Costa lança medidas à esquerda e ataca a direita, no dia em que “Messi” e CR7 encarnaram em Centeno

No primeiro dia de campanha, o secretário-geral do PS falou de propostas na área da saúde, habitação e transportes públicos. A ajudá-lo no combate a PSD e CDS estiveram Ferro Rodrigues, Mário Centeno e Fernando Medina.

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António Costa iniciou os comícios de campanha em Lisboa Francisco Romão Pereira
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Se este era o dia de arranque da campanha eleitoral na rua, António Costa fez subir ao palco do comício da noite de Lisboa a artilharia pesada do PS. Ou, o “CR7” que também é “Messi”, que criou “muito jogo” para outros marcarem golos e “não tem o passe à venda”, também conhecido por Mário Centeno, Ferro Rodrigues e Fernando Medina. A mensagem estava mais ou menos alinhada, a ideia era lançar as propostas para áreas caras à esquerda — saúde, habitação, alterações climáticas, transportes públicos — e no mesmo passo fazer duras críticas à direita, com o ministro das Finanças a ganhar o palco, os risos e os aplausos da plateia.

Neste fim de dia para os socialistas, não houve discursos sobre coligações políticas de futuro… nem do passado. Houve mostras de apreço aos parceiros de Governo, por Ferro Rodrigues, que lhes atribuiu parte do sucesso e lembrou que há quatro anos “passaram-se coisas bem piores nos debates e isso não impediu que houvesse soluções políticas e para o país”, numa tentativa de manter as pontes que se podem estar a queimar.

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Também não houve críticas de forma directa ao Bloco de Esquerda, que hoje ocuparam as notícias, mas houve uma indirecta de Medina para a “contra-informação” que corre e uma frase de Centeno que deixa na dúvida se não estaria a falar tanto para o PSD como para o BE, a quem já acusou de ter contas irrealistas: “Outros querem agora vestir o fato que desenhámos e preparámos, como se com o nosso fato todos parecessem homenzinhos. Querem que vos confidencie uma coisa? Não sabem sequer vestir esse fato”, disse para gáudio da plateia.

Centeno foi mesmo a estrela maior deste dia de campanha eleitoral e levava no bolso muitos e variados números, com a ajuda preciosa da última revisão do Instituto Nacional de Estatística, para destruir as críticas da oposição. “A direita portuguesa clamou meses a fio por um ajustamento estrutural que dizia que faltava, aqui está o crescimento estrutural nas contas públicas e externas. Só não vê quem está em negação”, disse. Quis deixar-lhes uma “saudação” especial. “Uma saudação a António Costa para que ela seja bem-vinda hoje ao Portugal do futuro e ao dr Rui Rio para que seja bem-vindo ao Portugal de sucesso, este Portugal que aqui hoje vos apresento”.

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Para Centeno, PSD e CDS quer dar-se “ao luxo de gastar o esforço dos portugueses numa nova temporada da séria já conhecida ‘choque fiscal’, como sempre o fez no passado em nome de uma ideologia cega e de má memoria”. E além disso “pedem que os portugueses passem um choque sem cobertura para pagarem as suas promessas eleitorais, vãs e irrealistas que nunca verão a luz do dia”.

O ataque feroz de Centeno, que é uma “mistura de CR7 com o Messi” e “tem dado muito jogo para outros marcarem”, como lhe chamou Ferro Rodrigues, deixou Costa satisfeito. O seu às de trunfo nestas eleições, em que a mensagem central se baseia nas “contas certas”, mereceu elogios logo na abertura do pano do seu discurso, numa resposta directa a Rui Rio: “Há quatro anos quando apareceu a coordenar o grupo de economistas que preparou o cenário macro, muita gente olhou para ele com enorme desconfiança. Como é bom quatro anos depois todos quererem o seu Centeno. Já devíamos ter desconfiado, quem desdenha quer comprar. O senhor Schäuble bem pode achar que ele é o Ronaldo, mas o passe não está à venda”, disse para riso generalizado dos socialistas.

A centralidade de Centeno na campanha socialista, que já vem de há alguns meses, personaliza a mensagem que Costa repete e que usa no seu apelo ao voto para “mais força no PS”. Dirigindo-se aos presentes na sala, disse que “a estabilidade é fundamental para a tranquilidade que recuperaram, é fundamental para manter a credibilidade internacional que o país conseguir recuperar, para a confiança” para gerar emprego. E também serve para atacar os críticos. Sempre a reboque dos dados do INE, Costa lembra que “quando alguns dizem que os números nada têm a ver com o dia-a-dia das pessoas” não é bem assim, porque quando se cresce acima dos 2%, isso significa “que pelo terceiro ano consecutivo vão ter uma actualização das pensões acima da inflação”.

A visão macro das contas públicas e o ataque de Centeno, sobretudo, permitiram a Costa dedicar-se a fazer algumas promessas em áreas que são caras à esquerda. Na área da saúde prometeu a introdução de duas novas especialidades nas Unidades de Saúde Familiar, pediatria e ginecologia, e a duplicação do investimento na rede de cuidados continuados.

Na habitação, prometeu que até 25 de Abril de 2024, haverá “habitação condigna” para as 26 mil famílias que ainda não a têm para quando forem os 50 anos do 25 de Abril. Já na área dos transportes, a promessa é a de “reforçar investimento para a renovação das frotas” e não deixar cair alguns projectos, como o Metro do Mondego. “Não vamos deixar parar”, prometeu. E estas promessas nos transportes são um dos pontos que fazem com que Portugal esteja na frente do combate às alterações climáticas: “25% dessas emissões [de carbono] são devidas ao modo de transporte. Mudar o paradigma é um contributo”.

O ambiente é algo que os socialistas não querem deixar por mãos alheias e foi Medina que indirectamente desferiu ataques ao PAN quando criticou o “oportunismo daqueles que descobriram hoje, em plena campanha, o combate às alterações climáticas. Posso dizer com orgulho que o PS é o único partido que há muitos anos trabalha todos os dias no combate às alterações climáticas. Não descobrimos isto hoje, nem ontem nem depois de uma manifestação que deu uma notícia de jornal”.

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Muitas maneiras de pedir uma maioria… absoluta?

A buscar de adjectivos continua para o lado dos socialistas sem que ninguém se atreva a pedir aquilo que o chefe, António Costa, já disse que não quer fazer, maioria absoluta. O apelo ao voto é claro. António Costa inaugura uma nova forma de evitar falar em voto para número de deputados, ou seja, em possibilidades de maiorias absolutas: “Quem quer um Governo do PS deve votar no PS”, pede.

Fernando Medina pediu uma “grande arrancada” para uma “grande vitória” no PS. Já Ferro Rodrigues estendeu-se mais nos adjectivos e pediu “uma votação massiva, uma vitória clara, uma vitória robusta” para evitar outros cenários. Parecendo falar em hipóteses que por agora ninguém coloca, Ferro lembrou como foi a formação da maioria deste Governo: “Há quatro anos o PS atirou o Governo do PSD e do CDS abaixo, mas só porque tinha uma alternativa. Não mandou abaixo por bota-abaixismo. Espero que isto sirva de exemplo para outros”, reforçou.

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