António Capucho e dirigentes de Cascais trocam acusações

Concelhia de Cascais recusou readmissão de António Capucho no PSD. O antigo dirigente do PSD justifica que indicou aquela secção “para a inscrição e não qualquer outra” por ali residir há 70 anos. Mas não estranha decisão.

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Nuno Ferreira Santos

A concelhia de Cascais do PSD deu, na noite de quinta-feira, parecer desfavorável à admissão de António Capucho naquela secção. Capucho reagiu através de um comunicado, acusando os membros da estrutura social-democrata de “cobardia política”. O presidente da concelhia lamenta e diz que Capucho “perdeu o controlo” e que “entrar na calúnia é mau caminho.”

António Capucho foi expulso do partido em 2014, depois de ter apoiado a candidatura de Marco Almeida à Câmara de Sintra, o mesmo candidato que o PSD viria a apoiar quatro anos mais tarde para a mesma autarquia, na qual Marco Almeida já havia sido vice-presidente de Fernando Seara. Na passada segunda-feira, o PSD anunciou o regresso do militante histórico às fileiras do partido.

Antes de emitir um comunicado sobre o regresso do antigo militante, o secretário-geral dos sociais-democratas avisou a concelhia de Cascais, a estrutura em que Capucho sempre esteve integrado. Contudo, até quinta-feira ainda não tinha sido formulado qualquer pedido de admissão por escrito, como mandam os estatutos. Foi o próprio Rui Rio que, na noite quinta-feira, no debate com Assunção Cristas, na SIC, revelou que a notificação por escrito ainda não tinha seguido para Cascais. À hora em que Rio fez a revelação decorria a reunião da concelhia.

Manuel Basílio de Castro, presidente desta estrutura local do PSD, disse ao PÚBLICO estranhar que a notificação por escrito ainda não tivesse chegado, uma vez que este tipo de correspondência “tem lugar na primeira semana de cada mês”. Ainda assim, recusa fazer qualquer tipo “de processo de intenção”. “Apenas acho estranho e nada, mais”, afirmou.

Mesmo sem estarem na posse de qualquer informação por escrito, os 18 elementos da concelhia presentes na reunião da comissão política da noite passada decidiram por unanimidade dar um parecer desfavorável à reinscrição de Capucho naquela concelhia. E continuam à aguardar que a direcção do partido os notifique por escrito para, também por escrito, responderem a formalizar a recusa da refiliação.

"Traiu o PPD/PSD"

Na “moção de ética” aprovada pela concelhia, Capucho é acusado de ter traído o partido. “Bem sabemos que a memória em política costuma ser selectiva, mas importa recordar…. Não foi apenas uma candidatura deste cidadão contra o PPD/PSD. Foi, também, uma forte campanha por parte deste cidadão contra o nosso partido que culminou no ponto máximo de discursar numa convenção do PS a apoiar António Costa contra Pedro Passos Coelho. É claro que esse apoio, como se comprovou, não teve os efeitos desejados, dado que António Costa é actualmente primeiro-ministro, mas não venceu as eleições. Mas este cidadão esteve lá. Discursou, apelou ao voto. Traiu o PPD/PSD”, diz o texto a que o PÚBLICO teve acesso.

A nota acrescenta que o PSD quer “continuar a ser um partido aberto, plural, onde todos se sintam bem”, mas lembra não pode nem deve “perder o respeito” pelos valores e pela história do partido. “O respeito pelos nossos militantes que lutaram, e muito, nas eleições de 2015, pela vitória de uma coligação que governou Portugal num dos momentos mais difíceis da sua história. É por esses militantes e pelos portugueses que confiam no nosso partido, que não merecem o desrespeito do regresso de quem foi apoiar o adversário, apenas, porque não gostava da liderança da altura. O PPD/PSD não pode ser um partido de amuos ou preferências”, salienta.

“Um partido sem regras é um partido sem ética, e, como disse um dia o saudoso Sá Carneiro: ‘a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha’”, conclui.

Cobardia política

Quem não gostou do parecer desfavorável foi António Capucho e manifestou o seu desagrado num comunicado enviado logo na manhã desta sexta-feira aos órgãos de comunicação social. O antigo dirigente social-democrata acusa a concelhia ter tido um “manifesto gesto de cobardia política”, mas salientou “não estranhar a decisão”, por razões que por agora prefere não adiantar.

Considera ainda que a decisão é “extemporânea” pelo facto de o “processo entregue na sede nacional” ainda não ter sido “remetido à secção de Cascais”.

“Ignoro os fundamentos que têm obrigatoriamente de ser invocados para a recusa da minha admissão, escolhidos de entre os que constam no regulamento aplicável, mas não vislumbro que qualquer deles seja elegível”, diz Capucho, que nas eleições legislativas de há quatro anos apoiou António Costa e o PS.

O antigo vice-presidente do PSD, ex-ministro e ex-líder parlamentar do partido, afirma ainda que “nos termos do mesmo regulamento não se trata de uma decisão final, pois a recusa fundamentada seguirá para a comissão política distrital [Lisboa] e, se esta mantiver o parecer negativo, remete o processo ao secretário-geral e é a este que cabe decidir em definitivo sobre a admissão”.

António Capucho justifica por indicou a “secção de Cascais para a inscrição e não qualquer outra em que não tivesse qualquer dúvida sobre a emissão de parecer favorável” por ali residir há 70 anos.

O antigo dirigente lembra também que esteve na “génese da implantação do PPD no concelho, tendo presidido a várias comissões políticas concelhias em acumulação com o cargo de secretário-geral. “Aqui fui militante de base activo e aqui derrotei o PS nas eleições autárquicas em três eleições subsequentes, sempre com maioria absoluta”, acrescentou.

Manuel Basílio de Castro diz lamentar as palavras de Capucho no comunicado e só as consegue explicar como “uma perda de controlo”, acrescentando que “entrar na calúnia é um mau caminho”. “Fico triste”, disse ao PÚBLICO.

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