Desafios do ano escolar: ver, imaginar, criar

Há uma imagem de escola e de professor na qual fomos sendo socializados e que tem vindo a contribuir para a cristalização das práticas escolares.

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Francisco Romao Pereira

No início de mais um ano escolar, e num tempo de almejada renovação da educação em Portugal, importa refletir sobre os desafios que se colocam às escolas. Entre muitos passíveis de serem enunciados, destaco sete, que sucintamente explicito:

  1. Num sistema tendencialmente cego, é imperativo atender à singularidade, diversidade e heterogeneidade dos alunos.
  2. Isto implica elevar a eficácia do diagnóstico pessoal de cada aluno, equacionar formas mais flexíveis e eficazes de os agrupar, de lhes alocar docentes, de gerir os tempos e os espaços escolares para, assim, podermos também recorrer a estratégias de ensino e de avaliação que não deixem ninguém para trás;
  3. Romper com as rotinas paralisantes. Há uma imagem de escola e de professor na qual fomos sendo socializados e que tem vindo a contribuir para a cristalização das práticas escolares. Este facto acaba por minar, em muitas escolas, qualquer tentativa de inovação, procurando-se a manutenção da velha ordem. O desafio é o de ousarmos sair da nossa zona de conforto (que é, quase sempre, uma zona de paralisia) e percebermos as inequívocas vantagens, para professores e alunos, de desenharmos novos mapas mentais;
  4. Criar comunidades profissionais de aprendizagem. Cada escola deve ser uma comunidade de aprendizagem, ou seja, um local onde todos aprendem: alunos, professores e funcionários. Mas para tal, é importante criar tempos e espaços para que as pessoas se conheçam e se reconheçam, construindo condições para um trabalho colaborativo que a todos enriqueça. Aprender e desaprender juntos é uma condição essencial de renovação e metamorfose;
  5. Dar sentido ao trabalho escolar. As escolas, mais do que qualquer outra instituição, deveriam ser organizações inteligentes. No entanto, ainda assistimos, em muitos casos, a um défice de pensamento estratégico e a uma ausência de questionamento que impedem o seu crescimento e desenvolvimento. Será importante que cada vez mais as escolas se questionem sobre o sentido do trabalho que é proposto aos alunos, mas também aos docentes, sob pena de se tornarem organizações paralíticas e acríticas e falharem, portanto, na sua missão central;
  6. Criar e manter uma cultura de avaliação sistemática. Os processos de auto-avaliação das escolas são centrais para uma tomada de decisão informada e eficaz. O desafio é o de instituir processos de avaliação que, mais do que servir para construir gráficos e estatísticas, tornando-se um fim em si mesmos, sirvam as pessoas e as organizações, promovendo uma reflexão sistemática e a adoção de práticas mais eficazes. Avaliar para compreender, para conhecer e para melhorar é uma dimensão essencial do desenvolvimento das organizações educativas;
  7. Abrir-se às forças vivas da comunidade local. Uma escola será tanto melhor quanto mais tiver a capacidade de se inserir territorialmente, abrindo-se a uma cooperação saudável com outras instituições de educação e formação locais que possam potenciar a sua ação e a sua eficácia. Este pode ser o outro nome da autonomia, isto é, uma interdependência que faz das escolas motores solidários do desenvolvimento local;
  8. E, por fim, mas talvez o mais importante dos desafios, será o de assumir uma profissionalidade docente consciente, que liberte os professores de uma ordem vassálica e lhes permita ser autores e criadores de oportunidades de aprendizagem mais bem-sucedidas para todos. Isto significa, entre outras coisas, assumir a liberdade de criação e de libertação de uma ordem centralista que, sob a capa da autonomia e flexibilidade, coarta as possibilidades de desenvolvimento.

Estes são alguns dos desafios que farão das escolas “comunidades educativas”, dos professores sujeitos mais autores do seu destino e dos territórios locais dinâmicas mais promissoras de realização humana e social.

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