança em relação às instituições.
Nas eleições gerais em Espanha de dia 28 de Abril deste ano, o Vox elegeu 24 deputados para o Congresso, o correspondente a 2,5 milhões de votos, fazendo diminuir o número de países europeus sem a presença da extrema-direita nas assembleias nacionais. O Vox constituiu a preferência de 10,2% dos eleitores espanhóis, transformando-se na quinta força política no país depois destas eleições gerais.
No próximo mês, Espanha vai de novo a votos, uma vez que não houve condições para formar Governo. As eleições estão marcadas para 10 de Novembro. Esta será a quarta vez que os espanhóis vão votar para o Parlamento em quatro anos e a segunda em sete meses. A divisão da sociedade permanece.
Coligados ou sozinhos, os partidos de extrema-direita não só entraram na grande maioria dos parlamentos nacionais como conseguiram subir ao poder em nove países europeus, embora alguns dos partidos sejam mais forças populistas e nacionalistas do que verdadeiramente radicais de direita. Na Polónia, o Governo profundamente conservador e eurocéptico do Partido Lei e Justiça tem posições que o aproximam da extrema-direita. Tem ambições de refazer o sistema de justiça, seguindo o exemplo da Hungria, onde o Fidesz, de Viktor Orbán, que nominalmente não é de extrema-direita - faz parte do Partido Popular Europeu -, governa como tal. Existe um partido de extrema-direita húngaro, o Jobbik, que tem vindo a cair face à agressividade cada vez maior do Fidesz de Orbán, ferozmente anti-imigração e com um discurso de resistência a Bruxelas. Orbán coloca-se como um defensor da cristandade europeia. Estes dois países são alvo de procedimentos na UE por não cumprirem as regras do Estado de direito - mas sem consequências práticas até agora.
A República Checa tem no Presidente Milos Zeman um simpatizante da extrema-direita, embora inicialmente fosse considerado um político de centro-esquerda - é alguém com um percurso ideológico ziguezagueante. O seu actual primeiro-ministro, o empresário Andrej Babis, é um populista que não se classificaria exactamente como de extrema-direita, mas tem vários problemas com a Autoridade Anticorrupção da União Europeia, e sofre contestação interna por vários casos de conflito de interesses em que as suas empresas estão envolvidas.
A extrema-direita já chegou ao poder na Finlândia e na Itália, em governos de coligação, mas esses executivos caíram. Na Letónia, a coligação governamental inclui vários partidos de direita, incluindo um que é descrito como populista e anti-sistema, do género do Movimento 5 Estrelas, em Itália. Na Bulgária, a coligação governamental é liderada por um partido populista de esquerda e, na governação foi implicado um partido claramente de inspiração nazi. Na Bulgária, a extrema-direita está no Parlamento e também na coligação governamental.
Além disso, na Dinamarca, o Partido do Povo Dinamarquês dá apoio pontual ao partido do Governo. Em França, Marine Le Pen não conseguiu ganhar as últimas eleições presidenciais, face a Emmanuel Macron, mas o sistema político implodiu, reduzindo em muito a representação parlamentar dos partidos tradicionais. Partido Socialista e Os Republicanos (centro-direita) ficaram esvaziados, devido a guerras internas e o surgimento do fenómeno novo, “nem de direita nem de esquerda” de Macron, e ainda não recuperaram. A França Insubmissa, um partido de esquerda, está a ter problemas, inclusive na justiça. Resta como pólo de maior estabilidade a extrema-direita de Marine Le Pen, que se cimenta como segundo maior partido em França.
No Reino Unido, a Câmara dos Comuns não tem qualquer representante da extrema-direita, embora o Partido do Brexit, de Nigel Farage, tenha sido o mais votado nas eleições europeias (que os britânicos tiveram de organizar à pressa, porque o prazo inicial do “Brexit” não foi cumprido). O tradicional Partido Conservador, no entanto, deu uma fortíssima guinada à direita, por causa do processo de saída da UE, o que em alguns temas, não em todos, o aproxima muito da extrema-direita.