A tabuada escondida de António Costa
Costa será de novo primeiro-ministro. Só falta saber se terá votos suficientes para enviar o PCP e o BE para a oposição. Essa é a questão para Costa e o PS – ter ou não ter todo o poder.
Às vezes as coisas são mais simples que aquilo que parecem. Quando Costa destronou Seguro e se candidatou a secretário-geral para o PS ser o partido mais votado, tal não aconteceu. Quem teve mais votos foi a coligação do PSD com o CDS. A essas eleições o PS concorreu com um programa, o BE e o PCP cada qual com o seu.
Se o PS tinha um programa e negociou com o PCP e o BE, tal significou que teve de haver um ajustamento entre os vários programas, como sucede em qualquer acordo. Simples. Se ao cabo da legislatura as coisas correram bem a explicação reside no facto de PS, BE, PCP e Verdes terem adaptado em parte os seus programas e funcionarem com o objetivo de cumprirem o que acordaram. Dois e dois são quatro, é da tabuada.
Não se sabe (pode imaginar-se) o que seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no governo é de má memória, até para muitos socialistas…
Desde o Congresso do PS que uma série de dirigentes daquele partido têm vindo pedir à boca cheia a maioria absoluta. Se não fosse esse o desígnio do líder certamente que não seriam tantos a pedir o fim dos “constrangimentos”.
Por outro lado, o silêncio do líder poderá significar ficar a ver o que dá esta agitação das águas. Costa é muito hábil, gosta de treinar o campo de manobra, mas (há sempre um mas) a jogada é de tentar a maioria absoluta.
De repente passou a criticar os parceiros por causa dos programas de cada um, embora no debate com Jerónimo na SIC tenha deixado elogios ao PCP, o que se insere na sua bizarra manobra de obter o que quer, dando a entender que não é bem a maioria absoluta que quer, mas se lha derem…coitadinho, tem de aceitar.
Com base nos resultados dos acordos à esquerda dá ares de ter sido só o PS o obreiro do trabalho dos quatro partidos e empalma os louros.
Pedir, por vias subliminares, ao país uma maioria absoluta, dizendo que a não pretende, com a direita de gatas é o caminho para jogar à cabra cega com os eleitores.
A direita está derrotada. Fez tanto mal com o programa da troika que poucos portugueses a querem. Não tem quem seja capaz de apresentar alternativa aos acordos que deram sustento à legislatura que se mostrou bem mais estável que a de Passos/Portas/Cristas. Bem chamaram o Diabo e ele vai aparecer-lhes quatro anos depois com todo o esplendor no dia 6 de outubro por volta das 19h do tempo do meridiano de Greenwich.
Há na direita mais sábia quem queira impedir uma nova “geringonça” votando PS para este ter maioria absoluta e assim tentar evitar esse acordo com as esquerdas.
Nestas eleições o que vai ser decisivo são os votos no BE e no PCP. O PS já ganhou as eleições. Ninguém duvida dessa verdade. O que se não sabe é que votações vão ter os parceiros da “geringonça”. Se reforçarem as suas posições haverá de novo acordos. A chantagem à espanhola é manobra para encher o saco do PS e ameaçar com a instabilidade que ninguém consegue descortinar. Não houve em quatro anos.
Costa será de novo primeiro-ministro. Só falta saber se terá votos suficientes para enviar o PCP e o BE para a oposição. Essa é a questão para Costa e o PS – ter ou não ter todo o poder.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico