5 de Setembro é o dia dos portugueses no Festival de Veneza, mas e os outros?
A curta Cães que Ladram aos Pássaros, de Leonor Teles, e a longa A Herdade, de Tiago Guedes, chegam ao Lido no mesmo dia. Até lá, desfilam cineastas como Olivier Assayas e Steven Soderbergh, Hirozaku Kore-eda e James Gray... e Roman Polanski.
Dia 5 de Setembro é o dia dos portugueses no Festival de Veneza: a curta Cães que Ladram aos Pássaros, de Leonor Teles, passa na secção Horizontes (a secção que quer descobrir novos cinemas, e que em 2016 deu o prémio de interpretação a Nuno Lopes por São Jorge, de Marco Martins), A Herdade, de Tiago Guedes entra em competição na secção oficial – ali onde João César Monteiro foi premiado (Leão de Prata por Recordações da Casa Amarela, 1989; e Grande Prémio do Júri por A Comédia de Deus, 1995), onde Maria de Medeiros recebeu o prémio de Melhor Actriz (Três Irmãos, de Teresa Villaverde, 1994), onde Ossos, de Pedro Costa, teve o prémio de Melhor Fotografia (1997), onde Oliveira recebeu o Grande Prémio Especial do Júri (A Divina Comédia, 1991), e onde desde 2005 não havia um português a concurso.
É a partir desta selecção – em que figuram, ao lado do português Tiago Guedes, cineastas como Roman Polanski, Roy Andersson, Pablo Larraín, Olivier Assayas, Steven Soderbergh, Todd Phillips (um The Joker com Joaquin Phoenix que entusiasmou os programadores), Franco Maresco (a estreia no Lido de La mafia non è più quella di una volta está à ser trabalhada com cuidado para acolchoar uma previsível polémica italiana), Hirokazu Kore-eda ou James Gray – que um júri liderado pela cineasta argentina Lucrecia Martel escolherá o Leão de Ouro a 7 de Setembro.
O “barulho” antes dos filmes é, para não variar, a selecção Netflix: The Laundromat, de Steven Soderbergh, e Marriage Story, de Noah Baumbach. E ainda o facto de haver apenas duas cineastas a concurso: a saudita Haifaa Al-Mansour, com The Perfect Candidate, e a australiana Shannon Murphy, com Babyteeth. Roman Polanski é, para alguns sectores, a bête noire: a direcção do festival vê-se criticada por ter separado o cineasta e a sua obra da condenação por violação da adolescente Samantha Geimer, em 1978. E quando se sabe que o filme de Polanski, J’Accuse, reconstitui um escândalo político-judicial que sacudiu a França no final do século XIX e princípio do século XX, o caso Dreyfus, pode esperar-se agitação no Lido...
The Truth (ou La Verité) abre, esta quarta-feira, o festival. É a primeira vez que o universo delicado do japonês Hirokazu Kore-eda tem diálogos em inglês e francês e se abre a um elenco internacional encabeçado por Catherine Deneuve e Juliette Binoche. O encerramento caberá a The Burnt Orange Heresy, de Giuseppe Capotondi.
Como “acontecimentos”, sessões especiais fora de concurso, destacam-se uma nova versão que Gaspar Noé montou de Irreversível, agora cronológica e não “de trás para a frente” como a versão lançada comercialmente; o regresso a De Olhos Bem Fechados, de Kubrick, filme que abriu e gelou Veneza em 1999, com o documentário Never Just a Dream: Stanley Kubrick and Eyes Wide Shut, de Matt Wells; episódios da série The New Pope, de Paolo Sorrentino, com Jude Law como o Papa Pio XIII; State Funeral de Sergei Loznitsa, mergulho em arquivos da ex-URSS, material nunca visto dos três dias de funeral de Estaline; ou Citizen Rosi, de Didi Gnocchi e Carolina Rosi, documentário sobre Itália a partir do cinema de Franceso Rosi, o realizador de Salvatore Giuliano (1961), Le mani sulla città (1963), Il caso Mattei (1972) ou Lucky Luciano (1973), e pai de Carolina, co-realizadora.