Iberdrola rescinde com consórcio e abre concurso para barragem no Tâmega
Conflito com a Mota-Engil tem mantido as obras paradas na barragem do Alto Tâmega, uma das três que vão ser erguidas pela Iberdrola.
A Iberdrola disse hoje que abriu concurso para a conclusão da central e barragem do Alto Tâmega, após rescisão com o consórcio liderado pela Mota-Engil, um processo que deverá estar concluído durante o primeiro trimestre de 2020.
“O contrato com o empreiteiro principal civil - Mota-Engil, Acciona e Edivisa - foi rescindido, mas as obras estão activas”, afirmou à agência Lusa David Rivera, director de projecto do Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET), que inclui a construção das barragens do Alto Tâmega, Daivões e Gouvães.
O responsável, que falava no final de uma reunião da comissão de acompanhamento do SET, fez um ponto de situação sobre a barragem do Alto Tâmega e referiu que as obras “estão activas” e que, neste momento, decorrem trabalhos de “limpeza e remoção do material que caiu na derrocada”, que ocorreu no local.
As primeiras notícias sobre a paragem nas obras na barragem do Alto Tâmega foram divulgadas pela imprensa em Junho e apontavam para a existência de “um problema geotécnico” e uma “suspensão temporária” dos trabalhos.
Hoje, David Rivera disse que a suspensão dos “trabalhos teve origem na detecção de um movimento da encosta direita acima da futura central hidroelétrica”.
Como medida de precaução, a Iberdrola, segundo o director de projecto, resolveu suspender a obra e “fez todos os trabalhos de monitorização e de estudo do que estava lá a acontecer”.
“Perante esta situação foram feitos todos os ajustes precisos no projecto, mas essencialmente o projecto não vai sofrer alterações. Haverá alguma alteração que já foi submetida às autoridades e que será avaliada por eles e aprovada”, salientou.
David Rivera sublinhou que a eléctrica espanhola quer “cumprir os prazos que tem comprometidos com o Estado português” e, perante esta situação, considerou que a “maneira mais rápida de acabar o aproveitamento” era a rescisão. O prazo para a conclusão da obra é Junho de 2023.
“Perante o desentendimento que já tínhamos previamente com o empreiteiro, consideramos que o mais rápido é rescindir o contrato e já começamos o processo de licitação para continuar os trabalhos”, salientou.
David Rivera adiantou que o concurso para a construção da barragem e da central “já está lançado” e disse que a escolha do “novo empreiteiro” deverá estar concluída até ao final do primeiro trimestre de 2020.
O jornal Público de hoje refere que este conflito já chegou a tribunal, com o consórcio que é composto pela Mota-Engil, Acciona e Edivisa a interpor uma providência cautelar contra a Iberdrola.
David Rivera referiu que a empresa já foi notificada e está “a avaliar”.
“É uma queixa jurídica e tem que ser estudada com pormenor”, sustentou.
A agência Lusa tentou obter esclarecimentos junto da empresa Mota–Engil que disse não comentar o assunto.
Em Parada de Monteiros, a aldeia de Vila Pouca de Aguiar que fica mais próxima do local onde está a ser construído o paredão da barragem, praticamente não se detecta movimento relacionado com o empreendimento.
“Agora não, como está nesta fase que parou, tem sido muito pouco”, afirmou Filipe Dias, habitante desta localidade.
Junto à aldeia foi construída uma estrada de acesso ao empreendimento para desviar o trânsito do centro da localidade. Numa primeira fase, ainda se viam trabalhadores por ali, mas depois da construção das cantinas na zona de obra, o movimento diminuiu e, agora, é praticamente nulo.
“Acho que esta paragem é apenas um percalço, porque da maneira como a obra já está tem que andar para a frente, seja de que maneira for”, referiu Filipe Dias.
O Sistema Electroprodutor do Tâmega é um dos maiores projectos hidroelétricos na Europa, nos últimos 25 anos, contemplando a construção de três barragens (Daivões, Gouvães e Alto Tâmega) e um investimento de 1.500 milhões de euros.
O complexo contará com uma potência instalada de 1.158 megawatts (MW), alcançando uma produção anual de 1.760 gigawatts hora (GWh), ou seja, 6% do consumo elétrico do país.