Renzi pondera lançar novo partido e deixar a coligação governamental em risco

Aliados do ex-primeiro-ministro dizem que os esforços de Renzi para se reconciliar com o Partido Democrático se esgotaram e vêem oportunidade no centro do espectro político italiano.

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Matteo Renzi, hoje senador, durante um debate ETTORE FERRARI / EPA

O ex-primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, está prestes a abandonar o Partido Democrático (PD, de centro-esquerda) e a fundar uma nova força política centrista, num esforço de tentar captar votos moderados, segundo dois aliados.

Uma decisão destas, dias depois de o PD ter entrado numa coligação com o Movimento 5 Estrelas (populista e eurocéptico), tem o potencial de agitar a política italiana e irá dificultar a tarefa do primeiro-ministro, Giuseppe Conte, para manter o seu Governo à tona.

Renzi, que esteve à frente de um Governo do PD entre 2014 e 2016, foi decisivo em juntar a nova coligação, depois de a Liga, de extrema-direita, ter abandonado os seus antigos companheiros de coligação com a esperança de forçar eleições antecipadas.

No entanto, o agora senador tem tido uma relação contenciosa com o PD desde que se demitiu como primeiro-ministro em 2016, e têm havido rumores persistentes de que estaria a planear fundar um novo partido, levando consigo um grupo de deputados descontentes.

“É como aqueles casais que fizeram tudo o que podiam para continuarem juntos, mas no final já não conseguiram mais”, disse ao La Repubblica o deputado Ettore Rosato, próximo de Renzi.

Renzi, que tem entrado em choque com a ala esquerda do PD, rejeitou comentar as notícias sobre a sua saída iminente, dizendo apenas que iria pronunciar-se sobre os seus planos num encontro com apoiantes no próximo mês.

“Irei falar sobre política nacional [nessa altura] e serei claro como nunca fui no passado”, afirmou Renzi este domingo.

Dirigentes do PD apelaram para que recuasse. “Não faça isso. O PD é a casa de todos, a sua casa, a nossa casa”, disse o ministro da Cultura e dirigente destacado do partido, Dario Franceschini. “Vamos desafiar a direita unidos”, escreveu no Twitter.

A imprensa especula que Renzi possa levar consigo 31 parlamentares das duas câmaras, incluindo pelo menos um ministro e dois secretários de Estado.

Coligação em risco

Embora qualquer um dos partidos possa manter-se na coligação, isto iria complicar a vida de Conte, uma vez que teria de navegar por mais um conjunto de exigências políticas para manter o seu Governo em funções.

No entanto, Rosato e outro apoiante de Renzi, Ivan Scalfarotto, dizem que o novo partido poderia fortalecer o Executivo ao atrair dissidentes do Forza Italia, de Silvio Berlusconi, aumentando a maioria parlamentar.

O apoio ao Forza Italia caiu desde as eleições de 2018 enquanto a força da Liga tem subido. Os aliados de Renzi estão convictos de que esta situação deixou um vazio no centro do espectro ideológico que pretendem agora ocupar.

As raízes históricas do PD remontam ao outrora poderoso Partido Comunista e o seu novo líder, Nicola Zingaretti, está empenhado em recuperar o apoio dos dissidentes de esquerda que abandonaram o partido quando Renzi chegou ao poder.

“Não somos o partido que canta a ‘Bandeira Vermelha’”, afirmou Rosato.