Número de mortes associadas a cigarros electrónicos nos EUA sobe para 18

Autoridades recomendam suspensão do consumo destes produtos, especialmente os que contêm THC, a principal substância psicoactiva da cannabis.

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Arnd Wiegmann/Reuters

Até ao início de Outubro, o número de casos de doenças pulmonares associadas ao uso de cigarros electrónicos ou dispositivos de vaporização aumentou nos Estados Unidos para 1080 e o número de mortes para 18, de acordo com um relatório divulgado esta quinta-feira pelo centro norte-americano de controlo e prevenção de doenças (CDC, na sigla inglesa). No entanto, o organismo afirma que a causa concreta de milhares de casos de doença e da morte de 18 consumidores continua por identificar, ainda que as suspeitas apontem como principal responsável a exposição a determinados compostos químicos.

As 18 mortes foram registadas em 15 estados norte-americanos, todas resultantes de doenças respiratórias associadas ao uso destes produtos, encontrando-se ainda sob investigação outros óbitos. A idade média das vítimas mortais é de 49,5 anos.

O balanço do CDC inclui dados de 48 estados norte-americanos e das Ilhas Virgens Americanas, revelando um aumento significativo dos números em relação à semana passada, quando se apontava para 805 casos de doenças respiratórias e 12 mortes associadas ao uso de cigarros electrónicos.

Principal ameaça: produtos com THC

Anne Schuchat, vice-directora do centro de controlo e prevenção de doenças dos EUA, sublinha, citada pelo diário USA Today, que o número de casos está a aumentar a um “ritmo acelerado” e que estão em causa “lesões muito graves”.

A entidade recomenda que se deixe de consumir estes produtos, especialmente se os mesmos contiverem tetra-hidrocanabinol (THC), a principal substância psicoactiva da cannabis, cujo consumo está associado a um maior número de casos. De uma amostra de 578 pacientes (que disponibilizaram informação sobre as substâncias usadas nos seus dispositivos nos três meses anteriores ao aparecimento de sintomas de doenças respiratórias), cerca de 78% revelou ter consumido produtos com THC através de cigarros electrónicos.

“Estes cigarros não devem ser consumidos por jovens, jovens adultos, mulheres grávidas ou pessoas que nunca consumiram anteriormente produtos à base de tabaco”, sublinhou Schuchat.

Segundo este balanço, cerca de 70% dos 889 doentes com lesões pulmonares analisados (sobre os quais existia informação detalhada) são homens. Aproximadamente 81% dos casos ocorrem em pessoas com menos de 35 anos e 37% são pacientes com menos de 21 anos (16% com menos de 18 anos).

Os dados coincidem com um estudo recente do centro médico Mayo Clinic que revela que serão os “vapores químicos tóxicos” (e não os óleos) os responsáveis pelas doenças associadas aos cigarros electrónicos.

Embora o centro de controlo e prevenção de doenças dos EUA seja cauteloso, sublinhando que a causa concreta das doenças ainda está sob investigação, o estudo da Mayo clinic, publicado esta quinta-feira na revista New England Journal of Medicine, garante que, na origem, podem estar os “vapores químicos tóxicos” libertados por estes produtos. O estudo analisou as biópsias de 17 pessoas com lesões pulmonares confirmadas ou possivelmente associadas aos cigarros electrónicos, incluindo de dois pacientes que morreram.

Apesar de estes estudos fornecerem já algumas luzes, Anne Schuchat admite que ainda é necessário continuar a investigar as causas específicas destas doenças e a exposição dos pacientes a estes produtos químicos.

Os sintomas iniciais das doenças respiratórias incluem tosse, falta de ar, fadiga, dores no peito, náuseas, vómitos e diarreia.

“Uma crise de saúde pública”

Embora alguns investigadores suspeitem que estas lesões possam estar relacionadas com uma acumulação de lipídeos (moléculas de gordura) nos pulmões, os autores do estudo da Mayo Clinic garantem que nenhum dos casos analisados mostrava sinais de pneumonia lipóide — uma doença causada pela aspiração de formulações lipídicas.

“Esta é uma crise de saúde pública, e muitas pessoas estão a trabalhar freneticamente a toda a hora para descobrir quais podem ser os culpados — e que produtos químicos podem ser responsáveis”, afirmou Brandon Larsen, patologista da Mayo Clinic e autor do estudo, num comunicado citado pelo USA Today. “Com base no que vimos no nosso estudo, suspeitamos que a maioria dos casos envolve contaminantes químicos, subprodutos tóxicos ou outros agentes nocivos presentes nos líquidos dos cigarros electrónicos”, concluiu.

O CDC alerta ainda para a possibilidade de estes produtos conterem substâncias ilícitas.

Num outro relatório do organismo, os dados mostram que, desde 2014 até 2018, a percentagem de adultos entre os 18 e os 24 anos que fumam cigarros diminuiu de 16,7% para 7,8%. Por outro lado, a percentagem de adultos na mesma faixa etária que usam cigarros electrónicos aumentou de 5,1% para 7,6%.

Na semana passada, o estado norte-americano de Massachusetts suspendeu, por um período de cerca de quatro meses, a venda de cigarros electrónicos. Já os estados do Michigan, Nova Iorque e Rhode Island pretendem restringir a venda de tabaco com sabores para vaporizadores (produto da família dos cigarros electrónicos). Em Junho, a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, aprovou a suspensão da venda de cigarros electrónicos em lojas físicas e online durante os primeiros sete meses de 2020.

O “surto” de doenças respiratórias associadas ao uso de cigarros electrónicos ou de vaporizadores nos Estados Unidos está a ser investigado pelo centro de controlo e prevenção de doenças dos EUA, pela agência reguladora Food and Drug Administration (FDA) e por outros departamentos e parceiros de saúde pública, de forma a averiguar quais as principais causas destas doenças e factores de risco.

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