Eterna saudade, CDS

O CDS é um partido dividido. Por um lado tem a sua Juventude Popular, cuja principal preocupação é proteger as crianças da ideologia do género e monitorizar a utilização de casas de banho nas escolas. Do outro lado da barricada está a facção liberal do CDS. E é liberal porque, como não tem princípios, o CDS pode ser tudo.

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LUSA/PAULO NOVAIS

Tudo indica que estas eleições representam o fim do CDS como o conhecemos. Depois de tudo o que este partido deu à democracia chegou a hora do adeus. É provável que fique atrás do PAN e que eleja muito poucos deputados. A própria direcção do CDS já reconheceu o seu fim e tratou de fazer um vídeo de despedida, que eu já comentei. Neste vídeo, alguns candidatos do CDS dirigem-se aos eleitores por tu. É um sacrifício louvável e que exigiu um treino intenso destas pessoas. Consta que tiveram de reanimar várias vezes o Dr. Telmo Correia que entrava em convulsões e tentava engolir a própria língua sempre que pronunciava a palavra “tu.” No final, tiveram de contratar o Dr. Ricardo Carriço para lhe dobrar a voz neste vídeo.

O CDS é, neste momento, um partido dividido. Por um lado tem a sua Juventude Popular, cuja principal preocupação é proteger as crianças da ideologia do género e monitorizar a utilização de casas de banho nas escolas. A sua principal bandeira política é garantir que jovens, que ousem identificar-se com um género diferente daquele que lhes foi atribuído à nascença, continuam a ser vítimas do bullying essencial para que continuem a sentir-se mal como são e decidam identificar-se com o género que Deus lhes atribuiu. Mesmo que, numa fase inicial, seja a fingir. O bullying não é mau se for construtivo e é uma excelente ferramenta que permite a crianças normais ajudarem crianças fora do normal, agredindo-as até estas decidirem ser normais. O Dr. Chicão é o líder desta facção de justiceiros do urinol.

Do outro lado da barricada está a facção liberal do CDS, que continua a ser o único partido liberal no nosso panorama político. E é liberal porque, como não tem princípios, o CDS pode ser tudo. Esta facção não se preocupa tanto com as casas de banho mas, sim, com o Estado socialista totalitário, que ousa cobrar impostos para financiar serviços que não sejam os juros da dívida. Defendem que o Estado deve cobrar menos impostos e o pouco que cobrar deve ser dado às pessoas sob a forma de vouchers, para que possam ir comprar serviços ao privado, seja saúde e educação. As pessoas podem ter piores serviços públicos mas, pelo menos, têm mais liberdade de escolha. E isso é que é importante. Ninguém morre à espera de uma operação se decidir nem sequer fazer essa operação porque não tem dinheiro para ir ao privado. Morre na mesma, mas, pelo menos, morre sem essa indefinição de saber se vai ser operado ou não. Isso é liberdade de escolha. O mesmo se passa na educação. O Estado deve poder financiar a liberdade de escolha das pessoas e financiar-lhes colégios para que elas não se vejam forçadas a colocar os filhos na escola pública. A escola pública deve servir apenas para as crianças cujos pais não se preocupam o suficiente com a sua educação.

Apesar de estar nesta encruzilhada, o CDS apresentou uma das melhores propostas para o ensino superior nestas eleições, quando sugeriu que alunos sem média para entrar na universidade possam pagar para entrar. É uma forma excelente de promover a meritocracia no ensino superior público. Se um jovem não conseguir entrar numa universidade pública entra a meritocracia dos seus pais em jogo e garante que eles conseguem entrar. Um pai de sucesso não tem culpa de ter um filho burro que não consegue entrar na universidade. Pode emprestar-lhes um pouco do seu mérito através de dinheiro e dar-lhe uma ajuda. Um sistema unicamente baseado no mérito individual deixa de fora muitos alunos de qualidade que têm como único defeito não terem inteligência ou competência académica.

É injusto que tenham de ser sempre as universidades privadas a absorverem estes jovens com dificuldades, dando-lhes mau nome e fama de universidades de último recurso para burros que nem ursos, a quem os papás têm de pagar os cursos ou, como se costuma dizer, membros da Juventude Popular. O modelo de negócio das privadas é vender cursos a futuros quadros do CDS, mas não tem de ser. A partir do momento em que os “ursos” da Juventude Popular podem pagar para entrar nas públicas, as privadas vão ter de se esforçar para atrair outro tipo de jovens que não sejam da juventude popular. Pode estragar um pouco o ambiente, mas pelo menos aumenta a diversidade.

A esquerda gosta muito de defender a diversidade, mas é importante abrir as portas das universidades públicas a maus alunos. Podem não ter grandes capacidades académicas, mas vão dar um excelente contributo para a praxe. Como estudam menos e os pais têm dinheiro para pagar as suas reprovações animam a vida académica. A praxe dá uma lição de vida valiosa aos jovens: a de que têm de obedecer à autoridade, se quiserem ter sucesso no mercado de trabalho. Uma lição bem mais valiosa do que qualquer conteúdo científico. Precisamos que haja jovens que tenham disponibilidade para faltar às aulas e ir para a praxe porque, se eles não existirem, quem é que vai ensinar aos estudantes universitários de que não podem ser rebeldes?

É claro que esta proposta também pode causar injustiças. É injusto que um estudante que paga uma propina maior ter exactamente as mesmas condições que aqueles que pagam menos. No fundo, são estudantes premium. Devem ter direito a lugares sentados nos anfiteatros, pipocas e petiscos quando estão nas aulas, duas ajudas durante os exames e poder saltar os anúncios durante as aulas e exames. Eu sei que não existem anúncios nas aulas, mas uma forma de financiar o ensino superior pode ser fazer com que os professores façam anúncios a marcas durante as aulas. É claro que nas aulas dos estudantes premium não têm anúncios. Já pagam que chegue.

Os alunos básicos têm muito a ganhar com os alunos premium. Já sofrem tanto por estarem numa universidade pública, pelo menos, com os alunos premium têm colegas com quem vale a pena fazer networking para variar. Colocar alunos premium em universidades é bom para a meritocracia dos alunos normais porque permite-lhes darem-se a conhecer a quem realmente pode valorizar o seu mérito.

Muitos alunos normais queixam-se que têm de emigrar quando acabam os cursos ou que não têm oportunidades. Mas isso é porque as pessoas que lhes poderiam abrir oportunidades no nosso país estão em privadas. Acabam por conviver apenas com colegas que, tal como eles, só entraram na universidade porque estudaram. Estudar é importante, mas vale muito pouco. Qualquer um pode estudar, mas nem todos podem ser CEO das empresas dos pais. Se deixarmos estes alunos que têm o factor x de sucesso irem para as públicas através de matrículas premium, os alunos normais podem ter a sorte de estes os aceitarem como amigos. Só têm de se vestir bem e não os envergonhar com a sua falta de sucesso.

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