Os desastres de Rui Rio

Começar uma liderança a sonhar em ser o parceiro preferencial do Governo PS não é lá muito ambicioso. O resto das desgraças pode atribuir-se ao facto de Rui Rio viver numa bolha e gostar disso

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As expectativas do PSD para as próximas eleições legislativas encontram-se neste momento no fundo do poço. Logo, pela teoria geral das expectativas, se o PSD conseguir sair do poço e chegar ao chão, o resultado será menos mau dentro do péssimo.

Se todos os líderes da oposição foram maus – é o cargo mais difícil do regime e Jorge Sampaio, António Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Ferro Rodrigues, entre muitos outros, passaram as passas do Algarve enquanto o ocuparam – Rui Rio é capaz de alcançar a taça de ser o pior deles todos. É evidente que as listas de deputados iriam sempre correr mal – desde o convite a cabeças de lista por serem jovens ou com pouca experiência em política até ao afastamento de adversários nada faria supor que este período fosse santo para o presidente do PSD.

Mas, infelizmente, a queda de Rio que as sondagens todas demonstram é a prova de que a sua estratégia quando chegou a líder da oposição, foi um descalabro. Rui Rio não conseguiu demonstrar que tinha um projecto para o país que não fosse fazer acordos de regime com António Costa. Essa estratégia serviu a Costa para o pretendido “recentrar” do PS depois de ter sido nomeado primeiro-ministro à conta de um acordo de incidência parlamentar com PCP e Bloco de Esquerda, mas não serviu a Rio, que se colocou num impensável papel de número 2 de Costa. De resto, o gabinete do primeiro-ministro fez questão de assinalar com pompa, circunstância e fotografia os acordos – com a coincidência interessante de não existir nada disso com os partidos com quem efectivamente Costa governou.

Essa ideia matricial da liderança de Rui Rio, a dos acordos de regime, seria suficiente para ditar a sua sentença de morte tendo em conta a “correlação de forças” e a esperteza de António Costa, que sabe mais a dormir que muitos políticos – e nomeadamente Rio - acordados. Na verdade, Rio nunca conseguiu explicar ao que vinha. Não queria reeditar o Bloco Central, que desde 1985, ano em que Cavaco Silva acabou com o governo PS/PSD liderado por Soares, foi abjurado pelas duas partes. O que Rio queria fazer era o que, nos idos 90, fez Marcelo: viabilizou orçamentos do governo minoritário de António Guterres à conta de ganhos de causa em algumas matérias – e matérias duras como o referendo ao aborto e o da regionalização. Existia um precedente, é verdade – só que fazer desse objectivo o alfa e o ómega de uma liderança colocava-o sempre em posição menor perante o PS e António Costa. Começar uma liderança a sonhar com ser parceiro preferencial do Governo PS não é lá muito ambicioso. O resto das desgraças pode atribuir-se ao facto de Rui Rio viver numa bolha e gostar disso – pode cair o Carmo e a Trindade que, do alto da sua arrogância, ele acha que será sempre ele a determinar a sua hora de falar. Infelizmente, os portugueses, que nunca perceberam ao certo o que Rio quer, decidiram ignorá-lo. Uma parte do seu partido também.

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