Braga. Também há espaço para a comunidade numa Noite Branca que atrai multidões

Os bombos e as guitarras braguesas vão-se aliar aos sons produzidos a partir das mais recentes tecnologias em Circuito, o espectáculo comunitário que vai inaugurar a oitava edição da Noite Branca, que espera atrair a Braga cerca de 500.000 pessoas.

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Em construção desde Maio, a performance Circuito vai inaugurar a Noite Branca de 2019, às 21h30 desta sexta-feira

A Noite Branca ocupou as ruas de Braga pela primeira vez em 2012 e parece, desde então, ser incapaz de parar de crescer, atendendo ao número de participantes: depois de ter acolhido 80.000 pessoas no primeiro ano, o evento recebeu, em 2018, 500.000, número que espera repetir na edição de 2019, que se prolonga de sexta-feira a domingo.

Com uma programação que se reparte pelo espaço público e também por museus e edifícios históricos da cidade bimilenar, a Noite Branca concentra sempre muita gente junto ao palco da Praça do Município, para os concertos nocturnos. Nas próximas três noites, vão por lá passar nomes como Capitão Fausto, Luís Represas, Diabo na Cruz ou Sara Tavares. O primeiro espectáculo no local é, porém, feito a partir de Braga.

Em construção desde Maio, a performance Circuito vai inaugurar a Noite Branca de 2019, às 21h30 desta sexta-feira. Composto por 110 pessoas do concelho ou da região, mais velhas ou mais jovens, o espectáculo procura fundir duas faces da cultura bracarense: a tradicional, com bombos, guitarras braguesas e cavaquinhos, e a moderna, com sons produzidos em computadores e sintetizadores. A obra inclui ainda um coro, uma componente visual e mistura pessoas sem qualquer experiência musical com músicos profissionais, explicou ao PÚBLICO o director artístico do espectáculo, Ricardo Baptista, do colectivo Ondamarela.

Prestes a subir ao palco, a “orquestra”, disse o responsável artístico, começou a ser formada com a gravação de sons criados pelos vários grupos, em momentos separados, e reuniu-se na última semana para interligar as “camadas de coisas” que foram surgindo. O resultado, prometeu, vai ser “uma coisa que nunca antes foi ouvida” e que “nunca será ouvida depois”, pois uma eventual reconstituição da obra terá nuances diferentes. “Nunca serão as mesmas pessoas e nunca estarão da mesma forma em palco”, declarou.

Habituado desde 2015 a realizar projectos comunitários, alguns deles com o GNRation, espaço cultural de Braga, Ricardo Baptista considerou que a performance evoca o seu título, Circuito, com a “abertura à experiência e a novas ligações entre as pessoas”. Essa metáfora é, no seu entender, ainda mais pertinente numa fase em que a cidade aposta nas artes multimédia e promove a tecnológica com veículo para fazer “circular cultura e informação”.

Além de servir de inauguração à Noite Branca, o espectáculo de sexta-feira vai também marcar o arranque do serviço educativo da plataforma Braga Media Arts. Programadora nessa plataforma, Sara Borges explicou que a performance tenta captar a essência da Braga de hoje, moderna e simultaneamente tradicional.

Dos públicos que vão subir ao palco, a responsável realçou dois grupos com alguma iniciação à criação de música em novas tecnologias: uma espécie de orquestra com computadores portáteis e tablets formada por utentes de um lar de terceira idade e o projecto 0+1=Som, destinado a todas as escolas do 1.º Ciclo de Braga. Ainda de férias, algumas das crianças vão participar, através de vídeos de sessões gravadas nas salas de aula.

A presença das artes multimédia durante a Noite Branca vai também notar-se em iniciativas como os Laboratórios de Verão, do GNRation, que apoiou quatro projectos multimédia, exibidos em vários espaços da cidade.

Um frenesim de vozes

A oitava edição da Noite Branca vai dar palco às comunidades de Braga, mas não retira necessariamente espaço a iniciativas desse cariz, oriundas de outros locais; exemplo disso é a apresentação de um coro espontâneo pela cooperativa Frenesim, do Porto. Com quatro apresentações previstas, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e no Theatro Circo, o espectáculo vai ser sempre diferente, porque as pessoas que o vão compor serão diferentes. “Tanto podemos fazer isto com 200 pessoas, como com poucas”, disse ao PÚBLICO José Figueiredo, que coordena o projecto com Rita Campos Costa. “Poderemos ter algumas pessoas do nosso coro regular, mas os intérpretes do coro podem e devem mudar”.

A tarefa de quem vai subir ao palco é interpretar clássicos da música rock, como Riders on the storm (The Doors), I want to break free (Queen) ou I get around (Beach Boys), mas não há qualquer ensaio. Mais do que interpretar as músicas, o objectivo da Frenesim é “criar uma comunidade que faz algo, à partida, impossível de acontecer”.

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