Paulo Rangel acusa Costa de ter discurso “perigosamente populista”
Eurodeputado do PSD atacou o primeiro-ministro ao intervir na Universidade de Verão. Acusou-o de governar Portugal como uma câmara.
O eurodeputado do PSD Paulo Rangel classificou hoje como “perigosamente populista” o discurso do primeiro-ministro, do PS e do Governo, e acusou António Costa de gerir Portugal como se ainda fosse presidente de Câmara.
Numa intervenção na Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide (Portalegre), Rangel fez uma comparação entre a forma de actuação do primeiro-ministro português na recente greve dos motoristas de matérias perigosas e a decisão do seu homólogo britânico, Boris Johnson, de suspender o Parlamento.
“Às vezes dá a sensação de que temos uma espécie de Boris Costa em Lisboa. Enquanto em Inglaterra se suspende o Parlamento, em Portugal quer-se extinguir um sindicato”, afirmou, acrescentando que até se pode discordar, “mas não liquidar” o sindicato.
Apontando o exemplo desta greve e da crise política à volta do tempo de serviço dos professores, o eurodeputado social-democrata centrou a sua crítica mais na forma como o Governo geriu estes problemas do que na substância das decisões.
“A forma como se dramatizou, como se apareceu a toda a hora na televisão: ora agora vai visitar a Protecção Civil, ora agora reúne com militares, ora agora faz conferência de imprensa, ora faz conselho de ministros extraordinário - isto é populismo e uma forma de distrair pessoas dos problemas”, acusou.
Paulo Rangel apelou à audiência de jovens que frequentam a Universidade de Verão do PSD que não cedam “aos cantos de sereia” de António Costa e disse encontrar semelhanças entre o actual momento político e as eleições de 2009, quando José Sócrates venceu, mas dois anos depois Portugal teve de pedir ajuda internacional.
“Aquilo que eu mais temo é que alguns portugueses não se apercebam que há grandes semelhanças entre 2019 e 2009, em que tudo parecia estar mais ou menos e as pessoas disseram ‘vamos continuar nisto’ e depois o resultado foi o que se viu. Os protagonistas são os mesmos, com mais dez anos, mais sabidos, mais experientes, mais populistas ainda, mas são os mesmos”, alertou, dizendo haver sinais de “uma espécie de sociedade de controlo”.
Rangel, que já foi candidato à liderança do PSD (perdeu para Passos Coelho em 2010), questionou qual o desígnio que o actual Governo tem para o país e acusou Costa de manter o país “contentinho”, num ramerrão.
“Ao fim de quatro anos de Governo, António Costa nunca deixou de ser presidente da câmara, é o presidente da câmara Portugal”, afirmou, considerando que o primeiro-ministro olha para o país como uma autarquia onde “se conhece os vizinhos, se trata dos transportes, se recolhe o lixo e de vez em quando há uma pequena festa ou um drama”. “Mas não há desígnio para Portugal”, lamentou.
Para Rangel, o país deve ambicionar um “Estado-atleta” – “que não é grande, mas é forte” – e pediu aos jovens presentes que não se deixem “adormecer” pela actual narrativa socialista e militem nos partidos de forma a reforçar a democracia representativa.
“Se fizermos isso teremos uma democracia madura e teremos condições de não sermos anestesiados nem adormecidos por este discurso que é um discurso perigosamente populista de António Costa, do PS e do seu Governo”, apelou.
Durante cerca de uma hora, o cabeça de lista no PSD nas eleições europeias de Maio falou sobre “O que se passa na Europa” e considerou que um dos problemas centrais é a tensão que se verifica entre a democracia representativa e a democracia directa.
“A grande tragédia política da Europa é a ascensão daqueles que criam nas pessoas a ilusão da democracia directa, a ilusão de que elas podem governar directamente todos os dias sem necessidade de qualquer representação e que podem dispensar os aparelhos políticos e, em particular, os parlamentos”, considerou.
Sobre a recente decisão de suspensão do parlamento britânico, o também vice-presidente do Partido Popular Europeu e do seu grupo parlamentar classificou-a como “altamente criticável” e representa a “maior crise constitucional no Reino Unido desde o século XVII”.
“O primeiro-ministro ordena a suspensão do parlamento e, na sua retórica, fá-lo em nome da vontade do povo, porque o parlamento é um obstáculo, uma força de bloqueio da vontade popular (…) Há aqui uma espécie de manipulação, do meu ponto de vista altamente criticável, talvez não inconstitucional, mas certamente um aproveitamento”, apontou, considerando ser “muito perigoso” quando um responsável político tenta manipular um problema em vez de se concentrar em resolvê-lo.