Excrementos e lixo: as marcas do autocaravanismo selvagem no Alentejo e no Algarve
O problema tem-se vindo a “agravar nos últimos anos”, dizem vigilantes da natureza. “Portugal não está preparado para o autocaravanismo”, contrapõe associação do sector.
Vestígios de fogueiras em pinhais, restos de lixo e de excrementos humanos são marcas do autocaravanismo selvagem, que os vigilantes da natureza querem combater nas zonas costeiras do Algarve e do Sudoeste Alentejano.
A praia do Amado, no concelho de Aljezur, distrito de Faro, e o pinhal do Beliche, no concelho vizinho de Vila do Bispo, são alguns dos pontos negros do autocaravanismo selvagem, disse à agência Lusa o vice-presidente da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza (APGVN), Marco Silva.
“É um problema que se tem vindo a agravar nos últimos anos e as várias entidades não têm feito o suficiente para minimizar o impacto negativo que existe”, apontou.
O problema do autocaravanismo selvagem, referiu, é visível por toda a região litoral do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina (Algarve), apesar de, nos últimos tempos, terem aumentado “a capacidade e os meios de fiscalização”.
O representante da APGVN relatou situações em que são encontrados pelos vigilantes vestígios de fogueiras em zonas de pinhais e restos de lixo, papel higiénico, garrafas e plásticos. “O areal também é usado como casa de banho. Vivemos numa era em que a sensibilidade das pessoas ainda é muito reduzida”, apontou.
Para este dirigente associativo, um dos principais problemas reside na dificuldade em “penalizar os infractores”, sobretudo aqueles que são de nacionalidade estrangeira. Nesse sentido, defendeu a necessidade de se alterar a legislação, de forma a prever que os infractores tenham de pagar as multas na hora.
A medida é defendida igualmente pelo major Ricardo Vaz Alves, do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA).“O auto é levantado, mas a tramitação não de faz sentir imediatamente nos próprios visados. Isso gera um sentimento de impunidade”, reconhece.
Segundo dados divulgados pela GNR, entre o início deste ano e o dia 27 de Agosto foram registadas em Portugal 206 infracções cometidas por caravanistas, a maior parte delas (98) ocorridas no distrito de Faro.
No segundo lugar da lista de infracções está o município de Leiria (49), seguindo-se Setúbal (29), a ilha de São Miguel, nos Açores (18), Beja (oito), Portalegre (três) e Castelo Branco (um).
No entanto, ressalvou Ricardo Vaz Alves, a tendência tem sido para uma redução do número de infracções, uma vez que o número registado em 2018 foi de 385 e em 2017 tinha sido de 417.
"Portugal não está preparado para o autocaravanismo"
A falta de infra-estruturas de apoio e de uma estratégia turística são alguns dos motivos evocados pela Associação de Caravanismo de Portugal (CDP) para o crescimento do autocaravanismo selvagem, sobretudo no Algarve e no Sudoeste Alentejano.
“Portugal não está preparado para o autocaravanismo. É um fenómeno para o qual Portugal não se preparou, ao contrário do sul de França, de Espanha, que criam áreas de serviço e regulamentam o autocaravanismo”, afirmou à agência Lusa Luís Teixeira, da CDP.
O representante acusa os municípios de não criarem infraestruturas legais de apoio ao caravanismo, optando pela “proibição pura e dura”.