Falta de combustível, comida e medicamentos: revelados cenários para “Brexit” sem acordo

Estudo confidencial do Governo britânico antecipa três meses de dificuldades, no caso de uma saída da UE sem acordo. Governo diz que o documento está desactualizado.

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Boris Johnson prometeu que o Reino Unido vai sair da UE a 31 de Outubro, com ou sem acordo epa/NIGEL RODDIS

Documentos oficiais divulgados este domingo pelo jornal britânico Sunday Times tecem cenários para uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem acordo. A decisão, dizem os documentos da operação Yellowhammer, vai implicar um período de três meses com escassez de combustível, alimentos e medicamentos, caos nos portos britânicos e uma “hard border” na Irlanda.

O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu que o Reino Unido vai sair da UE a 31 de Outubro, com ou sem acordo.

Dadas as dificuldades que se colocam a uma renegociação do acordo fechado com Bruxelas pela ex-primeira-ministra Theresa May nas dez semanas que faltam até 31 de Outubro, data prevista para o “Brexit”, a possibilidade de uma saída sem acordo parece a mais provável.

O Sunday Times publicou este domingo o que afirma ser um estudo confidencial do executivo sobre as consequências mais prováveis de sair sem acordo.

Segundo o relatório, uma saída abrupta pode levar à escassez de alimentos frescos e a perturbações “significativas” no fornecimento de medicamentos, que podem prolongar-se por seis meses.

É também possível que se verifique escassez de água, devido a possíveis interrupções na importação de químicos para o tratamento das águas.

O documento estima também que até 85% dos camiões que atravessam o Canal da Mancha “podem não estar preparados” para as formalidades das alfândegas francesas, o que provocaria longas filas que podem prolongar-se por dias e, consequentemente, graves perturbações no tráfego dos portos britânicos durante meses.

Cerca de 75% dos medicamentos chegam ao Reino Unido através do Canal da Mancha, o que “os torna particularmente vulneráveis a atrasos graves”.

Governo: documento está desactualizado

As dificuldades que se colocam ao Reino Unido em caso de “Brexit” sem acordo têm sido avaliadas regularmente em estudos académicos e de associações empresariais ou outras, mas têm sido repetidamente desvalorizadas e qualificadas de alarmistas pelos defensores da saída do país da UE.

O Governo britânico não respondeu a um pedido de comentário do jornal. Mas, citada pelo Guardian, uma fonte do gabinete do primeiro-ministro disse: “Este documento é de uma altura em que os ministros estavam a bloquear o que precisava de ser feito para nos prepararmos para deixar [a UE] e os fundos não estavam disponíveis. Foi alvo de uma fuga propositada por um ex-ministro numa tentativa de influenciar as discussões com os líderes da UE.” A mesma fonte disse que, entretanto, foram disponibilizados dois mil milhões de libras (2,2 mil milhões de euros) adicionais para fazer face a um eventual “Brexit” sem acordo.

O ministro para o “Brexit”, Steve Barclay, assinou este domingo a ordem que revoga a Lei das Comunidades Europeias de 1972, que determinou a adesão do Reino Unido à então Comunidade Europeia e transferiu toda a legislação da UE para o direito britânico.

A ordem produzirá efeito quando o Reino Unido formalizar a saída da UE.

Em comunicado, o Governo britânico qualificou a assinatura de “passo histórico” na recuperação do poder nacional sobre a legislação. “Estamos a assumir o controlo das nossas leis, como decidiram os britânicos no referendo de 2016”, lê-se no comunicado.

Barclay frisou ainda que este passo “é um sinal claro” para todos os britânicos de que “não há volta atrás” e que o país vai sair da UE a 31 de Outubro.

Notícia corrigida às 18h48. Corrigido valor para dois mil milhões de libras (e não dois milhões, como anteriormente referido).