Elite, a série que põe Espanha no quadro de honra do Netflix
Tem todos os ingredientes de uma série juvenil em ambiente de escola secundária — sexo, drogas, a influência das redes sociais —, mas o verdadeiro motor da narrativa é o fosso social que existe entre ricos e pobres. Já foi confirmada uma terceira temporada e há mais séries espanholas na agenda.
A par de La Casa de Papel — a série não inglesa mais vista do Netflix —, o drama juvenil Elite é mais uma série espanhola que fortalece a produção estrangeira da plataforma dominada pela língua inglesa. A segunda temporada ficou disponível no Netflix na semana passada e, num impulso para diversificar idiomas e produções, está já confirmada uma terceira temporada — e ainda uma mão-cheia de outras séries espanholas em preparação para 2020.
Estas produções juntam-se a outras já disponíveis que têm também o castelhano como idioma, a maior parte delas produzida em Espanha: Paquita Salas, As Telefonistas, La Casa de las Flores (México), Vis a Vis, Farinha ou Alta Mar. As séries não faladas em inglês ainda são uma minoria no serviço de streaming, mas há algumas que se têm destacado: Dark é falado em alemão, por exemplo; Baby é italiana; The Rain é dinamarquesa. Em português, a maior parte é brasileira, como Coisa Mais Linda, 3% ou O Mecanismo.
“No Netflix queremos produzir histórias locais que tenham atractividade internacional — e a Espanha tem constantemente criado televisão maravilhosa tanto para Espanha como para o mundo”, disse o vice-presidente responsável pela pasta espanhola da plataforma, Francisco Ramos, citado pela Hollywood Reporter. A revista revelava em Fevereiro que o Netflix tem mais cinco produções espanholas na manga, agendadas para 2020. Uma das séries é precisamente do co-criador de Elite, Carlos Montero, que adaptará o seu romance El Desorden que Dejas para os pequenos ecrãs num formato de drama escolar composto por oito episódios. Haverá ainda uma série de animação, uma comédia de super-heróis, uma mini-série de três episódios e uma comédia dramática com protagonistas femininas. Os filmes também entram para a lista: A Pesar de Todo, A Quien Te Llevarias a Una Isla Desierta (já disponíveis) e Decisiete e Hogar, ainda por estrear.
Trama de Elite
Elite começa por contar a história de três alunos desfavorecidos que ganham uma bolsa que lhes permite estudar no colégio de luxo Las Encinas, frequentado sobretudo por alunos filhos de personalidades ou de pais ricos. Depois de os alunos fazerem a vida negra aos novos estudantes, a trama de Elite centra-se sobretudo na morte de uma das personagens (Marina, interpretada por María Pedraza) — e em toda a investigação policial para perceber quem terá cometido o crime.
Na segunda temporada, a fórmula não muda e perpetua os vestígios e mazelas desse crime, continuando-se em busca do verdadeiro culpado. A injecção de suspense e novidade é então dada com o desaparecimento de um dos protagonistas e com a introdução de três novas personagens (Valerio, Cayetana e Rebeca). A ideia de desaparecimento e de morte não é inédita em séries do género — veja-se o exemplo de Por Treze Razões ou Pretty Little Liars — e Elite tenta diferenciar-se juntando à receita ingredientes como a influência das redes sociais, a sexualidade, a toxicodependência, a religião, e até o incesto. Mas a grande alavanca de toda a história é a contenda entre classes sociais, omnipresente em todos os episódios e visível na falta de oportunidades, na diferença de tratamento, na impunidade dos privilegiados ou nas injustiças em que as personagens mais desfavorecidas se vêem envolvidas.
A série chegou aos ecrãs da plataforma de streaming um ano depois da estreia de La Casa de Papel, a série que rapidamente se tornou um fenómeno e que também já tem uma quarta e última temporada na agenda. Três actores fazem parte tanto de La Casa de Papel como Elite: Jaime Lorente (que faz de Nano e Denver, respectivamente), María Pedraza (Marina e Allison Parker) e Miguel Herrán (Christian e Rio) — os dois últimos pouco participam nesta segunda temporada.
Ainda que o Netflix não tenha por hábito divulgar números oficiais de espectadores (e os números são dados pelo próprio serviço e não por empresas de audiências independentes), foi avançado que, nos primeiros meses após o lançamento da primeira temporada, a série foi vista por 20 milhões de contas, sendo que cada conta pode ser usada por vários utilizadores e cada episódio pode ser visto por mais do que uma pessoa.