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A vida nos colonatos da Cisjordânia: “Não importa onde estamos, Israel controla tudo”
Até hoje, Israel construiu mais de 120 colonatos na Cisjordânia. Se há colonos que vivem nestes locais por motivos ideológicos, outros apenas procuram um local mais barato para viver. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu voltou a prometer anexar o Vale do Jordão como promessa eleitoral, o que tem alarmado os palestinianos que ali vivem. Os dois lados do conflito pela Reuters.
O palestiniano Ali Farun diz à Reuters, com revolta: "Pouco interessa se eles anexam Ma'ale Adumim [o terceiro maior colonato israelita na Cisjordânia] a Jerusalém ou se permanece território da Cisjordânia. Eles controlam tudo, de uma forma ou de outra."
As diferenças são bem visíveis. Entre 1997 e 2018, as imagens de satélite obtidas pela Reuters do território da Cisjordânia mostram uma área que se tornou praticamente irreconhecível. Ao longo dos anos, segundo dados da agência noticiosa, Israel construiu mais de 120 colonatos na Cisjordânia; o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu, nas últimas eleições, anexá-los a Israel. E agora, para as eleições legislativas de 17 de Setembro, reiterou a promessa de anexar o Vale do Jordão, alarmando os palestinianos. A Reuters afirma também que a maior parte da comunidade internacional considera os colonatos ilegais e que esses são o maior obstáculo ao processo de paz israelo-palestiniano. Uma visão que Israel rebate.
O povo judeu já habita naquela região desde tempos bíblicos, afirma Mike Nasser, artista americano de 63 anos, que vive em Ofra, um dos primeiros colonatos a estabelecer-se na Cisjordânia, em 1967. "É ridículo dizer que os judeus não podem viver aqui", realça. "Podem perguntar a quem quiserem: é fácil perder a ligação com os antepassados e com a terra onde viveram? É óbvio que não. Foi a História que criou o povo judeu. E a Bíblia tem tudo a ver com isto." Do outro lado da rua vive Azmir Musleh, que não tem dúvidas ao afirmar que a terra pertencia aos seus antepassados árabes e foi roubada. "Esta terra é o meu corpo e a minha alma. É o coração e alma da minha família. O meu pai, o pai do meu pai e o pai dele já plantavam sésamo, figueiras, oliveiras."
Nem todos os que vivem nos colonatos israelitas o fazem por ideologia. Há quem procure apenas um local barato para viver. Para a maioria, os colonatos contíguos a território israelita são parte de Israel e não ilhas israelitas perdidas na Cisjordânia. Michele Coven-Wolgen, que vive no colonato Ma'ale Adumim, acredita que a sua cidade, "que tem até um centro comercial", deveria ser simplesmente anexada a Israel. Afinal, a vida no colonato pouco difere de outra cidade israelita. As escolas são boas, o transporte para Israel é muito acessível. Em todo o caso, quem lá vive mantém a versão de que a presença judaica na Cisjordânia é apenas o cumprimento de uma promessa bíblica, transmitida por Deus.
"Este território pertence ao povo de Israel, não tenho quaisquer dúvidas", afirma peremptoriamente Itai Zar, o fundador do colonato Havat Gilad, na Cisjordânia, em 2002, onde hoje residem cerca de 50 famílias. O seu irmão foi morto por militantes palestinianos antes da fundação. "Há 18 anos viemos para cá, éramos apenas uma família, e hoje somos uma comunidade próspera." Por outro lado, a partir da aldeia palestiniana Sarra, Bothena Turabe, palestiniana de 43 anos, testemunhou o lento mas progressivo crescimento de Havat Gilad. "Durante a noite, olhas e parece que não há lá nada. Na manhã seguinte olhas e vês mais caravanas. Esta terra não é vossa, vocês estão a roubá-la."
Beitar Illit é o colonato em território palestiniano que apresenta um ritmo de crescimento mais acelerado e é casa de uma crescente comunidade de judeus ultra-ortodoxos. É, mais uma vez, o argumento financeiro que traz a maioria para este colonato feito à base de betão e alcatrão — e não à base de cabanas e estradas de terra, como é o caso de Havat Gilad. Blocos residenciais, numerosos e densos, são a casa de uma comunidade composta por famílias numerosas. "Não viemos para cá por razões de ordem ideológica", garante à Reuters um comerciante de Beitar Illit. "Seria impossível para nós conseguir comprar casa noutro lugar que não em colonatos." Para Mohammad Awad, agricultor de 64 anos a viver em Wada Fukin, uma aldeia palestiniana vizinha, é irrelevante o motivo que leva alguém a mudar-se para um colonato. "É impossível haver paz entre as duas partes porque no centro do conflito está um pedaço de terra que foi tomado à força. Como é que eu posso deixar alguém roubar a minha terra, continuar a viver nela e a desfrutar e, ao mesmo tempo, conviver pacificamente com o ladrão?"