Exposição
Zhanna transforma os azulejos em roupa — e está na Bienal de Veneza
Vestidos, calções, saias: desde 2014, Zhanna Kadyrova reinventa moda com azulejos de edifícios que viram o seu propósito inicial alterado. A artista ucraniana explora a relação entre arquitectura e azulejos, num projecto que baptizou de Second Hand e que é uma espécie de memória, construída através de analogias visuais. Este ano, as peças de Zhanna estão em exposição na Bienal de Veneza.
Foi em São Paulo, quando encontrou azulejos dos anos 70 do século passado em lojas de segunda mão, que Zhanna começou o projecto. Um ano mais tarde, já na Ucrânia, decidiu usar azulejos encontrados numa fábrica e depois, em Tchérnobil, fez um vestido para uma manequim a partir da cerâmica encontrada numa paragem de autocarro.
"A minha abordagem aos azulejos varia. Por exemplo, no projecto Second Hand, uso azulejos em segunda-mão retirados de paredes de diferentes edifícios e crio objectos na forma de roupa. Aqui, o azulejo não é só um material visual; é também sobre mudar a função dos edifícios que, tal como as roupas em segunda-mão, mudam de donos", explicou a artista ao blogue da feira de arte Pulse. Além das peças que cria, a artista fotografa-as no cenário de onde retirou os azulejos — seja da tal paragem de autocarro em Tchérnobil, da fábrica em Kiev, ou na garagem em São Paulo —, dando uma nova vida também ao espaço.
Zhanna tem nas tradições soviéticas uma referência importante: "Normalmente uso referências do período monumental da arte soviética, especialmente por usar directamente os mosaicos. Os azulejos eram frequentemente usados na União Soviética, porque eram um material barato. E eu continuo esta tradição", refere. Por isso, lamenta: "Há leis de descomunização que justificam a eliminação e destruição de monumentos do período soviético na Ucrânia, desde 20014. Eu vej0 isso como um processo bárbaro com o qual a comunidade cultural não só tem que lidar", como também "arquivar e proteger".