Arquitectura
Duas irmãs, duas casas e uma história familiar
Um terreno, dois volumes: Twin Houses (Casas Gémeas, em português) é o nome do projecto concebido pelo gabinete Extrastudio, que concretizou o desejo de duas irmãs em renovarem uma casa de férias pertencente à mãe e construir um lote com dois volumes. “As casas reflectem o carácter das pessoas, mais propriamente das duas irmãs”, cujo objectivo foi, segundo o arquitecto João Ferrão, “conjugar duas famílias bastante alargadas, em dois volumes”.
Num terreno localizado em Sesimbra — dividido em dois volumes, um para seis e outro para cinco pessoas —, as duas clientes mostraram vontade em transformar uma casa construída nos anos 60 numa casa de férias, de modo a poderem reunir as famílias e amigos no Verão. Tal como as irmãs – que não são gémeas –, “as casas têm uma linguagem comum, mas depois expressam-se de forma ligeiramente diferente”, explicou o arquitecto ao P3. Estes volumes gémeos partilham as mesmas propriedades e dimensões, mas cada um faz questão de se expressar de forma diferente: um é mais alto, mais exposto à paisagem e mais ligado ao mar, e o outro é mais recolhido, horizontal e procura uma relação mais íntima com o terreno envolvente.
Além disso, uma vez que esta é uma propriedade para férias, os arquitectos quiseram “fazer casas descontraídas, onde as pessoas podem reunir a família e os amigos”. Neste sentido, construiu-se uma moradia com 250 metros quadrados que se destaca pela “simplificação dos materiais”. De forma a “desacelerar as pessoas” da azáfama do dia-a-dia, o interior dos dois volumes é monocromático – uma cor idêntica à terra circundante – e “constituído apenas por betão e estuque”, revelou João Ferrão.
Num espaço onde convivem quase três gerações, os arquitectos tentaram conferir “uma espécie de liberdade de possibilidades”, no sentido em que “há cantos na casa para cada uma das pessoas”. Com uma atmosfera própria, a casa não tem ainda Internet nem televisão, de modo a ser um local em que “as pessoas se afastam da realidade quotidiana”, ao mesmo tempo que se preparam para “receber amigos”. Tem, contudo, um pátio que permite o convívio entre a família e os amigos.
Também a relação com a encosta foi “muito importante”, considera João Ferrão, uma vez que se pretendia projectar uma moradia “que fizesse parte da natureza em certa medida”, daí a cor da casa, os materiais utlizados e a forma como a propriedade se dissolve na paisagem. A cobertura, por sua vez, “traz uma mais-valia de arrefecimento, porque há um isolamento térmico maior”, frisou.
João Ferrão, que trabalhou neste projecto com João Ribeiro, Madalena Atouguia, Daniela Freire, Maria João Oliveira, Sónia Oliveira, Tiago Pinhal, Rui de Jesus, Rita Rodrigues e Sonia Hernansanz, conseguiu “integrar as casas na encosta da forma mais perfeita possível”. Para o arquitecto, “o maior desafio foi construir sem destruir a paisagem, fazendo uma casa que pertencesse verdadeiramente ao local”, aqui fotografada por Fernando Guerra.