A Romaria d’Alegria
É verdade que Costa estava tão inchado de alegria que lhe devia chocar o nome da padroeira. De facto, onde já se viu uma festa com nome de Agonia?
— Viste o Costa? Ele esteve cá.
A Vanessa continua em Viana do Castelo onde foi passar as Festas d’Agonia. Telefona-me todos os dias. Deu-lhe para isto.
— Não, por acaso não vi.
— Vai ver na televisão. Põe para trás.
— Mas o que é que se passa?
— O Costa quer mudar o nome da romaria. Diz que não é d’Agonia mas Alegria! A sério, não estou a delirar.
A Vanessa podia perfeitamente estar a delirar. As mais insuspeitas pessoas, aquelas que julgávamos minimamente racionais – dentro das possibilidades do ser humano que, já se sabe, são limitadas – deliram. Temos que conviver com o delírio. Faz parte.
— Deves estar a delirar, Vanessa!
— Fogo, não estou. Eu estava atrás do homem quando ele foi entrevistado para a RTP. Ouvi perfeitamente. Põe lá a televisão para trás. Foi as 11 da noite, segunda-feira.
Eu lá fui “pôr para trás” o noticiário da RTP-3.
A jornalista perguntou:
— Senhor primeiro-ministro, nos últimos dois anos não veio devido aos incêndios. Costuma andar por estas ruas. O que é que o traz cá nesta Agonia?
— Não, não é Agonia, é Alegria, é Alegria!
É verdade que Costa estava tão inchado de alegria que lhe devia chocar o nome da padroeira. De facto, onde já se viu uma festa com nome de Agonia?
— Já viste?
— Já.
— De certa forma, Costa tem razão. Que raio de nome para uma festa! Onde é que se foi desencantar uma santa com este nome? Se Costa quiser mesmo mudar o nome para romaria da Senhora d’Alegria eu apoio! O gajo do PS com quem eu agora ando também concorda. De resto, ele diz que sim a tudo o que o Costa diz, pensa ou sequer imagina. Mas neste caso tem razão.
— Isso não deve ser bem assim, Vanessa.
Costa estava exultante na romaria e a euforia, já se sabe, dá para tudo.
— O homem até devia estar cansado, às oito da manhã estava não sei onde por causa dos camionistas, a fechar a greve dos camionistas ou lá o que era. E depois aqui precisavas de ver. Ele não se cansa?
A Vanessa estava espantada porque desconhecia a força que a adrenalina do poder, uma droga dura, traz aos corpos.
— A sério precisavas de o ver ontem. E hoje de manhã parece que foi andar pela Estrada Nacional 2 e disse que a estrada era “uma fonte de inspiração para a nova etapa que vai iniciar em Outubro” porque é preciso “voltar às raízes para arrancar com mais força para o futuro”. O que é que se passa? Isto tem a ver com os camionistas? A inspiração da estrada? O homem agora inspira-se em estradas? As estradas são as raízes? Não estou a perceber nada.
— Começou a romaria d’Alegria. Vanessa, vai comer um bolo por mim àquela pastelaria que eu gosto muito e que não é o Natário.